Primavera de Praga


O conflito entre a população tcheca e os tanques soviéticos nas ruas de Praga.

Por Rainer Sousa

Fonte: Alunos on line

A instituição da ordem bipolar no pós-Segunda Guerra, em tese, pretendia lotear ideologicamente as nações do mundo entre os regimes socialista, liderado pela União Soviética, e capitalista, capitaneado pelos Estados Unidos da América. Ambas as nações, cada uma a sua maneira, buscavam meios de agrupar e orientar as nações influenciadas por sua tutela política, econômica e social. Em geral, os Estados Unidos tinham domínio sobre o continente americano e a Europa Ocidental, a União Soviética influenciava o Leste Europeu e outras nações na África e no Oriente.

Entre os países do Leste Europeu, a Tchecoslováquia vivia em consonância com os ditames do bloco socialista. Fiel aos princípios instalados pelo governo stalininsta, as lideranças políticas tchecoslovacas implantaram o rígido controle e o patrulhamento ideológico exigidos pelo governo soviético. No entanto, a década de 1960 foi palco de uma reforma política no Estado tchecoslovaco que, paulatinamente, afastou todo o rigor exigido pelas autoridades fiéis aos mecanismos de controle exigidos pelo regime soviético.

Na década de 1960, a cidade de Praga era um lugar fácil para jovens cidadãos, que viajavam pela Europa Ocidental, usar drogas e ouvir rock’n roll. Em 1968, Alexander Dubcek assumiu o posto máximo de primeiro-secretário do Partido Comunista da Tchecoslováquia. Chegando ao mais importante cargo político de seu país, Dubcek preocupou-se em dar atenção a uma população que almejava a instalação de medidas liberais no país. Traçando um plano de profundas transformações, o líder tchecoslovaco autorizou total liberdade aos meios de comunicação.

Esse importante passo abriu espaço para outras reformas políticas. Os meios de comunicação da época, aproveitando da liberdade de imprensa, denunciavam as práticas corruptas dos antigos líderes comunistas e os problemas do regime vigente. Logo em seguida, o governo abriu portas para a instalação de um sistema eleitoral multipartidário e tomou medidas para a criação de um Estado Eslovaco. A avalanche de mudanças rapidamente alardeou os líderes políticos soviéticos. Divido entre a população e o governo soviético, Dubcek viveu uma situação nada tranqüila.

Sem atender às reivindicações imediatas das autoridades soviéticas, a Tchecoslováquia foi invadida por tropas soviéticas, em 20 de agosto de 1968. As reformas instaladas no país representavam, aos olhos do governo soviético, uma ameaça ao bloco socialista e à possível criação de uma nação capitalista incrustada no Leste Europeu. Os tanques tomaram a capital Praga e, ao invés de encontrarem tropas armadas e resistentes, depararam-se com uma grande massa de civis inconformados com a ação autoritária da União Soviética.

Muitos se deitavam na frente dos tanques, conversavam com os soldados pedindo sua retirada, outros pichavam ironias contra a invasão soviética e alguns transmitiam os eventos do acontecido via rádio. Os mais exaltados tentaram entrar em confronto lançando pedras e coquetéis Molotov contra os tanques. O embate com as tropas soviéticas deixou um saldo de 72 mortos e 702 feridos. A então chamada Primavera de Praga aconteceu e indicou que as mudanças se faziam urgente no interior do bloco socialista.

Contrários a uma rendição covarde, os líderes políticos tchecoslovacos mostravam-se abertos para uma negociação com as principais autoridades soviéticas. Sitiados pelas forças soviéticas, o chefe partidário Alexander Dubcek e o presidente Ludvik Svoboda foram enviados para Moscou. Impossibilitados pelo tom impassível do então presidente Leonid Brejnev (1964 – 1982), os líderes tchecoslovacos foram destituídos de seus cargos e expulsos do Partido Comunista. No ano seguinte, Gustav Husák assumiu o cargo de primeiro-ministro do Partido Comunista tcheco.

A Primavera de Praga tinha chegado ao seu fim. No entanto, a urgência por mudanças não foi simplesmente anulada. Nos anos de 1970 e 1980, diversos movimentos civis lutavam pela instalação de mudanças. O autoritarismo e a unanimidade ideológica não foram suportadas pela população da Tchecoslováquia. Somente em 1987, com a abertura política dos soviéticos, foi possível consolidar as demandas vinte anos antes proferidas.

