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Venda de armas é maior legado de Bush

Exportações da indústria bélica dos EUA triplicaram em três anos; crescimento reflete política externa da Casa Branca

Eric Lipton - Estadão

Em pelo menos um assunto, o governo do presidente americano, George W. Bush, deixará para seu sucessor um legado altamente favorável - o da venda de armas para outros países. Em apenas três anos, sob a supervisão do Departamento de Defesa, as exportações da indústria bélica americana quase triplicaram.

De tanques, helicópteros e aviões de caça a mísseis, aviões não-tripulados e até navios de guerra, o Pentágono acertou, neste ano fiscal, a venda ou transferência de mais de US$ 32 bilhões em armamentos a governos estrangeiros. Em 2005, foram US$ 12 bilhões. As entregas dos pedidos que estão sendo acertados agora devem assegurar empregos na indústria bélica americana por muitos anos.

Os EUA, que em 2000 detinham 40% do mercado exportador de armas, aumentaram sua fatia para 52%. O maior concorrente é a Rússia, com 21% de participação.

O aumento das vendas de armas americanas reflete as marés da política externa da Casa Branca. No início de seu mandato, em 2001, Bush nomeou os três países que considerava uma ameaça aos EUA: o Iraque de Saddam Hussein, o Irã e a Coréia do Norte. Sete anos depois, países vizinhos dos três que faziam parte do "eixo do mal" estão entre os maiores compradores de armas americanas. Além de rearmar Iraque e Afeganistão, o Pentágono ajuda aliados interessados em conter Irã e Coréia do Norte.

Na região do Golfo Pérsico, boa parte do rearmamento é motivada pelo temor ao Irã. Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, estão estudando gastar até US$ 16 bilhões em sistemas americanos de defesa antimísseis. A Arábia Saudita assinou acordos de compra de armas no valor de pelo menos US$ 6 bilhões - a maior cifra para um país desde 1993.

Israel, que já ameaçou atacar o Irã, também aumentou suas encomendas, que incluem a compra de até quatro navios de combate no valor de US$ 1,9 bilhão.

Na Ásia, depois que a Coréia do Norte realizou testes com um míssil de longo alcance, a Coréia do Sul - tradicional aliado dos EUA - assinou acordos de compras com o Pentágono no valor de US$ 1,1 bilhão.

"Não se trata de contrabandear armas", disse Bruce S. Lemkin, vice-subsecretário da Força Aérea que está ajudando a coordenar as maiores vendas. "Trata-se de construir um mundo mais seguro."

Cerca de 60 países recebem ajuda militar anual dos Estados Unidos, avaliada em US$ 4,5 bilhões, para comprar armas americanas. Israel e Egito recebem mais de 80% dessa ajuda. Os EUA também deram recentemente ao Iraque e ao Afeganistão grandes quantidades de armas e outros equipamentos e começaram a treinar unidades militares gratuitamente - essa ajuda está incluída na conta das vendas externas.

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Mas a maior parte das exportações de armas é paga pelos compradores sem financiamento americano. Mesmo enfrentando uma intensa competição da Rússia e de países da Europa, os Estados Unidos conseguiram expandir seu mercado. Romênia, Polônia e Marrocos, que por muito tempo dependeram dos jatos Mig-17 de fabricação russa, agora estão comprando caças F-16 novos fabricados pela Lockheed Martin.

Outros clientes novos incluem Argentina, Azerbaijão, Brasil, Geórgia, Índia, Iraque, Marrocos e Paquistão, segundo dados de vendas até o fim do mês passado fornecidos pelo Departamento de Defesa. No conjunto, esses países assinaram acordos no valor de US$ 870 milhões de 2001 a 2004. De lá para cá, esse total pulou para US$ 13,8 bilhões.

A conta crescente das transações internacionais de armamento está provocando questionamentos de alguns defensores do controle de armas e membros do Congresso americano.

BLITZ

O deputado Howard Berman, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, teme que a blitz de vendas tenha efeitos negativos. "Isso pode acelerar a corrida armamentista que, no fim, acabará diminuindo a estabilidade", disse.

Berman, que propôs um projeto de lei aprovado em maio para fiscalizar o processo de exportação de armamento, disse que as vendas militares americanas, embora sejam com freqüência bem intencionadas, às vezes eram mal orientadas.

Ele citou as vendas militares para o Paquistão que, a seu ver, estavam contribuindo mais para aumentar as tensões com a Índia do que para combater o terrorismo na região.

Travis Sharp, analista do Centro para o Controle e a Não-Proliferação de Armas, um grupo de estudos de Washington, disse que uma de suas maiores preocupações era que, se as alianças mudassem, os Estados Unidos poderiam se ver em combate com um inimigo equipado com armas de fabricação americana.

As vendas de armas já tiveram conseqüências inesperadas antes, como quando os EUA armaram militantes que lutavam contra os soviéticos no Afeganistão e agora enfrentam militantes do Taleban hostis usando com as mesmas armas nessa região.

"Quando se vende armas a outro país, perde-se o controle de como elas são usadas", disse Sharp. "E as armas, infelizmente, não têm prazo de validade."

Mas Lemkin, do Pentágono, acha que com tantas nações dispostas hoje a vender sistemas avançados de armas, os Estados Unidos não poderiam se dar ao luxo de ser restritivos em suas próprias vendas. "Você preferiria que eles comprassem as armas e aviões de outros países?", perguntou. "Porque eles vão comprar."