Retirada da Geórgia começou, anuncia o Estado-Maior russo
MOSCOU (AFP) - A Rússia começou a retirar suas tropas da Geórgia, de acordo com o plano de paz, anunciou nesta segunda-feira o chefe adjunto do Estado-Maior russo, o general Anatoli Nogovitsin.
"Hoje, de acordo com o plano, começou a retirada das tropas de paz russas", afirmou o general faland à televisão pública.
Momentos antes, no entanto, o porta-voz do ministério do Interior, Shota Utiashvili, afirmou que as tropas russas prosseguiam com seu avanço em território georgiano, a partir da cidade de Jashuri (centro), apesar de seu compromisso de se retirar do país nesta segunda-feira,
"Seis veículos blindados russos se dirigem de Jashuri para Sachjere e outros seis para Borjomi", afirmou à AFP o alto funcionário.
Esses deslocamentos de tropas não puderam ser confirmados por fontes independentes.
Relação EUA-Rússia é marcada por desconfiança, dizem analistas
É o que pensam analistas internacionais ouvidos pela BBC Brasil. O conflito entre Rússia e Geórgia teve início depois que tropas georgianas invadiram, no último dia 8, a república autônoma da Ossétia do Sul, um enclave de maioria russa situado dentro da Geórgia. A operação gerou uma violenta ação militar por parte da Rússia.
''As crescentes declarações negativas e o uso da mídia por ambas as partes tornarão a atmosfera mais difícil para se chegar a discussões e negociações normais em uma série de temas'', afirma James Collins, diretor do programa de Rússia e Eurásia do instituto de pesquisas Carnegie Endowment for International Peace.
Collins, que foi embaixador americano na Rússia entre 1997 e 2001, acredita que mesmo em meio às tensões entre os dois países, é preciso buscar o diálogo e o consenso em determinados temas.
''A minha carreira dipolmática me ensinou que você não vai muito longe se resolve não falar com quem dicorda de você. É melhor ter um diálogo para descobrir quais os pontos em comum e quais as diferenças'', afirma.
Fim de mandato
Mas o ex-embaixador acredita que o momento não é dos mais propícios, por conta de o governo de George W. Bush estar chegando ao fim e ter pouco poder de fogo.
''Temos de ser realistas. É improvável que muitas iniciativas sejam tomadas por uma administração que está chegando ao fim.''
Para o analista político russo Andrey Piontkovsky, pesquisador do Hudson Institute, de Washington, e diretor-executivo do Centro de Estudos Estratégicos, de Moscou, o governo russo agiu de forma apropriada no início de sua operação militar, mas terminou pecando pelo excesso.
''A percepção por parte da administração americana é de que o governo Putin cruzou o sinal vermelho. Em minha visão, o Kremlin cometeu um sério erro. A Rússia estava certa ao reagir a um ataque inaceitável por parte de Saakashvili (o presidente georgiano Mikhail Saakashvili).''
Naquela ocasião, argumenta o analista, ''nossas forças de paz estavam agindo de forma justa. Quando o governo russo decidiu ampliar a operação para além da Ossétia do Sul e para a Geórgia propriamente, essa percepção de que se estava agindo com justiça foi se esvaindo a cada dia''.
Retórica e ações
Para Gary Schmitt, diretor de programas estratégicos do American Enterprise Institute, os Estados Unidos precisam conciliar a dura retórica com ações da mesma natureza em relação aos russos, já que este tem sido o procedimento por parte de Moscou.
''Nos últimos anos, a retórica vinda de Moscou tem sido bem agressiva e seguida de ações igualmente virulentas. A incapacidade de ter levado essa retórica a sério passou o recado errado aos russos. Por isso, é importante passar a mensagem de que eles cruzaram a linha e precisam recuar.''
Para Schmitt, entre as possíveis ações que as potências ocidentais poderiam tomar contra os russos figuram negar a eles a pretendida adesão à Organização Mundial de Comércio e expulsá-los do G8. Ambas propostas defendidas também pelo virtual candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, John McCain.
Sanções econômicas
O analista acredita que outra medida retaliatória eficaz seria a de adotar sanções contra empresas russas. ''Há inúmeras companhias russas envolvidas em atividades ilícitas e estas poderiam ser almejadas.''