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Primavera de Praga foi movimento para "humanizar" o comunismo

FERNANDA BARBOSA
Colaboração para a Folha Online

A Primavera de Praga foi um movimento encabeçado pelo líder comunista Alexander Dubcek para "humanizar" o Partido Comunista na Tchecoslováquia que, na época, desagradou a ex-União Soviética (URSS) e os partidários do ditador Jósef Stalin.

Dubcek assumiu o governo da Tchecoslováquia em janeiro de 1968 e promoveu reformas políticas, sociais, econômicas e culturais. Ele pretendia criar um socialismo com "face mais humana", no qual todo membro do Partido Comunista teria o dever de agir segundo sua própria consciência, e não apenas de acordo com o que ditava o regime socialista de Moscou.

Ao mesmo tempo, a Tchecoslováquia (hoje República Tcheca) se aproximava economicamente da Alemanha Ocidental, o que se mostrava contra os interesses soviéticos.

CTK
Moradores de Praga cercam de tanques soviéticos, em 21 de agosto de 1968
Moradores de Praga cercam de tanques soviéticos, em 21 de agosto de 1968

Os efeitos da Primavera de Praga na Tchecoslováquia foram amplos. Com a liberdade de imprensa restabelecida, houve um retorno no interesse de formas alternativas de organização política.

Com isso, antigos membros do Partido Social Democrata, fundido à força com o Partido Comunista em 1948, tentaram restabelecê-lo.

Igrejas cristãs voltaram a ser ativas, assim como movimentos pelas minorias e pelos direitos civis. A ex-União Soviética se mostrou absolutamente contrária às mudanças, apoiada pela Polônia e pela Alemanha Oriental.

Dubcek recusou um convite para participar de um encontro com os líderes dos países do Pacto de Varsóvia [aliança assinada em 1955 pelos países socialistas do leste Europeu] e recebeu uma carta em 15 de julho dizendo que era seu "dever" conter o movimento contra-revolucionário pelo qual seu país estava passando.

Mas Dubcek acreditava que poderia resolver as diferenças com os vizinhos comunistas e compareceu a uma reunião posterior organizada em uma cidade eslovaca para realizar um acordo com os líderes socialistas.

Invasão

Porém, em 20 de agosto, as tropas da ex-URSS e do Pacto de Varsóvia invadiram e ocuparam a Tchecoslováquia, em uma tentativa de reprimir o movimento reformista.

Praga, hoje capital da República Tcheca, foi invadida por 650 soldados soviéticos e dos países do Pacto de Varsóvia. Em uma semana, a Primavera de Praga foi esmagada pelas tropas.

CTK
Moradores de Praga lançam tochas acesas e tentam conter avanço de tanque soviético
Moradores de Praga lançam tochas acesas e tentam conter avanço de tanque soviético

No entanto, politicamente, a invasão foi um fracasso. Autoridades soviéticas levaram Dubcek e outros líderes tchecoslovacos para Moscou, mas falharam em colocar um partido alternativo e líderes de governo que os eslovacos aceitassem.

A população reagiu à invasão pacificamente, com métodos de improvisação --as placas das ruas foram modificadas para que os soviéticos se perdessem.

A vida continuava como se as tropas do Pacto de Varsóvia não estivessem em Praga, apesar do corte nos meios de comunicação, da falta de suprimentos e da ausência de liderança.

O comitê comunista agendado para 22 de agosto elegeu um comitê central pró-Dubcek. A Assembléia Nacional também declarou lealdade ao líder, e manteve suas sessões plenárias.

Controle

No dia 23 de agosto, o presidente Svoboda, acompanhado por Dubcek, retornou a Praga para dizer aos socialistas qual seria o preço a pagar por ter um socialismo humano: as tropas soviéticas permaneceriam na Tchecoslováquia, e manteriam controles rígidos sobre as atividades culturais e políticas.

O congresso do Partido Comunista foi declarado inválido pelos soviéticos.

Em janeiro de 1969, um estudante cometeu suicídio em protesto contra as violações da independência nacional. A população se impressionou, e os movimentos pelo "socialismo humano" reiniciaram.

Gradualmente, Dubcek negou ajuda aos seus aliados, até que encontrou-se isolado.

A linha dura do partido se fortaleceu e Gustáv Husák substituiu Dubcek, em 17 de abril de 1969. Ele propôs a normalização das relações da Tchecoslováquia com a ex-URSS.

