O Projeto Manhattan, ou formalmente Distrito de Engenharia de Manhattan, foi um esforço durante a Segunda Guerra Mundial para desenvolver as primeiras armas nucleares pelos Estados Unidos da América com o apoio do Reino Unido e do Canadá. O projeto foi dirigido pelo General Leslie R. Groves e a sua pesquisa foi dirigida pelo fisico estadounidense J. Robert Oppenheimer, após ter ficado claro que uma arma de fissão nuclear era possível e que a Alemanha Nazista estava também a investigar tais armas para si.
Embora tenha envolvido pesquisa e produção em treze locais diferentes, o Projecto Manhattan foi largamente desenvolvido em três cidades científicas secretas que foram estabelecidas por poder de domínio eminente: Hanford, em Washington, Los Alamos, no Novo México e Oak Ridge, no Tennessee.
A algumas famílias em Tennessee foram dados avisos de duas semanas para evacuarem as quintas e terras que possuíam há gerações. O laboratório de Los Alamos foi construído em terrenos que eram da Escola Rancho de Los Alamos, um colégio interno privado para rapazes. O sítio de Hanford, que cresceu para quase 1000 milhas quadradas (2600 km2), incorporava terras de algumas quintas e de duas pequenas aldeias, Hanford e White Bluff
O projecto trabalhava na concepção, produção e detonação de três bombas nucleares em 1945.
- A primeira em 16 de Julho: "Trinity", a primeira bomba nuclear do mundo, perto de Alamogordo, Novo México.
- A segunda, a arma "Little Boy" ("Pequeno Rapaz"), que detonou em 6 de Agosto sobre a cidade de Hiroshima, Japão.
- A terceira, a arma "Fat Man" ("Homem Gordo"), que detonou a 9 de Agosto sobre a cidade de Nagasaki, Japão.
Os três principais sítios existem hoje como o Sítio Hanford, Laboratório Nacional Los Alamos e Laboratório Nacional Oak Ridge. Em 1945, o projecto empregava cerca de 130.000 pessoas e o seu pico de custo perfazia um total de cerca de US$ 2 bilhões ($21 bilhões em 1996 [1]) Os bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaki mataram centenas de milhares de pessoas imediatamente, e muitos mais após alguns anos.
O Distrito de Engenharia de Manhattan
No Verão de 1942, Leslie Groves era deputado do chefe de construção para o Corpo de Engenheiros do Exército e tinha supervisionado a construção do Pentágono, o maior edifício de escritórios do mundo. Almejando um comando além-mar, Groves opôs objecções quando Somervell o incumbiu de liderar o projecto de armamento. As suas objecções foram rejeitadas e Groves demitiu-se da responsabilidade de liderar um projecto que julgava ter poucas hipóteses de sucesso.
A primeira coisa que Groves fez foi rebaptizar o projecto como O Distrito Manhattan (The Manhattan District). O nome evoluiu do costume do Corpo de Engenharia de renomear os distritos com o nome da cidade principal (o quartel-general de Marshall na cidade de Nova Iorque). Ao mesmo tempo, Groves era promovido a Brigadeiro General, o que lhe conferiu a graduação julgada necessária para lidar com os cientistas veteranos do projecto.
Cerca de uma semana após a sua nomeação, Groves tinha resolvido os problemas mais urgentes do Projecto Manhattan. A sua maneira de ser rigorosa e eficaz tornar-se-ia em breve familiar para os cientistas atómicos.
O primeiro grande obstáculo científico ao projecto foi resolvido em 21 de Dezembro de 1942, sob as bancadas de Stagg Field na Universidade de Chicago. Imediatamente, uma equipa liderada por Enrico Fermi iniciou a primeira reacção nuclear em cadeia auto-sustentada. Uma chamada telefónica encriptada de Compton, dizendo "O navegador italiano (referindo-se a Fermi) aterrou no novo mundo", para Conant em Washington, DC, trouxe a notícia de que a experiência tinha sido um sucesso.
