O Anuncio da rendição incondicional do Japão às forças aliadas.

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Fonte: http://www.geocities.com/Pentagon/Quarters/3415/rend2.html.

Faltava pouco para a meia-noite de 9 de agosto de 1945 quando o Conselho Supremo do Japão iniciou uma nervosa reunião no Palácio Imperial. Era o segundo encontro no mesmo dia, para tratar da mais deliacada questão que envolvia o país na Segunda Guerra: decidir pela rendição.


O encontro tinha como pano de fundo o temor de uma devastação sem precedentes na histário japonesa -- os Estados Unidos já haviam despejado duas bombas atômicas sobre o país, a primeira havia três dias, sobre Hiroshima, a segunda horas antes em Nagasaki, e os estrategistas previam que Tóquio seria o próximo alvo em pouco tempo.

No dia anterior uma outra bomba havia explodido nas mãos da diplomacia nipônica, a declaração de guera da União Soviética. Ao redor da mesa ministros e chefes do Estado Maior da Guerra e da Marinha, além do velho almirante Kantaro Suzuki, primeiro-ministro, ouviram a palavra de um semideus, o Imperador Hirohito, filho da Deusa do Sol, que pela primeira vez sentava-se à mesa para tratar de assuntos até então delegados aos súditos. Hirohito começou censurando os militares que lhe prometeram vitórias arrasadoras e só trouxeram derrotas desmoralizantes, que levaram o Japão ao colapso pelo esforço de guerra. Lembrou que o país estava sem armas, sem recursos naturais, com linhas de comunicação e abastecimento cortadas, a população desabrigada e esfomeada, milhões de mortos.

Foi a introdução para defender a paz imediata. O documento de rendição, elaborado por um grupo de ministros indicados pelo Imperador, foi apresentado às 3 horas do dia 10 e aceitava os termos da Declaração de Potsdam, com uma única condição: as perrogativas do soberano Hirohito, como Imperador, não seriam afetadas.

A resposta dos norte-americanos chegou no dia 12 e era categórica: "A partir da rendição a autoridade do Imperador ficará subordinada à do comandante-chefe das Forças Aliadas". Embora a decisão dos Estados Unidos tenha sido um golpe na soberania japonesa, foi a fórmula encontrada pelo secretário de Estado americano, James Byrnes, para evitar o julgamento de Hirohito como criminoso de guerra e ao mesmo tempo permitir a manutenção da monarquia no Japão.

A decisão do Imperador, entretanto, provocou mal estar entre os militares, que insistiam em resistir pela força. Desde o momento em que anunciou a intenção de pedir a rendição, na madrugada do dia 10, até o dia 14, quando em uma nova reunião do Conselho Supremo voltou a defender a paz, dizendo compreender os sentimentos patrióticos dos militares, mas lembrando que tinha o dever de salvar a nação, Hirohito tentou contornar o início da crise.

Não teve sucesso. À noite estourou uma rebelião. Grupos de oficiais dos ministérios da Guerra, Estado Maior e da Divisão da Guarda Imperial passaram a matar aqueles que defendiam a rendição, acreditando que eles haviam passado ao Imperador informações falsas sobre o cenário real da guerra, levando-o a tomar uma decisão distorcida. Um grupo de oficiais tentou impedir que as rádios japonesas transmitissem o pronunciamento de Hirohito à população, informando que havia aceitado a rendição incondicional.

Só após a rápida e eficiente intervenção da Guarda de Tóquio a manifestação foi contida. Às 17 horas do dia 15 de agosto a população japonesa se reunia em volta de aparelhos de rádio, em todo o país, para ouvir uma voz desconhecida. O filho da Deusa do Sol começou a falar. A linguagem era formal, mas todos entenderam o recado: o Imperador queria o fim da guerra, a aceitação da derrota, da humilhação e da ocupação. "Depois de termos ponderado profundamente (...), oredenamos ao nosso governo que comunicasse aos governos dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, China e União Soviética que aceitamos os termos de sua declaração conjunta", disse o Imperador. "Sabemos muito bem quais são os sentimentos mais íntimos de todos vós, nossos súditos (...). Entretanto, é de conformidade com os ditames do tempo e da sorte que resolvemos preparar o caminho para a grande paz de todas as gerações vindouras, importando em inevitáveis sofrimentos e em padecer o insuportável". Hirohito encerrou o pronunciamento enfatizando a esperança: "Uni totalmente vossa força para devotar-vos à construção do futuro. Cultivai o caminho da retidão. Fomentai a nobreza do espírito e trabalhai com resolução para que possais encarecer a glória inata do nosso espírito imperial e preservar a paz com o progresso do mundo".

O discurso provocou um clima de desespero. Líderes militares rebeldes praticaram o haraquiri, kamikazes jogavam seus aviões na baia de Tóquio, enquanto pilotos da base de Atsugi davam vôos rasantes sobre o Palácio Imperial, atirando panfletos que denunciavam os traidores e convocavam as pessoas à luta até o extremo.

A reação levou Hirohito a enviar quatro integrantes da família real até as bases do exército no exterior, uma forma de garantir a obediência à capitulação. Na manhã do dia 2 de setembro o Japão estava pronto para a hora da verdade. A delegação chefiada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Mamoru Shigemitsu, chegou ao encouraçado Missouri, ancorado na baia de Tóquio, para a assinatura do termo de rendição. No tombadilho do navio uma mesa forrada por um pano verde guardava os documentos.

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MacArthur na cerimónia de rendição japonesa a bordo do 'Missouri' perante representantes

de todas as nações envolvidas na Guerra do Pacífico.

Alguns japoneses choravam. Foi a senha para o general Douglas MacArthur, que liderava a comitiva de representantes de países vencedores, quebrar o protocolo e fazer um rápido discurso. Falou da paz restaurada, repudiou o espírito de "desconfiança, malícia ou ódio", colocou vencedores e vencidos em condição de igualdade e pediu um esforço comum para restabelecer a dignidade humana. A guerra terminou.


MacArthur passou a chefiar, então, um governo militar imposto pelos vencedores, que se prolongou até 1951, com o propósito de reconstruir o país e devolvê-lo à vida democrática. Somente em 1951, com a assinatura do documento final da Conferência de São Francisco, nos Estados Unidos, que teve como signatários todos os aliados do bloco capitalista -- a URSS se recusou a participar da reuinião de cúpula --, a paz com o Japão foi definitivamente restaurada. Os Estados Unidos, então, já estavam preocupados com outras questões no cenário político internacional, como a vitória de Mao Tsé-Tung na China, a Guerra Fria e a Guerra da Coréia.

Assim terminou a maior tragédia mundial que a loucura do nazi-fascismo levou a todos os continentes.

Recordar a história é uma forma de advertir para os riscos dos regimes totalitários e para a loucura dos que pensam que há uma única forma justa de pensar, um Deus único, uma só forma de organização do Estado.
http://demokratia.blogs.sapo.pt/arquivo/800px-Naval_Ensign_of_Japan.PNG
E, pior que tudo, acreditar que há raças superiores.

Infelizmente, o Japão continua, até hoje, sem exorcizar os fantasmas do passado e sem reconhecer o crime da sua agressão. O martírio de Hiroxima e Nagasaki, cruel, injusto e desnecessário, não absolve o Japão do passado belicista, imperialista e expansionista.