Uma risada para Dercy Gonçalves

por Daniel Piza blog do Estadão

Fiz em 1994 uma entrevista com Dercy Gonçalves, que morreu hoje aos 101 anos (ou 103, porque levou dois anos para ser registrada), e a partir dali passei a gostar mais dela do que já gostava. Sei de gente que ainda se chocava com aquela velhinha agitada falando palavrões, como se ela fosse apenas isso, mas Dercy tinha uma carreira única, na linha "Theda Bara sem trepar" (sic), e era a última representante da era do teatro de revista e do cinema de chanchada, tão ingênua e desaforada ao mesmo tempo. "Eu sou livre", me disse ela. "Não tem outra igual a mim. Ninguém tem mais moral que eu. E não falo para me acomodar: eu sou mesmo livre." Rainha dos improvisos safados, ela tirava seu humor do fato de que dizia aquilo que em determinados momentos todos querem dizer, mas não têm coragem. Era uma estrela às avessas.