''Este é um regime russo que se gaba de conseguir acumular o máximo possível de dólares e euros. É preciso atingí-lo em seu ponto fraco'', afirma Schmitt.
Para o diretor do American Enterprise Institute, a fim de não ficar refém da Rússia, a Europa, atualmente muito dependente do gás proveniente do país, precisa buscar a autonomia energética.
Caso os europeus se encaminhem nessa direção, a Rússia sofrerá os efeitos, diz ele.
''A Rússia só irá recuar se sofrer um castigo pesado. O governo do país é uma autocracia que só sabe reagir à dor.''
Para Schmitt, a operação militar russa selou de vez a relação de desconfiança que o Ocidente mantinha com Moscou.
''Creio que ninguém no governo americano e seguramente ninguém na Europa vê a Rússia como um aliado, mas sim como um mal necessário.''
Agência AFP - Via JB
WASHINGTON - A reputação da Rússia está 'em frangalhos' depois de Moscou ter enviado suas forças à Geórgia, e ela terá que enfrentar as conseqüências de suas ações, afirmou neste domingo a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.
- Qualquer noção de que a Rússia é um Estado responsável, pronto para integrar as instituições internacionais, políticas, diplomáticas e econômicas, que a Rússia é um país diferente (...), esta reputação está em frangalhos - declarou Rice à rede de televisão Fox.
- A Rússia não pode fazer um uso desproporcionado da força e ao mesmo temmpo ser bem-vinda nos círculos das instituições internacionais. Isso não vai ficar assim - avisou a secretária.
- A Rússia vai pagar um preço. Vamos examinar com nossos aliados e de forma bilateral as conseqüências das ações da Rússia, em relação a sua integração nas instituições - concluiu.
Para Rice, os russos "cometeram um grande erro" ao lançar uma operação militar na Geórgia, depois de Tbilisi ter tentado retomar o controle da região separatista da Ossétia do Sul na madrugada de 8 de agosto.
- Se os russos agiram desta forma para intimidar, eles não fizeram nada além de reforçar a determinação de seus vizinhos - considerou Rice.
Fonte: Terra
O conflito da Geórgia demonstrou que os Estados Unidos não podem decidir por si mesmos a política global, mas devem aceitar a existência de um mundo multipolar, afirma o presidente turco, Abdullah Gül.
"Não acredito que o mundo possa ser controlado a partir de um centro único. Há grandes nações, grandes povoações, um desenvolvimento econômico incrível em algumas partes do mundo", explica Gül em uma entrevista ao jornal "The Guardian".
"Em lugar de empreender ações unilaterais, temos que atuar todos juntos, tomar decisões de maneira conjunta e consultar com o mundo.
Deve sair uma nova ordem mundial, se me permite expressá-lo assim", acrescenta o político.
Gül discorda também da idéia americana e israelense de que é preciso isolar o Irã, sancioná-lo e castigá-lo. "Há tantos temas importantes, como o nuclear, Iraque, Cáucaso, Afeganistão. O Irã vai influir nesses temas. Por isso nós falamos com eles (os iranianos)", diz.
Segundo Gül, o Irã tem direito a desenvolver um programa nuclear, mas não de tipo militar. "Não queremos ver armas de destruição em massa nesta região. Decididamente, não queremos vê-las em nossa vizinhança", insiste.
Perguntado pela possibilidade de um ataque americano contra o Irã, Gül responde: "Não quero nem pensar. Todo mundo deveria aprender do ocorrido no Iraque. As soluções diplomáticas são sempre melhores que as soluções duras".
Gül afirma, por outro lado, que seu país pode desempenhar um papel importante para superar o fosso que separa o Ocidente de regiões mais turbulentas e assinala que um objetivo prioritário de sua política é integrar a Turquia na UE.
O presidente turco quer que seu país se transforme em um lugar onde tenham plena aplicação os pedrões democráticos europeus e funcione bem a economia de livre mercado.
Uma Turquia que cumpra esses requisitos será "um autêntico presente para a região, para o mundo, para a paz, e essa Turquia será fonte de inspiração para muitos", manifesta Gül.
