Fonte: Correio Braziliense via NOIMP FAB no. 144 de 23/05/2008
Governantes de 12 países se reúnem hoje em Brasília para assinar o termo de criação da Unasul. Bloco já nasce desgastado pela renúncia do secretário-geral e a polêmica sobre o conselho de defesa
Viviane Vaz
Da equipe do Correio
Os 12 chefes de Estado reunidos hoje em Brasília terão muito trabalho pela frente para consolidar o bloco batizado de União de Nações Sul-Americanas (Unasul), cujo tratado de constituição será assinado hoje no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. “A burocracia é o inimigo que precisamos vencer na região”, disse ontem o presidente do Equador, Rafael Correa. Mas não é só a burocracia. É a animosidade entre os líderes dos países-membros.
Antes mesmo de ser consolidada, a Unasul assistiu a duas renúncias: uma do Equador, para a Secretaria Geral da instituição, e outra por parte da Colômbia, para a presidência. O ex-presidente do Equador Rodrigo Borja, escolhido no ano passado para ocupar a Secretaria Geral da Unasul, pediu demissão do cargo por discordar da maioria dos 12 presidentes do bloco. Em entrevista coletiva em Quito, Borja explicou que, quando aceitou a Secretaria, há um ano, foi por sua “vocação integracionista”. No entanto, admitiu sua frustração ao comprovar que os países sul-americanos não aceitarão que a Unasul englobe a Comunidade Andina de Nações (CAN) e o Mercosul. Em sua opinião, o que será aprovado hoje é “um fórum, não um grupo orgânico”, que privilegiará a “teoria e a retórica das quais a América Latina já está cansada”.
O presidente do país que será sede da instituição (Equador), Rafael Correa, comentou que, provavelmente, teria feito o mesmo se estivesse no lugar de Borja. Outro percalço na Unasul foi quanto à presidência. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou o presidente colombiano para presidir o bloco, mas ele recusou. O posto deve ficar com o Chile. “Eu disse ao presidente Lula que considerava imprudente, neste momento, dadas as dificuldades com os presidentes da Venezuela e Equador, assumir a presidência da União Sul-Americana. Mas vou a Brasília para aprovar a Unasul”, afirmou Uribe. Além do colombiano, chegaram à cidade entre a noite de ontem e as primeiras horas de hoje os mandatários da Venezuela (Hugo Chávez), Bolívia (Evo Morales) e Equador. Apenas o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, será representado por seu vice, Rodolfo Nin Novoa.
Terrorismo
Uribe declarou ainda, na quarta-feira, não ser a hora de seu país integrar o Conselho de Defesa Sul-Americano, proposta do ministro de Defesa brasileiro, Nelson Jobim, que será apresentada hoje na cúpula. Uribe disse que “a Colômbia tem dificuldades para participar” do conselho. “Acreditamos em mecanismos como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e, além do mais, temos um problema, que é o terrorismo, e que nos faz ser muito cuidadosos na tomada dessas decisões.”
Os principais líderes dos partidos de oposição no Uruguai (Colorado, Nacional e Independente) também não apreciam a idéia de criação de um conselho de defesa na América do Sul e consideram “desnecessário” um novo bloco de integração. O presidente do Partido Nacional (Blanco), Jorge Larrañaga, acredita que a proposta “mantém o caminho de gerar mais burocracia desnecessária”, pois já existem outros fóruns como o Grupo do Rio e da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi).
A existência de conflitos, porém, pode ser uma motivação para formar blocos regionais bem-sucedidos, se houver vontade política. A União Européia (UE) foi criada a partir da iniciativa de dois países antagônicos nas duas primeiras guerras mundiais. A Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA), um dos embriões da UE, reuniu em 1951 a Alemanha e a França sob um propósito comum: favorecer a cooperação industrial e evitar novos conflitos. E hoje a burocracia de Bruxelas está longe de ser o inimigo da região.
Fonte: Zero Hora
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusou nesta sexta-feira os Estados Unidos de tentar frear o projeto de integração regional, pouco após sua chegada a Brasília para assinar o Acordo Constitutivo da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
Em declarações à imprensa no hotel onde está hospedado, Chávez disse que "sempre denunciará a pretensão imperialista do governo dos EUA, tentando gerar uma guerra na América do Sul, tentando frear os avanços deste projeto".
— Os maiores interessados no fracasso deste projeto (de integração) são os EUA — acrescentou Chávez, que veio de Caracas juntamente com o presidente da Bolívia, Evo Morales.
Antes da viagem, os dois chefes de Estado afirmaram considerar "histórico" o dia de hoje, quando será assinado o Acordo Constitutivo da Unasul, mecanismo integrado por Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.
Todos os chefes de Estado do grupo, com exceção do presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, viajaram a Brasília.
A sessão oficial está prevista para começar às 10h, mas antes, Chávez participará de um café da manhã de trabalho com Morales, o presidente equatoriano, Rafael Correa, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
EFE
Entenda melhor a Unasul |
O que é |
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É um bloco político e econômico nos moldes da União Européia (UE), com secretaria geral e conselhos formados pelos presidentes, ministros e delegados. Também servirá de fórum para discussão de temas de interesse comum aos países, dando início a um processo de integração que deverá contar com parlamento, moeda e tribunal comuns. |
Origem |
Teve início em 2004, quando representantes dos 12 países sul-americanos assinaram a Declaração de Cuzco, que fundava a Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa). O nome foi depois modificado para União de Nações Sul-Americanas. |
Estrutura |
Terá uma sede permanente em Quito. Sua secretaria geral coordenará encontros e produzirá documentos. O cargo de presidente da organização será rotativo |
Acordos |
Depois do tratado político, os países devem assinar novos acordos em áreas específicas. São estudados projetos na área de energia, infra-estrutura, financiamento, políticas sociais e educação. |
Economia |
Depois do tratado político, os países devem assinar novos acordos em áreas específicas. São estudados projetos na área de energia, infra-estrutura, financiamento, políticas sociais e educação. |
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