Sueco tenta ficar de fora

Marcelo Rocha
Da equipe do Correio Brasiliense Via NOTIMP FAB: 207/2008 de 25/07/2008


Mais um na fila contra a Polícia Federal. O milionário sueco Johan Eliasch, dono da ONG Cool Earth e que ganhou notoriedade como comprador de terras na Amazônia, pretende enviar à corporação representação para que se apure o vazamento de informações coletadas durante a investigação que respaldou a Operação Satiagraha. Na edição de ontem, o Correio publicou diálogo captado pela PF em que o banqueiro Daniel Dantas e o publicitário Guilherme Sodré falam sobre um suposto vínculo societário entre o dono do Grupo Opportunity e o estrangeiro.

Em nota encaminhada ao jornal, Eliasch condenou “os últimos vazamentos tanto da Abin quanto da Polícia Federal referentes a alegações sem nenhum fundamento” sobre ele. O vazamento a que o sueco se refere é o Relatório de Inteligência Policial nº 16/2008, de 12 de junho, encaminhado à 6ª Vara da Justiça Federal de São Paulo, foro responsável pela Satiagraha.

O papel traz a transcrição de uma conversa de 5 de junho entre Dantas e Sodré. Eles falaram sobre Eliasch. Sodré contou o que pareceu ser uma novidade para quem o ouvia: “Você não sabia, mas você também é sócio de Johan Eliasch, como é o nome dele?” O banqueiro confirmou: “Johan Eliasch”. O publicitário prosseguiu: “Você é sócio dele. Por trás dele está você. Minha nossa senhora, o pobre do Daniel…”. E atribuiu o suposto vínculo a uma “arqueologia” de Carlos Rodemburg, outro investigado pelo delegado Protógenes Queiroz.

O sueco negou relação com Dantas e com o Grupo Opportunity: “Qualquer alegação ou inferência sobre a minha pessoa ser um ‘laranja’ de Daniel Dantas é absolutamente falsa e absurda. Nunca tive nenhum contato com Daniel Dantas e tampouco o conheço, como também não conheço Guilherme Sodré. Ademais, nunca tive nenhum negócio direta ou indiretamente com o Grupo Opportunity, com Daniel Dantas, com Guilherme Sodré ou com Carlos Rodemburg”.

Os negócios de Eliasch no Brasil motivaram um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que levantou indícios de fraude. A PF também entrou no caso depois da repercussão dos detalhes do documento da Abin, também vazado para órgãos de imprensa.

No inquérito da Operação Satiagraha, até por se tratar de um tema paralelo, não houve uma análise do diálogos entre Dantas e Sodré, mas a informação foi considerada relevante. Depois do setor telefonia, o dono do Opportunity resolveu diversificar os negócio e canalizou parte dos investimentos para a área rural e de mineração, principalmente no norte do país. Pelo segundo dia consecutivo, o advogado de Dantas, Nélio Machado, foi procurado pelo Correio, mas não retornou a ligação.

GREENHALGH NO SUPREMO

Ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo acesso aos autos da Operação Satiagraha, que prendeu Daniel Dantas. Greenhalgh fez consultoria para Dantas e foi flagrado em escutas telefônicas. O pedido do ex-deputado é de extensão da decisão do presidente do Supremo, Gilmar Mendes, de permitir ao senador Heráclito Fortes (DEM-PI) ter acesso às investigações. Fortes inclusive entrou com uma contra o delegado Protógenes Queiroz, que comandou a operação e queria vincular o senador a Dantas. O ex-deputado, no entanto, não foi indiciado porque sua atuação no grupo de Dantas será descrita em inquérito separado. Ontem, Humberto Braz, braço direito de Dantas, entrou no Superior Tribunal de Justiça (STJ) com um pedido de habeas corpus.