Em junho de 1945, os cientistas do Projeto Manhattan trabalharam duro com o objetivo de testar os resultados de aproximadamente três anos de trabalho exaustivo. O local escolhido para o teste da primeira bomba atômica foi o Deserto de Alamogordo, no Novo México, numa área batizada de “Trinity”. Na madrugada do dia 16 de julho de 1945, ocorreu o primeiro teste nuclear da história. O deserto ficou iluminado com a claridade de mil sóis. Quem presenciou os testes, principalmente os cientistas envolvidos, ficou perplexo. Openheimer, o pai da bomba atômica, comentou o evento com as seguintes palavras: “Algo nos dizia que, a partir daquele instante, a vida não seria a mesma. Recordo que nesse momento pensei em um texto sânscrito que havia lido certa vez em Berkeley: ‘Agora, converti-me em companheiro da morte, em destruidor de mundos’”. (A Segunda Guerra Mundial. vol. XII. p. 256)
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O dispositivo atômico sendo posicionado para o primeiro teste nuclear em Alamogordo, Novo México, 1945. | Explosão em Los Alamos, no Deserto de Alamogordo, Novo México, no dia 16 de julho de 1945. |
Em meados de 1945, depois de os testes no Novo México terem sido bem-sucedidos, os EUA tornaram-se o país detentor do monopólio da produção da bomba atômica. Não demorou muito para que essa arma fosse testada em uma situação real, em uma cidade de verdade. Em 25 de julho de 1945, o presidente norte-americano Harry Truman ordenou o ataque ao Japão. Em 6 de agosto de 1945, a cidade de Hiroshima entraria para a história de maneira trágica: seria a primeira do mundo a sofrer um ataque atômico contra uma população civil.
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Coronel Paul W. Tibbets Junior, piloto do Enola Gay, o avião que soltou a bomba atômica em Hiroshima, acenando da cabine antes da decolagem, em 6 de agosto de 1945. | Little Boy, a bomba que foi lançada sobre Hiroshima, provocando a destruição da cidade, em agosto de 1945. |
O B-29 Enola Gay depois do ataque a Hiroshima, em 8 de junho de 1945. Crédito: Nara — US National Archives and Records Administration |
O Projeto Manhattan para a construção da bomba atômica
Em agosto de 1939, o físico Albert Einstein, convencido por outros colegas cientistas, enviou uma carta ao presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, alertando-o sobre a possibilidade de se construírem bombas de grande magnitude, até então nunca vistas, e sobre o risco que o país corria de perder a corrida armamentista disputada com a Alemanha se não as produzisse. Assim, dava-se o passo inicial para a criação da arma mais letal que já foi utilizada em uma guerra, em que os EUA seriam pioneiros.
Enquanto a Segunda Guerra Mundial se desenvolvia nas suas mais diversas frentes, em laboratórios secretos localizados em territórios das principais potências envolvidas no conflito, outra guerra estava sendo travada: era a corrida tecnológica e armamentista. Cientistas dos EUA, sob o comando de militares, em um laboratório no Deserto de Los Alamos, trabalhavam fervorosamente para desenvolver a bomba atômica antes dos pesquisadores alemães. Eles faziam parte do Projeto Manhattan, iniciado em setembro de 1942, talvez o maior projeto científico do século XX, que custou mais de 20 bilhões de dólares aos cofres públicos norte-americanos e reuniu grandes cérebros, como Niels Bohr, Enrico Fermi e Robert Oppenheimer.
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Robert Oppenheimer, físico nuclear e cabeça do Projeto Manhattan. | Em 2 de dezembro de 1942, o prêmio Nobel Enrico Fermi, físico ítalo-americano, foi o primeiro a conseguir uma reação em cadeia controlada da fissão nuclear e integrou o grupo que pesquisou sobre a bomba atômica. |
Por que a bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima e Nagasaki?
Desde que ocorreu o bem-sucedido teste em Los Alamos, o presidente dos EUA — na época, Truman —, acreditava ter uma arma que poderia acelerar o fim da guerra. E realmente tinha.
As campanhas no Pacífico já haviam gerado um grande número de baixas de soldados americanos, e as chances de uma vitória rápida utilizando os meios até então conhecidos eram poucas. O conflito prometia ser longo e difícil: a resistência dos soldados japoneses era grande, pois não abririam mão de seu território, mesmo que isso custasse suas vidas. A guerra já se arrastava por quase seis anos, e era necessário acalmar também a opinião pública estadunidense, que já estava farta de guerra.
