Corações nos ares

Antonio Guilherme Telles Ribeiro
Major-brigadeiro-do-ar, piloto de caça da Força Aérea e comandante do II Comar
cmt@comar2.aer.mil.br

Fonte: Diário de Pernambuco

Esta é uma história de amor. Daquelas escritas por entre nuvens. Acompanhada, por vezes, apenas por luares e estrelas que ajudam iluminar a terra. Junto até da solidão. Como toda história de amor que se preze, começa com o desconhecido, pelo que é curioso, por disparate aos olhos dos outros e tão lógico para quem começa a se doar. A história começa assim: "vamos voar?". Os primeiros momentos são de sonho. Sonho? Prezado leitor, você já sonhou em ir além do horizonte, subir em direção ao azul de nosso céu e colher a primeira estrela vespertina? Pois bem, esse sonho é apenas o começo de uma grande paixão que jamais se esmorece.

No primeiro toque pós-sonho, vem a máquina que rompe os ares, os equipamentos, o painel, o manche, a decolagem, a atenção do olhar, e um sentimento difícil de ser explicado. Estar tão alto e parecer longe e tão perto do mundo lá embaixo. O que se vê éque se busca o alto para ir mais além.

Em verdade, todas as paisagens cabem dentro das retinas do Aviador. Não existe melhor aprendizado que esse feito dia-a-dia, hora a hora, quando, das alturas, acompanha os rios, as florestas, os montes, os campos, as praias, os lagos, as vilas e as cidades. Não há espaço deste mundo que os aviadores desconheçam. Não há um cantinho do céu em que eles deixem de projetar a imagem de seu pássaro de aço, sempre entusiasmado pela imensidão celeste.

Tudo começou na tarde do dia 23 de outubro de 1906, no Campo de Bagatelle, Paris (França), quando um brasileiro conquistou o prêmio Archdeacon, oferecido pelo Aeroclube da França ao primeiro homem que em uma máquina mais pesada que o ar e movida por seus próprios meios voasse uma distância superior a 25 metros. Naquele momento, Alberto Santos-Dumont, havia realizado o sonho da humanidade e com o seu 14-Bis voado os primeiros 60 metros que se transformariam no primeiro minuto da memorável história da aviação.

Em 4 de julho de 1936, o presidente Getúlio Vargas, através da Lei nº 218, instituiu o "Dia do Aviador", a ser comemorado no dia 23 de outubro com o intuito de eternizar o reconhecimento de todos os brasileiros para o feito memorável de Alberto Santos= Dumont. Hoje, comemoramos o "Dia do Aviador e da Força Aérea Brasileira" em nossas embaixadas e no Brasil.

O Ministério da Aeronáutica seria criado cinco anos depois, em 1941, e a Força Aérea Brasileira logo receberia o seu batismo de fogo no front italiano, onde os nossos pilotos lutaram bravamente pela preservação da democracia que corria sérios riscos.

Hoje, como ontem, os pilotos brasileiros continuam a saga de integrar o nosso imenso País, onde ainda, muitas cidades, particularmente no Norte do País, somente são acessíveis pelos ares. O avião combate o isolamento.

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A chegada das tripulações de vôo nessas localidades continua sendo cercada de muita emoção. O som do motor do avião entoa o significado da esperança. As pessoas aplaudem e vibram a cada pouso de nossas aeronaves.O aviador sabe disso embora não possa ouvir naquele momento, envolvido com os procedimentos da chegada.

O Dia 23 de outubro é para ser comemorado justamente por causa do muito que os aviadores têm contribuído para o desenvolvimento do Brasil. Tempo de celebrar esses valores de abnegação e de desprendimento pessoal de muitos. Na história, esse grande exemplo de virtude que se despiu de vaidades e que abdicou de qualquer tipo de vantagem particular. A memória que segue imortal sedimentou os ideais a todos aqueles que comandam uma aeronave e sabem que podem ajudar o Brasil com o seu trabalho.

Muitos hipotecaram as suas próprias existências sem nada exigir. Fizeram de seus ideais as suas recompensas. O tempo do vôo é o senhor do ofício aliado à vontade de voar mais para fazer mais. Transportar mais gente, remédios, mais carga e unir este Pais continental. Para isso, o Aviador não pára de estudar e pensa em cada viagem ou missão como se fosse a primeira. Rotina de homens e de mulheres que um dia sonharam, se apaixonaram e fizeram dos corações nos ares suas vidas. De dia, de tarde, de noite, de madrugada, nos feriados, nos sábados e nos domingos... A missão continua e continuará sempre enquanto os céus o permitirem e assim estaremos contando a nossa história de amor à nossa gente e à nossa Pátria.

Assim são as vidas dos aviadores, elas nos contam histórias de amor.