Fonte: Enciclopédia Britannica


Primavera de Praga
Saiba o que foi
a Primavera de Praga

Fonte: Alunos online


Tanques soviéticos invadiram Praga
em 20 de agosto de 1968

O ano de 1968 será lembrado como o da rebeldia, dos sonhos esmagados. Foi o ano que marcou o fim da Primavera de Praga, um experimento de “socialismo com face humana” comandado pelo líder do Partido Comunista da então Checoslováquia, Alexander Dubcek. O movimento representava o desabrochar da democracia atrás da Cortina de Ferro. Mudanças inéditas no bloco socialista eram adotadas no país: imprensa livre, Judiciário independente e tolerância religiosa. Dubcek introduzia reformas políticas e econômicas, com o apoio do Comitê Central. Estadão

Em 5 de abril de 1968 o povo tcheco tomou-se de surpresa quando soube dos principais pontos do novo Programa de Ação do PC tchecoslovaco. Fora uma elaboração de um grupo de jovens intelectuais comunistas que ascenderam pela mão do novo secretário-geral Alexander Dubcek, indicado para a liderança em janeiro daquele ano. Dubcek um completo desconhecido decidira-se a fazer uma reforma profunda na estrutura política do pais. Imaginara desestalinizá-lo definitivamente, removendo os derradeiros vestígios do autoritarismo e do despotismo que ele considerava aberrações do sistema socialista.

Apesar da desestalinização ter-se iniciado no XXº Congresso do PCURSS, em 1956, a Tchecoslováquia ainda era governada por antigos dirigentes identificados com a ortodoxia. Ainda viviam sob a sombra do que Jean-Paul Sartre chamou de “o fantasma de Stalin”. Dubcek achou que era o momento de “dar uma face humana ao socialismo”.

Além de prometer uma federalização efetiva, assegurava uma revisão constitucional que garantisse os direitos civis e as liberdades do cidadão. Entre elas a liberdade de imprensa e a livre organização partidária, o que implicava no fim do monopólio do partido comunista. Todos os perseguidos pelo regime seriam reabilitados e reintegrados. Doravante a Assembléia Nacional multipartidária é quem controlaria o governo e não mais o partido comunista, que também seria reformado e democratizado. Uma onda de alegria inundou o país. Chamou-se o movimento, merecidamente, de “ A Primavera de Praga”.

De todos os lados explodiram manifestações em favor da rápida democratização. Em junho de 1968, um texto de “Duas Mil Palavras” saiu publicado na Gazeta Literária (Liternární Listy), redigido por Ludvik Vaculik, com centenas de assinaturas de personalidades de todos setores sociais, pedindo a Dubcek que acelerasse o processo. Acreditava que seria possível transitar pacificamente de um regime comunista ortodoxo para uma social-democracia ocidentalizada. Dubcek tentava provar a possibilidade do convívio entre uma economia coletivizada com a mais ampla liberdade democrática.

O mundo olhava para Praga com apreensão. O que fariam os soviéticos e os seus vizinhos comunistas? As liberdades conquistadas em poucos dias pelo povo tcheco eram inadmissíveis para as velhas lideranças das “Democracias Populares”. Se elas vingassem em Praga eles teriam que também liberalizar os seus regimes. Os soviéticos por sua vez temiam as conseqüências geopoliticas. Uma Tchecoslováquia social-democrata e independente significava sua saída do Pacto de Varsóvia, o sistema defensivo anti-OTAN montado pela URSS em 1955. Uma brecha em sua muralha seria aberta pela defecção de Dubcek.

Então, numa operação militar de surpresa, as tropas do Pacto de Varsóvia lideradas pelos tanques russos entraram em Praga no dia 20 de agosto de 1968. A “Primavera de Praga” sucumbia perante a força bruta. Sepultaram naquela momento qualquer perspectiva do socialismo poder conviver com um regime de liberdade. Dubcek foi levado a Moscou e depois destituído. Cancelaram-se as reformas, mas elas lançaram a semente do que vinte anos depois seria adotado pela própria hierarquia soviética representada pela política da glasnost de Michail Gorbachov. Como um toque pessoal e trágico, em protesto contra a supressão das liberdades recém-conquistadas, o jovem Jan Palach incinerou-se numa praça de Praga em 16 de janeiro de 1969.

Fonte: Educaterra.terra.com.br

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