Em 25 de julho de 1945, o presidente dos EUA, Harry Truman, ordenou o ataque ao Japão. Ele pretendia forçar uma rendição testando sua mais nova arma. As cidades escolhidas para a ação foram Hiroshima e Nagasaki, pois ambas não haviam sido bombardeadas pelos famosos B-29 em nenhum momento da guerra, diferentemente de Tóquio, que tinha sido arrasada. Os habitantes das duas cidades até mesmo viviam na expectativa de um bombardeio, mas não esperavam servir de cobaias para a arma mais letal inventada até então.
Depois desses terríveis bombardeios; em 2 de setembro de 1945 foi assinada a rendição do Império do Sol Nascente. Era o fim da Segunda Guerra Mundial. Depois de seis anos de guerra, chegava-se à paz, mas a um preço muito alto. Em Hiroshima, cerca de 68 mil pessoas morreram na hora da explosão; e 70 mil, nos anos seguintes. Em Nagasaki, foram mortas 38 mil pessoas; e 35 mil, nos dias subseqüentes.
Os efeitos da bomba atômica nos seres humanos
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Paciente que sobreviveu ao ataque atômico mostrando a pele queimada, que apresenta o desenho do quimono que ela usava na hora da explosão. | Efeitos do calor e da radiação nas pessoas. Japão, 1945. |
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Efeitos do calor e da radiação nas pessoas. Japão, 1945. |
O pós-guerra
Durante a Segunda Guerra Mundial, URSS e EUA foram aliados no combate ao nazismo e ao fascismo. Essa aliança, mesmo que delicada, perdurou até o fim da guerra. O término do conflito acabou colocando socialistas e capitalistas em campos opostos, dando início a um período que ficou conhecido como Guerra Fria. No mundo bipolar do pós-guerra, EUA e URSS disputavam a supremacia econômica, ideológica, política e bélica. A bomba atômica passou a ser um símbolo de poder que a URSS também precisava possuir. Enquanto os EUA, em julho de 1946, realizavam novos testes visando a aperfeiçoar suas armas nucleares; em agosto, a URSS explodia sua primeira bomba atômica no Casaquistão. As informações para a construção dessa arma haviam sido roubadas dos EUA pelo cientista alemão Klaus Fuchs.
Na década de 1950, o governo norte-americano autorizou a realização de novas pesquisas; dessa vez para o desenvolvimento da bomba de hidrogênio, com um poder muito maior de destruição que as lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki. Em 1952, os EUA fizeram o primeiro teste desse tipo de bomba, nas Ilhas Marshall, no Pacífico. Três anos depois, era a vez da URSS testar sua primeira bomba de hidrogênio. As pesquisas continuaram de ambos os lados e, em 1962, a chamada “crise dos mísseis” (que envolveu URSS, Cuba e EUA) quase gerou um conflito nuclear. Era hora de frear o ritmo da corrida atômica, que poderia levar o mundo à destruição.
Um dos maiores freios ao avanço nuclear foi a assinatura do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, em 1968, que contou com a adesão de cinco potências atômicas (EUA, URSS, Reino Unido, França e China) e também de países que não possuíam arsenal nuclear. Estes, para firmar o tratado, receberam algumas garantias: as grandes potências começariam o desarmamento, não iriam transferir armas atômicas para nações desnuclearizadas e, também, partilhariam a tecnologia do uso civil da energia nuclear. Hoje, fazem parte do acordo 188 países. Entre as nações que não assinaram esse tratado, estão Israel, Paquistão, Índia e Coréia do Norte. Outro acordo marcante foi realizado em julho de 1991 entre o presidente H. W. Bush e Mikhail Gorbatchev: o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start-1), em que EUA e URSS se comprometeram a remover metade das ogivas estratégicas.
Com esses e outros acordos, os arsenais norte-americano e russo foram aos poucos diminuindo. Os EUA, no auge da Guerra Fria, possuíam 32 mil ogivas nucleares; hoje têm 10 mil. Já a antiga URSS, que naquela época possuía cerca de 45 mil ogivas; hoje, como Rússia, tem cerca de 16 mil.
Atualmente, quando se pensa em ameaça nuclear, há temores quanto à situação de dois países: Coréia do Norte (que se acredita possuir um arsenal de seis a oito ogivas) e Irã (que se suspeita estar produzindo armas atômicas). Mas esse não é o pior dos riscos; um mal maior que nações conseguirem um arsenal nuclear está em terroristas obterem matéria-prima suficiente — 15 quilos de urânio enriquecido ou 4 quilos de plutônio — para construírem uma bomba atômica. Espera-se que qualquer tentativa vinda da parte deles seja malsucedida. Infelizmente, a “Caixa de Pandora” aberta em 1945 ainda assusta pelos males que causou.