"Estamos transformando-nos nessa direção, não esqueceremos nossos vínculos ou relações com outros países, os muçulmanos, os de Ásia Central, os do Cáucaso, os do Oriente Médio, entre outros", acrescenta.
Gül se queixa que alguns dirigentes europeus não queiram reconhecer a contribuição positiva da Turquia à estabilização da região mais volátil do mundo.
"Somos um grande ativo para a Europa. Turquia tem grande capacidade de influência na região, é indireta e pacificamente uma inspiração para a mudança. Turquia já cumpre esse papel. Algo que não se avalia suficiente", critica o presidente turco.
"A Europa deveria compreender que a Turquia pode fazer mais pela estabilidade e segurança da região. Basta fixar-se no Cáucaso. No mês passado, o problema não parecia grave, mas de repente nos encontramos em uma situação de guerra", diz.
Russos decidiram invadir em Abril
Quatro meses de preparação, permitiram operação fulminante
ÁREA MILITAR
A questão da invasão da Geórgia, tem vindo a ser objecto de várias análises por entidades internacionais. Não só as primeiras pesquisas efectuadas pela Human Rights Watch, ou as primeiras impressões tiradas por jornalistas ocidentais em Tskhinvali, quando as forças georgianas ainda estavam a retirar de Gori [1] começam a mostrar que a Rússia exagerou completamente nos relatos de numero de mortos, como além disso a soma e compilação de dados começa a mostrar que toda a operação de invasão da Geórgia estava preparada desde o mês de Abril de 2008.
Analistas militares ocidentais, concluiram que a operação foi preparada com muita antecedência e que se destinava claramente a remover do poder o governo de Mikhai Sakasvilii e a substitui-lo por um mais condizente com o governo de Moscovo.
A preparação começou em Abril de 2008, e foi influenciada pelo resultado da reunião de Bucareste na Roménia, em que a Geórgia viu o seu pedido de adesão à Aliança Atlântica ser recebido com alguma frieza por parte de alguns países europeus, nomeadamente a Alemanha. Moscovo achou que era um sinal de que Tbilisi estava sozinha.
Embora as várias análises ocidentais sejam em grande parte coincidentes, também na Rússia há quem tenha a mesma opinião.
A «ofensiva» russa pode ser tracejada até 2007, altura em que a Rússia se retirou do tratado europeu sobre armamentos convencionais, que estabelece o limite de veículos blindados, artilharia, tanques ou aviões que os países europeus podem ter ao serviço.
Quando deixou de cumprir com este tratado, a Rússia teve mão livre para transferir livremente armamentos que tinha colocado na reserva fora da Europa a leste dos Urais. Em meados de Abril deste ano, a Rússia colocou mais 1.500 soldados na região da Abkhazia, muitos deles, equipados com armamento pesado.
Pouco dias depois da chegada dessas forças os russos abateram um «drone» de vigilância georgiano, uma aeronave desarmada, que foi abatida por um MiG-29 da força aérea russa no espaço aéreo georgiano.
De notar que a Rússia não tinha autorização para efectuar aquele tipo de operações. Os russos negaram a ocorrência até ao momento em que os georgianos mostraram as imagens.
Avião russo MiG-29 abate drone espião da Geórgia no espaço aéreo georgiano, quando as tropas russas estavam a receber reforços. Sabemos agora porque os russos queriam evitar ser vistos e porque abateram a aeronave não tripulada.
Em Junho, novos contingentes de tropas russas foram colocados na Abkhazia, aumentando ainda mais a tensão com a Geórgia. Nessa mesma altura os russos começaram a construir uma linha ferroviária entre Tsukhumi (a capital da Abkhazia) e a fronteira russa, alegando que se tratava de uma medida humanitária.
Os analistas ocidentais vêm agora essa construção apressada de uma linha ferroviária, como uma das formas utilizadas pelos russos para garantir o envio rápido de tropas para o noroeste da Geórgia.
Na última semana de Julho de 2008, a Rússia iniciou as manobras militares conhecidas como «Caucaso-2008», isto apenas quinze dias antes da invasão da Geórgia ter ocorrido. Na altura os mesmos analistas militares avisaram que as tropas russas iam começar os exercícios «Causaso 2008» na mesma altura que tropas americanas estariam a treinar tropas georgianas.
