Iraque quer mudança em acordo sobre tropas; EUA relutam

Reuters/Brasil Online - Por Mariam Karouny e Peter Graff - Reportagem adicional de Waleed Ibrahim e de David Morgan, em Washington - Via: O Globo

BAGDÁ (Reuters) - O Iraque reclamou na terça-feira mudanças no texto do novo acordo relativo à presença militar dos Estados Unidos, já que a versão original, negociada durante meses, não foi aprovada pelas lideranças políticas do país. Os EUA se disseram "relutantes" à idéia.

A demanda iraquiana, se atendida, significa a reabertura das negociações, concluídas na semana passada com um plano que previa a retirada das forças dos EUA até o final de 2011. Aparentemente, as objeções dizem respeito a detalhes, e não aos termos gerais.

"O gabinete concordou que emendas necessárias ao pacto podem torná-lo nacionalmente aceitável", disse à Reuters o porta-voz Ali Al Dabbagh após uma reunião do gabinete.

"O gabinete vai continuar suas reuniões (nos próximos dias), e os ministros darão suas opiniões, farão consultas e apresentarão as emendas sugeridas. Então isso será passado à equipe negociadora norte-americana."

O secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, expressou uma "grande relutância" diante da possibilidade de alterar-se o acordo preliminar com o governo iraquiano, que governaria a presença das tropas dos EUA no país após 31 de dezembro.

"Há uma grande relutância em avançar mais no processo preliminar", disse Gates a jornalistas em Washington. "Eu não acho que a porta esteja trancada, mas eu diria que ela está quase fechada", acrescentou.

Gates alertou que, se não houver um novo acordo sobre o status das forças ou uma renovação do atual mandato da ONU sobre as tropas dos EUA isso significará que "basicamente pararemos de fazer qualquer coisa".

Até sábado, o governo iraquiano dizia que o texto não seria renegociado, mas no domingo líderes de diversos partidos retiraram seu apoio.

Pelo texto original, os EUA só permaneceriam no Iraque após 2011 se Bagdá pedisse, e a Justiça iraquiana teria autoridade para julgar militares norte-americanos que cometam crimes em suas horas de folga.

Atualmente, as tropas estrangeiras operam sob um mandato da ONU, que expira ao final do ano.

Só os grupos curdos deram apoio incondicional ao texto. Os demais rejeitaram alguns detalhes, como o mecanismo para julgar soldados dos EUA.

O deputado xiita Humam Hamoudi disse que o próprio primeiro-ministro Nuri Al Maliki, que ainda não se pronunciou em público, tem restrições.

"O primeiro-ministro disse: 'O que (os norte-americanos) deram com a mão direita eles tiraram com a esquerda. Por exemplo, disseram que as forças dos EUA vão se retirar das cidades até junho de 2009 se a situação de segurança permitir. Mas quem vai decidir isso?'", relatou Hamoudi.

Facções xiitas rivais ao governo, assim como o regime islâmico do vizinho Irã, também se opõem ao tratado, por estabelecer uma presença norte-americana de longo prazo.

Uma fonte governamental não-xiita disse que a demora no acordo se deve a políticos xiitas que estão sendo pressionados pelo Irã. "Não há outra explicação, especialmente porque foram os xiitas que o negociaram."

Membros do governo Bush prestaram informações na sexta-feira sobre o acordo a membros do Congresso (inclusive os dois senadores que são candidatos a presidente). O acordo não necessita de aprovação parlamentar, mas a Casa Branca quer garantir amplo apoio ao texto.

O chanceler iraquiano Hoshiyar Zebari, que é curdo e se manteve leal ao acordo, disse que dificilmente ele será aprovado antes da eleição presidencial norte-americana do dia 4.


EUA pressionam para permanecer no Iraque até 2011

Robert Gates afirma que falta de acordo sobre presença dos EUA poder ser 'desastrosa'.

Da BBC - Via: G1

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, afirmou nesta terça-feira que se o governo iraquiano não aceitar o acordo que estabelece as condições para que as tropas dos Estados Unidos permaneçam por mais três anos no país, as conseqüências podem se "desastrosas".

Segundo ele, sem o acordo sobre o status das forças americanas no Iraque, os Estados Unidos terão de "parar atuar" no país.

O mandato das Nações Unidas para as forças de coalizão lideradas pelos Estados Unidos termina no próximo dia 31 de dezembro.

Se o mandato não for renovado ou se Iraque e EUA não assinarem um tratado bilateral para a permanência das topas no país, o exército americano terá que suspender suas ações no Iraque.

Durante vários meses, os governos dos dois países negociaram um pacto, cujo rascunho foi apresentado na semana passada.

O acordo prevê a permanência de tropas dos Estados Unidos no Iraque até o ano de 2011 e confere autoridade limitada ao país, caso queira processar soldados americanos.

Mas políticos iraquianos manifestaram desacordo com o documento e um porta-voz do gabinete do governo, Ali Dabbagh, afirmou nesta terça-feira que serão necessários "ajustes para que o acordo seja nacionalmente aceito".

Ele não especificou quais as modificações que a coalizão que governa o Iraque pretende fazer.


Relutância

Segundo Robert Gates, o governo americano está "relutante" em renegociar o que já foi estabelecido entre as partes.

"Nós precisamos que o acordo seja assinado. É um bom acordo, bom para nós e para eles. Ele realmente protege a soberania do Iraque".

Falando a jornalistas na sede do Pentágono, o secretário de Defesa dos EUA afirmou que alternativa de solicitar à ONU um novo mandato para as forças americanas no país não é a "melhor opção".

"Esta não é uma solução garantida", disse.

Para que exista um novo mandato para as forças da coalizão no país, é necessária a aprovação do Conselho de Segurança da ONU.

Segundo analistas, a decisão pode sofre o veto da Rússia.


Protestos

No último sábado, cerca de 50 mil simpatizantes do clérigo xiita Moqtada al-Sadr fizeram uma passeata em Bagdá em protesto contra planos de prolongar a permanência das tropas americanas no país.

Carregando cartazes e gritando palavras de ordem como "Vão embora, ocupantes!", a multidão de xiitas, na sua maioria rapazes jovens, atravessaram a capital iraquiana, do bairro Cidade Sadr até a região central.

O correspondente da BBC em Bagdá, Jim Muir, afirmou que a manifestação deste sábado é uma prova de que a oposição do grupo militante liderado por Moqtada al-Sadr à presença americana tem forte apoio entre os xiitas do país.