A Índia deve lançar nesta semana sua missão lunar.
Por que eles conseguem, e o Brasil não
Peter Moon - Revista ÉPOCA
Chandrayaan quer dizer “viagem à Lua” em híndi, o idioma falado por 80% do 1,1 bilhão de indianos. Chandrayaan-1 é a primeira missão indiana à Lua. O lançamento está previsto para o dia 22, a bordo de um enorme foguete de 44 metros, do Centro Espacial Satish Dhawan. A Chandrayaan custou US$ 83 milhões. Levará cinco dias para ir à Lua. Chegando lá, a sonda entrará em órbita para fazer um mapeamento completo da superfície. Com a Chandrayaan, a Índia torna-se a sexta potência a enviar uma missão à Lua.
A comparação entre os programas espaciais indiano e brasileiro é evidente. Enquanto o “I” dos países emergentes – os Brics – alcançou o nível de competência da Rússia (o “R”) e da China (“C”), a Agência Espacial Brasileira (AEB) não decola. O projeto do Veículo Lançador de Satélites começou em 1979, mas levou 18 anos para sair do papel. Em 1997, o VLS-1 falhou após o lançamento e se autodestruiu. O mesmo ocorreu com o VLS-2, em 1999. O maior desastre se deu em agosto de 2003. O VLS-3 explodiu na plataforma do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, incinerando 21 técnicos. De lá para cá, o programa parou. A nova plataforma começará a ser feita em 2009. Se tudo der certo, o VLS-4 decolará em 2011.
Quando isso ocorrer, a nossa defasagem espacial com relação à Índia será de “apenas” 30 anos. A chave para entender esse atraso é a crise econômica na qual o Brasil mergulhou em 1980 e que levou ao fim da ditadura. O principal propulsor de qualquer projeto espacial é o interesse militar em fazer mísseis para transportar ogivas. Não por acaso, a decisão de projetar o Veículo Lançador de Satélites se deu no governo Geisel, o mesmo que anunciou a construção de 30 usinas nucleares e que cavou um poço para testar bombas na Serra do Cachimbo, no Pará. Com a redemocratização, a verba do VLS secou.
Na Índia, por outro lado, nunca faltaram recursos. O projeto espacial sempre esteve ligado ao programa nuclear. Em 2008, por exemplo, o orçamento é de US$ 1 bilhão, dez vezes maior que o da AEB. O interesse da Índia no espaço e no átomo surgiu com a independência dos ingleses, em 1947, seguida por uma guerra com o Paquistão, o primeiro de quatro conflitos. Em 1974, Nova Délhi explodiu sua primeira bomba atômica. Mas não bastava ter a bomba. Era preciso meios para lançá-la. A Índia conquistou essa tecnologia em 1980, ao conseguir colocar satélites em órbita.
O VLS brasileiro também foi inicialmente idealizado como um míssil balístico. Mas, quando o governo Fernando Henrique Cardoso aderiu ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, a versão militar do VLS perdeu todo o sentido. Os lançadores destruídos na Base de Alcântara entre 1997 e 2003 eram versões civis. Hoje, a meta do governo Lula é obter um veículo para competir no mercado de lançamento de satélites – o que a Índia faz desde 1980. Enquanto não se alcançar esse objetivo, não adianta sonhar com vôos mais altos. Como a Lua, por exemplo.
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