O envio de tropas russas para a Abkhazia, com muitas semanas de antecedência, explica a rapidez de acção das tropas russas na Geórgia em Agosto de 2008, ao mesmo tempo que explica porque os russos abateram tão depressa o avião «drone» que servia para vigiar o território georgiano da Abkhazia.
A Rússia nega veementemente qualquer preparação inicial da operação, embora os responsáveis do país tenham geralmente negado todo e qualquer facto que possa parecer menos positivo para a imagem internacional da Rússia mesmo quando praticamente todos esses factos acabam posteriormente por ser confirmados.
Entre os argumentos apresentados pela Rússia está o facto de o primeiro-ministro do país se encontrar na China e o presidente de férias.
No entanto, na verdade o presidente da Geórgia também se encontrava de férias em Itália.
Está ainda por explicar, como é que não tendo havido qualquer preparação russa e estando presidente e primeiro-ministro russos fora, as forças russas conseguiram aparecer no terreno em força 12 a 14 horas depois das acções georgianas, tendo segundo algumas fontes, chegado à «frente» em Tskhinvali, apenas 90 minutos depois de os combates terem começado.
A rapidez russa em afirmar que as suas tropas agiam para evitar um genocídio e a morte de mais civis (depois de já terem morrido 2.000 pessoas segundo o próprio presidente da Rússia), também esbarra aparentemente com o facto de nenhum observador independente, nem nenhum observador russo contactado por meios de comunicação ocidentais ter conseguido demonstrar que ocorreu de facto qualquer genocídio.
Assim, os vários dados conhecidos apontam para uma preparação russa que tinha que coincidir com o final dos exercícios militares de Verão «Cáucaso-2008» em que participaram essencialmente unidades do 58º exército russo.
As forças que participaram desse exercício estavam portanto não só prontas, como estavam preparadas e treinadas para uma operação prevista, previamente delineada e devidamente montada.
O único problema, era a necessidade de fazer aparecer a Geórgia como o agressor perante a opinião pública internacional.
A prestável colaboração das milícias pró-russas na Ossétia foi para isso de grande utilidade.
Varias escaramuças ocorreram no dia 6 e no dia 7 de Agosto. Segundo fontes georgianas (esta informação não está confirmada por fonte independente) os russos foram contactados pelos georgianos, mas responderam que iam ver o que se passava, sem ter efectuado qualquer diligência.
Perante a continuação dos disparos dos milicianos da Ossétia sobre as aldeias onde habitavam georgianos - os quais deveriam ser protegidos pelos russos - e perante a recusa russa em agir, o presidente georgiano deu ordens às suas forças para intervir na Ossétia do Sul.
Estava então criado o precedente necessário. As primeiras tropas libertadoras russas chegaram na forma de uma «Blitzkrieg» ou guerra relâmpago.
A partir daí, as forças russas avançaram sobre tropas georgianas, as quais não tinham qualquer possibilidade de reagir. Sem um plano de acção pré-concebido os georgianos recuaram desordenadamente para as planícies de Gori, e aí foram fortemente bombardeados pela artilharia e aviação russas.
Mesmo depois de as forças georgianas retirarem os russos continuaram a bombardear a cidade, enquanto os restos das tropas georgianas retiraram para a área da capital.
Posteriormente os Estados Unidos anunciaram que começariam a enviar ajuda humanitária para a Geórgia e os aviões C-17 começaram a pousar em Tbilisi. As tropas russas avançaram até cerca de 30km da capital da Geórgia, mas não avançaram até lá.
[1] – Exemplo disto é a peça do jornalista russo Evgueni Moravitch, para a emissora de televisão portuguesa RTP. O jornalista esteve em Tskhinvali, reportou que a cidade estava destruída, mas não referiu o massacre na cidade, nem fez referência ao que inevitavelmente teria sido a primeira coisa a notar numa cidade onde morreram milhares de pessoas: O cheiro a carne putrefacta.
