Paraguai e Bolívia vetam entrada de agentes da Abin

CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA DA REPORTAGEM LOCAL FOLHA DE SÃO PAULO

Recentes suspeitas de participação de membros do órgão em escutas ilegais inviabilizaram de vez projeto de cooperação Felix e Lacerda foram aos EUA em junho conhecer sistema da CIA e voltaram com planos de reformular os serviços de inteligência Bolívia e Paraguai barraram a entrada de agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em seus territórios.

Pedidos de autorização para o envio dos chamados "adidos civis" de inteligência foram engavetados, respectivamente, pelos governos de Evo Morales e do ex-bispo Fernando Lugo, que desconfiam do interesse da agência em montar escritórios em La Paz e Assunção, segundo a Folha apurou.
Oficialmente, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) diz que "os pedidos de "agrément" estão em processo de concessão".

"Não é que não concederam, ainda tem prazo antes da decisão final", afirmou o assessor de imprensa Homero Zanotta. Mas fontes do Itamaraty e dos governos vizinhos confirmaram o veto.
A omissão é uma forma diplomática de se dizer não, segundo funcionários dos governos boliviano e paraguaio. Essas autoridades, que pediram anonimato devido à sensibilidade do tema, alegaram que há desconfiança sobre as atividades dos espiões brasileiros. A gota d"água para inviabilizar de vez a cooperação veio com as recentes denúncias de suposta participação de agentes da Abin em escutas ilegais.

O Itamaraty, por sua vez, lavou as mãos, temendo que os arapongas extrapolem suas funções, causando algum conflito diplomático. Diplomatas brasileiros ouvidos pela reportagem comentaram ainda que os vizinhos consideram suficiente a atual cooperação militar e policial, feita por adidos militares e da Polícia Federal.

A Abin começou a enviar pedidos de autorização para seus adidos há quase um ano, defendendo a necessidade de maior cooperação entre os serviços de informação regionais. Conseguiu formalizar as representações que já possuía na Flórida (Estados Unidos) e em Buenos Aires (Argentina). Também emplacou agentes em Caracas (Venezuela) e Bogotá (Colômbia), mas não teve sucesso nos países onde a cooperação era mais desejada.

A presença da Abin na Bolívia e no Paraguai - onde os serviços locais de inteligência estão desestruturados - é considerada estratégica, por causa das crescentes ameaças a dois investimentos brasileiros nos vizinhos: o gasoduto Brasil-Bolívia e a hidrelétrica de Itaipu.
O veto dos vizinhos frustrou a ambição de parte da cúpula da Abin que deseja transformar a agência numa espécie de CIA (agencia de inteligência dos EUA) brasileira. No final de junho, antes de ser afastado da direção da agência, Paulo Lacerda esteve em Washington com o ministro Jorge Felix (GSI).

Ambos se reuniram com autoridades da área de informação e segurança, inclusive Mike McConnell, o diretor nacional de Inteligência dos EUA. Delegado e general voltaram dos EUA com fôlego para reformular a Abin, nos termos de um plano que prevê a expansão e a integração de todos os órgãos de inteligência do governo.