Paineis de controlo e operadores em Oak Ridge. Durante o Projecto Manhattan os operadores, maioria mulheres, trabalharam em turnos.
O Projeto Manhattan, iniciado em 1942, baseava-se na teoria simples, mas não comprovada, de que, se uma massa de 235U ou de plutônio superasse certo valor, explodiria com uma violência devastadora.
Tudo dependia, portanto, da criação dessa massa crítica. Também dependia da possibilidade de se criar essa massa crítica quase instantaneamente, pois a reação em cadeia não leva mais que um milionésimo de segundo para completar-se. Se a criação da massa crítica fosse muito lenta, só se poderia conseguir uma liberação parcial de energia.
Parte fundamental da pesquisa científica necessária para o Projeto Manhattan foi realizada em Los Alamos, Novo México, no centro de pesquisa estabelecido em março de 1943, sob direção de Julius R. Oppenheimer.
No início, os seus membros eram americanos, mas posteriormente, de acordo com as cláusulas do acordo de Quebec, também participavam cientistas britânicos. (...) em julho de 1944, quando já se dispunha do primeiro lote de plutônio para provas, tornou-se patente que o risco de detonação prematura era muito grande.
Isso causou um grande desânimo, porque todo o vasto projeto de produção de 235U e de plutônio não servia para nada se não fosse possível obter as condições necessárias para a detonação. Portanto, a atenção centrou-se em uma técnica alternativa de implosão. (...)
Entretanto, em condições de combate, a bomba, ao contrário, tinha de ser lançada por um avião B29 e detonada sobre território inimigo em hora e altura predeterminada. Existem, portanto, importantes restrições quanto ao tamanho e ao peso: cada bomba pesava de 4000 kg a 4500 kg e tinha 3 metros de comprimento. A principal diferença era o diâmetro: o da bomba de 235U era de 70 cm, enquanto o da bomba de plutônio era de 152 cm. (...)
A velocidade e a magnitude de desenvolvimento do Projeto Manhattan foram impressionantes; o projeto resultou em triunfo tanto para a administração quanto para a ciência e a tecnologia.
Só em Hanford, por exemplo, havia 25 mil homens trabalhando no verão de 1943 e, para alojá-los, foi necessário construir 175 barracões. O ponto culminante foi no dia 16 de julho, quando se deu a primeira explosão atômica na zona de provas de Alamogordo, em Novo México, a uns 250 km ao sul de outro grande campo cientifico, o de Los Alamos, onde foram construídas as bombas.
A energia liberada na explosão foi equivalente à liberada na explosão de 20 mil toneladas de TNT. Foi um momento crucial, pois até então ninguém podia assegurar o sucesso. Como já se explicou, a natureza da bomba atômica não permite avançar nas pesquisas por meio de modelos de pequena escala; forçosamente, era tudo ou nada.
Dez dias depois, o presidente Truman, sucessor de Roosevelt havia apenas três meses, deu um ultimato de rendição ao Japão. Tendo sido desprezado, no dia 6 de agosto de 1945, lançou-se sobre Hiroxima uma bomba atômica baseada no 235U; três dias depois, lançou-se sobre Nagasáqui uma bomba baseada no plutônio. No dia 14 de agosto, o Japão se rendeu, pondo fim a uma guerra que tinha convulsionado o mundo inteiro durante seis longos anos.
O custo foi de arrepiar: 120 mil mortos nessas duas grandes cidades e conseqüências imprevistas e realmente imprevisíveis a longo prazo. A decisão de empregar a bomba contra o Japão continua sendo considerada muito controvertida, sendo mais sensato deixar aos historiadores do futuro a tarefa de julgá-la desapaixonadamente.
No restrito presente contexto, nada se pode fazer, a não ser assinalar agosto de 1945 como um ponto de inflexão: de repente, o mundo inteiro tornou-se consciente de que a tecnologia, independentemente de ser utilizada para o bem ou para o mal, podia alterar, de forma dramática, o curso da história.
Filme sobre o assunto:
Fonte: USP
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