Organismos internacionais não confirmam versão russa do «genocídio»
ÁREA MILITAR
Várias organizações independentes, que estão no momento a trabalhar na Ossétia do Sul, entre as quais a HRW têm efectuado uma tentativa para confirmar as alegações de genocídio que foram a razão inicial para o início da invasão russa da Geórgia.
As autoridades da Rússia, através do seu próprio presidente afirmaram há uma semana, que as acções russas foram resultado de um autêntico genocídio, afirmando que o numero de vitimas do ataque georgiano tinha atingido 2.000 (dois mil). Um valor entre 1.600 e 2.000 foi também avançado por outras fontes na capital russa e são estes os números em que o vice-primeiro ministro russo tem insistido nas suas declarações à imprensa.
Desde o dia 14 de Agosto, que as primeiras tentativas de verificar a veracidade das alegações russas se depararam com relatos completamente dissonantes.
Segundo organizações internacionais independentes, até ao momento foi apenas possível apurar um total de 49 (quarenta e nove) mortos, embora número de feridos seja muito elevado, atingindo os 200.
Esta informação foi também veiculada na manhã de Sábado pela televisão Al-Jazeera e a questão já tinha sido levantada anteriormente pelas estações de televisão ocidentais.
A questão da justificação para a invasão foi quase esquecida, especialmente pela imprensa russa, onde notícias sobre os bombardeamentos de civis por parte das tropas russas têm sido objecto de censura.
Para além de não ter sido encontrado qualquer indicio do genocídio que o presidente russo referiu uma semana atrás, há outra realidade ainda mais comprometedora para os russos.
Segundo as mesmas fontes, também referidas pela Al Jazeera, o inicio do conflito propriamente dito parece ter tido razões muito diferentes, pois aparentemente terá sido resultado de provocações por parte dos separatistas da Ossétia que levaram a recontros entre rebeldes Ossetas[1] no dia 8 de Agosto. Esta versão não foi porém confirmada de forma independente.
Segundo os dados disponíveis, e numa informação também veiculada pela emissora de televisão do Qatar, as primeiras tropas russas «apareceram» no território da Ossétia, 90 minutos após o inicio do «genocídio» georgiano.
Também foi entretanto confirmado que sistemas de artilharia BM-27 do exército russo, começaram a bombardear posições da Geórgia no próprio dia 8 de Agosto pelas 10:00 da manhã, o dia em que a invasão georgiana terá tido inicio.
Considerando as características dos veículos em causa, os sistemas russos não tinham como chegar a tempo de efectuar o bombardeamento se não estivessem já em território da Geórgia.
As dúvidas também se levantam, quando se sabe que após a entrada das tropas georgianas na cidade de Tskhinvali, as tropas russas dispararam sobre a cidade de Tskhinvali, em apoio dos separatistas da Ossétia que tinham engajado as forças georgianas naquela área urbana.
A cidade encontra-se muito destruída, mas as previsões do numero de mortos apontadas pelos russos, continuam completamente dissonantes dos números até ao momento verificados independentemente.
Quando perguntado sobre os combates em Tskinvali, um médio russo explicou os problemas com que se debateu e afirmou que tinham recebido uma média de 80 feridos por dia.
Quando lhe foi feita uma pergunta sobre o numero de 2.000 mortos, o médico baixou a cabeça e disse que não podia confirmar essa informação.
C-17 americanos, explicam recusa russa em saír da Georgia
ÁREA MILITAR
Quando a Rússia iniciou a invasão da Geórgia, depois de confrontos entre tropas do governo georgiano e tropas rebeldes da Ossétia, os generais russos não esperavam qualquer resposta dos Estados Unidos, afirmaram nesta Sexta-feira fontes alegadamente próximas do Kremlin e citadas pelo jornal Kommersant.
Os dirigentes russos terão ficado muito incomodados com a afirmação por parte do dirigente Norte-americano de que enviaria apoio humanitário para a Geórgia, mas ainda mais irritados com o significado desse envio.
Essas declarações parecem ser a principal razão de crítica aos Estados Unidos por parte da imprensa russa, quase totalmente controlada pelo Estado, directa e indirectamente.
A resposta russa às afirmações de Bush e ao envio de apoio humanitário não resultou em qualquer declaração do presidente, tendo o primeiro ministro russo saído de cena, para dar lugar ao vice ministro Lavrov.
