Bagdá anuncia exigências aos EUA e condena ação militar na Síria
Reuters/Brasil Online - Por Mariam Karouny -
Reportagem adicional de Andrew Gray, em Washington - Via O Globo
BAGDÁ (Reuters) - O Iraque apresentou na terça-feira as mudanças que pleiteia no acordo sobre a permanência das tropas dos EUA no país, e no mesmo dia divulgou nota criticando duramente uma incursão militar norte-americana em território sírio.
Analistas dizem que o Iraque está sob forte pressão de seus vizinhos para impedir que seu território seja usado para ataques norte-americanos (Nota do blog: Leia-se irã e Siria). O mandato da ONU que regulamenta a presença militar dos EUA termina no final do ano, e ambas as partes negociam há meses um tratado que prorrogue a ocupação.
Os dois lados chegaram a anunciar um acordo, mas na semana passada o Iraque disse que solicitaria mudanças. Agora, o primeiro- ministro Nuri Al Maliki deve enviar as emendas propostas aos negociadores dos EUA.
Sem entrar em detalhes, o porta-voz iraquiano Ali Al Dabbagh disse que as emendas abrangem "os termos, sim, e algo do conteúdo".
Mas o ministro do Meio Ambiente, Nermeen Othman, disse à Reuters após uma reunião do gabinete que não haverá razão para negociar os principais pontos. "As mudanças mais importantes são em artigos que podem ser interpretadas de mais de uma forma."
O acordo original já previa várias concessões especiais ao Iraque, como a autorização para que a Justiça local puna militares que cometam crimes fora de suas funções. Ele estabelecia também que os EUA deixassem o Iraque em 2011, a não ser que Bagdá solicite uma prorrogação.
Autoridades dos EUA disseram ainda não ter visto as mudanças propostas, mas deixaram claro que não querem alterações substanciais.
"Acreditamos que o atual esboço de acordo seja um bom acordo. Ambos os países trabalharam no atual esboço durante meses, e acreditamos que o atual esboço atenda às preocupações de ambos", disse Bryan Whitman, porta-voz do Pentágono.
Diversos partidos xiitas do Iraque, ligados historicamente ao Irã, opõem-se ao tratado, e a incursão norte-americana de domingo em território sírio pode agravar as divisões, já que Teerã alega que Washington vai usar a prorrogação da ocupação para preparar ataques contra países vizinhos - especialmente Irã e Síria.
Na terça-feira, Dabbagh disse que "o governo iraquiano rejeita o bombardeio aéreo dos EUA dentro da Síria". "A Constituição não permite que o Iraque seja usado como terreno para a realização de ataques contra países vizinhos", acrescentou.
O governo sírio disse que o ataque matou oito civis. Inicialmente, o Iraque havia dito que o alvo eram insurgentes.
Um deputado xiita questionou o momento escolhido pelos EUA para o ataque. "Por que agora, neste momento em que estamos negociando o pacto? Um dos limites que nem Maliki nem nenhum dos outros poderes políticos autorizaria que fosse ultrapassado é o uso do Iraque como terreno para a preparação de um ataque contra outros países."
Se não houver acordo político entre os iraquianos até o final do ano, Bagdá pode solicitar uma prorrogação do mandato da ONU para a permanência dos EUA, mas os líderes políticos locais deixam claro a preferência por um pacto definitivo.
Os EUA ameaçam suspender praticamente todas as suas atividades no Iraque - como patrulhas, apoio logístico ao Exército e controle do tráfego aéreo - se não houver um marco jurídico formal em vigor em 1. de janeiro.
0 Comentários