Novos satélites agitam mercado na AL

Ana Bizberger, pesquisadora da Convergência Research: a frota de
satélites em operação voltados para a América Latina cresceu 104% desde 2000

Heloisa Magalhães, do Rio - VALOR ONLINE

O mercado latino-americano de serviços de satélite responde por apenas 10% do faturamento mundial do setor e, ainda é apontado como de baixo retorno para as operadoras do setor. Por isso mesmo, as companhias que atuam nesse segmento estão atentas à chegada de novos concorrentes: os governos da Venezuela, Argentina, Colômbia e dos países andinos e possivelmente o brasileiro.
Leo Pinheiro/Valor
Ana Bizberger, pesquisadora da Convergência Research: a frota de satélites em operação voltados para a América Latina cresceu 104% desde 2000

Julio Duran, da venezuelana Vedesat, garante que o objetivo de seu país é usar o satélite para projetos sociais nas áreas de saúde, educação e levar banda larga aos mais carentes. A Venezuela criou um fundo com apoio da CANTV e da petroleira PDVSA e está investindo US$ 400 milhões no projeto. O satélite, batizado de Simon Bolívar, está sendo construído na China e engenheiros do país de Hugo Chávez acompanharam de perto.

Na Argentina, a proposta é unir o social com o comercial. A Arsat quer lançar três satélites, o primeiro com a previsão de entrar em órbita em 2012. Mariano Goldschmidt, diretor da operadora, não informa com detalhes a origem dos recursos para o primeiro satélite. Diz apenas que estão sendo investidos US$ 200 milhões financiados pelo governo federal e por bancos de desenvolvimento. Há planos de abrir o capital da empresa.

No Brasil, há o projeto Gesac (Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão). A proposta é de lançamento de três satélites para levar a internet para áreas carentes e distantes. Na Colômbia, no México e no Equador os satélites planejados também têm perfil social e de segurança nacional. Os países da comunidade Andina estão negociando com um operador a colocação temporária de um satélite na posição orbital a que têm direito e em 2011 seria lançado um próprio, informa a pesquisadora Ana Bizberge, da Convergência Research.

Segundo Ana, de 2000 para cá a frota de satélites voltados para a América Latina cresceu 104%. Há 12 lançamentos de novos satélites previstos para os próximos cinco anos. Serão 58 atendendo a região. A SES/New Skies/Americon terá novos quatro; Intelsat lançará três satélites; a Stamex um; aHispasat em 2009 lançará o Amazonas 2; e Telesta, mais um este ano.

A questão é dividir o mercado. Daniel Goldberg, da Telesat, frisou que a crise financeira mundial não deve atingir esses projetos que são de alto custo, mas longa maturação e planejados com muita antecedência. Mas lembrou que o setor enfrentou vários desafios nos últimos anos. Houve consolidação de fabricantes e de empresas que fazem lançamentos aumentando muito os custos em todo mundo, com, inclusive, valores dos seguros.

Em paralelo, o coro dos dirigentes das operadoras de satélites presentes hoje em seminário no Rio promovido pela Converge Comunicações foi em torno dos preços para a América Latina. Segundo os executivos, a região responde por peço do MHz abaixo da média internacional mas com taxação de impostos muito mais alta do que na Europa, Ásia, Estados Unidos e até na Africa.

Por isso muitas empresas, por vários anos, vinham direcionando os satélites para outros mercados, lembrou Jurandir Pitsch, da SES New Skies, com sede em Luxemburgo. Segundo ele, o Brasil está entre os poucos países onde paga-se pela licença. " Nos Estados Unidos, basta ir a FCC (Federal Communications Commission, orgão regulador americano) pedir a licença e receber", disse.

A SES Newskies vai lançar, no início do próximo ano, junto com a Eutelsat, um satélite totalmente dedicado a atender dispositivos móveis, operando na chamada banda S. Será voltado para o mercado europeu e uma das facilidades vai ser de levar a TV via satélite para telefones celulares. Mas de forma diferente dos sistemas atuais para celulares que usam a a rede de telefonia.

Pitsch explica que se trata de um sistema completamente diferente do Iridium, que é voltado para intercomunicação de telefones móveis por satélite. O novo sistema será para atender também outros dispositivos móveis, como TVs em automóveis ou trens ou para atender quem andam na rua com um aparelho de TV portátil. Segundo Pitsch é um projeto de alto risco, uma vez que a SES e Eutelsat ainda não têm visibilidade de como o mercado irá se comportar diante do novo serviço.

Fonte: Valor Online por Heloisa Magalhães