A resposta dos russos parece ter vindo de outra forma, pois a recusa russa em cumprir o estipulado no acordo de cessar fogo que o presidente russo assinou com o presidente francês, parece estar directamente ligada à manutenção das forças russas no território georgiano.
Aparentemente, trata-se de um questão de Honra e a Rússia, que iniciou a invasão da Geórgia com o objectivo de ganhar protagonismo internacional, detestou o facto de na mesma altura em que controla completamente os céus da Geórgia, tem que permitir a passagem de aeronaves norte americanas, que aterram em Tbilisi.
A irritação é patente nas declarações dos generais russos e na imprensa russa em geral. Um general russo chegou a perguntar «...como é que os americanos pousaram em Tbilisi quando afirmaram que tínhamos destruído a pista ? ».
A afirmações algo desconexas dos russos, mostram que a imprensa russa está a distorcer completamente a realidade dos factos, inventando uma campanha ocidental contra a Rússia que nunca existiu. [1]
A Rússia, não podia deixar de acusar o golpe e essa é segundo os observadores uma das razões que levaram a que em vez de voltarem para as suas antigas posições, os generais russos ordenassem que as suas tropas viajassem pelas estradas numa acção de «mostrar bandeira» para afirmar que a Rússia está ali.
As movimentações russas podem parecer algo estranhas e erráticas, mas para a mentalidade eslava, é uma questão de honra e no balanço de poder entre o Kremlin (residência de Medvedev) e a Casa Branca (centro do poder legislativo onde está Vladimir Putin) a imagem da Rússia é importante e foi exactamente para a reforçar que a Rússia entrou nesta aventura.
Polónia conclui negociações e receberá mísseis Patriot
Os russos ficaram ainda mais irritados, quando ontem foi finalmente assinado o acordo entre os Estados Unidos e a Polónia para a instalação dos mísseis do sistema defensivo que os norte-americanos pretendem montar para impedir mísseis balísticos com origem em países como a Coreia do Norte ou o Irão de atingirem a Europa e os Estados Unidos.
Os russos consideram que esse sistema defensivo, constituído por mísseis anti-aéreos com capacidade para atingir mísseis balísticos se destinam a tornar inútil a capacidade russa para atacar alvos no ocidente.
Par piorar as coisas, a negociação foi forçada pelos polacos que aproveitaram para negociar com Washington um pacote de ajudas militares que vai dar à Polónia uma invejável capacidade de defesa antiaérea.
Até agora as negociações estavam paradas na recusa norte-americana em fornecer uma bateria de mísseis Patriot à Polónia, o que aparentemente foi dinalmente aceito pelos norte-americanos.
Uma base militar americana também será montada na Polónia.
Não há muitas novidades nestas notícias e os generais russos sabiam há muito tempo que a questão se levantava e era apenas uma questão de tempo. Mas o «timming» escolhido levanta mais problemas, porque mostra que embora domine no terreno, embora possa enviar tanques para a Geórgia, embora possa permitir as vinganças pessoais e a instauração de um clima de terror [2] para dar o exemplo a outros países da região, a Rússia pode ser desafiada.
E para a lógica dos generais russos e do próprio Putin que aposta o seu prestígio na reconstrução da antiga imagem da União Soviética, pais pouco admirado, mas muito temido, isso é difícil de aceitar.
[1] A versão é a versão da imprensa russa, não a versão ocidental. As agencias noticiaram que os russos tinham bombardeado instalações nas proximidades do aeroporto internacional, mas não que as pistas tinham sido destruídas.
A distorção de notícias na imprensa russa tem atingido nos últimos dias, níveis que não eram conhecidos desde o tempo da União Soviética.
Vários jornais têm mostrado notícias deslocadas do contexto e vendido à opinião pública russa a sua versão das notícias publicadas no ocidente.
[2] O clima de violência e inexistência de autoridade tem sido noticiado e comprovado por todos os órgãos de comunicação social no terreno. Jornalistas têm sido mortos pelas milícias, os soldados russos têm roubado os civis e mesmo um oficial russo foi filmado a disparar sobre um jornalista.
Nenhuma destas imagens tem sido transmitida pela televisão russa.
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