A transferência de combustível no ar entre um Hércules e um F5 fez parte,
na manhã de ontem, dos treinamentos do Cruzex (Foto: Thiago Gaspar)
Fonte: Diário do Nordeste - MOZARLY ALMEIDA
O reabastecimento de querosene de avião em pleno ar pode definir uma guerra, alerta assessor do Cruzex
Emoção e demonstração de destreza marcaram as atividades desenvolvidas ontem, pela manhã, na quarta edição da Operação Cruzeiro do Sul (Cruzex IV). Os vôos, com duração de três horas, envolveram o reabastecimento no ar de aeronaves e foram registrados pelas câmaras do repórter-fotográfico do Diário do Nordeste, Thiago Gaspar, que pôde acompanhar todos os momentos dessa que, possivelmente, tornou-se uma das fases mais difíceis dos treinamentos do Cruzex.
Na maior operação de guerra combinada da América Latina, o repórter-fotográfico estava a bordo do Hércules tipo KC-105, que reabasteceu uma esquadrilha de F5 e uma outra de aviões A-1 (cada uma delas com quatro aeronaves).
O Hércules usado no treinamento tinha a capacidade para transportar 20 toneladas de carga, passageiros ou combustível. No caso configurado — ataque aéreo —, a aeronave que garantiu o reabastecimento dispunha de dois tanques de combustível interno, além de combustível nas asas.
O reabastecimento, contudo, foi real e exigiu toda a precisão e perícia indispensáveis a uma operação do gênero. “Um vôo de risco”, assim classificou o reabastecimento no ar o tenente-coronel Edmilson Leite Guimarães, da Força Aérea Brasileira (FAB) e assessor de Comunicação do Cruzex.
Ontem, para efetuar o suprimento de combustível o Hércules liberou um mangueira em direção ao F5 (no caso dessa esquadrilha), na altura da extremidade da asa da aeronave que iria receber o querosene. Para que a transferência pudesse ser efetuada, o avião receptor também estendeu uma espécie de mangueira com uma cesta de forma cônica, onde o dispositivo do Hércules se encaixou. O fornecimento foi feito numa viagem a 500 quilômetros por hora. Porém, o mais difícil foi a aproximação das duas aeronaves, mais até que a necessidade de encaixar os equipamentos que possibilitam a transferência, feita graças a comunicação via rádio.
“Nosso pessoal tem toda uma preparação, mas não deixa de ser arriscada a aproximação de duas aeronaves, uma delas superlotada de combustível”, observou o tenente-coronel Leite. Ele explicou que esse tipo de atividade requer alta precisão sobretudo do movimento da aeronave receptora, que precisa impor uma velocidade maior para encaixar seu ponto certo de receber o combustível na mangueira de transferência. “O abastecimento no ar pode definir uma guerra”, disse, explicando porque os treinamentos simulados investem nesse tipo de missão.
Ontem, as aeronaves de guerra decolaram da Base Aérea por volta das 7 horas da manhã, com apenas o piloto. O combate simulado envolveu o espaço aéreo do Ceará e Rio Grande do Norte, sendo que reabastecimento aconteceu sobre os céus de Baturité.
As manobras sem disparo, é bom que se diga, simulou uma guerra entre o país azul (Brasil, França Chile, Uruguai e Venezuela) e o país vermelho (a FAB). “Buscamos treinar nosso pessoal na defesa do espaço aéreo nacional”, disse o tenente-coronel.
Mais de 50 aeronaves brasileiras e cerca de 40 estrangeiras participam, diretamente, da guerra simulada que vem acontecendo na Operação Cruzeiro do Sul (Cruzex), iniciada em 1º deste mês e fica encerrada amanhã. O Cruzex é o maior exercício de combate aéreo combinado da América do Sul e é coordenada pela Força Aérea Brasileira. Segundo a FAB, o treinamento tem a finalidade de desenvolver o aprendizado na condução de operações aéreas envolvidas no planejamento de operações combinadas com países aliados.
Além disso, a operação busca, também, treinar os militares da FAB para operar dentro da mais moderna estrutura de comando e controle unificado do poder aéreo, nos mesmos moldes utilizados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na ocorrência de conflitos internacionais. O Cruzex IV conta com a participação das forças aéreas da França, Argentina, Chile, Uruguai e Venezuela.
A Operação envolve, também, a presença de observadores das forças aéreas da Colômbia, Espanha, Peru, Estados Unidos e Paraguai. Assim, as simulações possibilitam um maior intercâmbio de experiências e criam um clima de confiança mútua entre os países participantes.
Cruzex 2008 - Operações "Agressors" Em cinco dias de operações aéreas, pilotos da FAB operando como "agressors" já superaram as ações da última edição do exercício multinacional DEFESANET - Kaiser Konrad |
Os "agressors" foram escondidos pela Força Aérea Brasileira. No Portal da Cruzex não há menção alguma sobre quem são, de onde vem e aonde operam. Silenciosamente, eles estão escrevendo, mais uma vez, a história da FAB.
Os Agressors (vermelhos) estão sediados na Base Aérea de Fortaleza. Seus esquadrões componentes são:
1°/14º GAV – Esquadrão Pampa – Canoas/RS | |
3º/10º GAV – Esquadrão Centauro – Santa Maria/RS | |
1º/4° GAV – Esquadrão Pacau – Natal/RN Seis AT-26 Xavante com dois reservas para voar missões de ataque com quatro aeronaves |
Nesta edição da Cruzex a FAB decidiu adotar realmente o conceito de Agressors utilizando estas aeronaves para treinar a Força Aérea Azul, da Coalizão, não tendo necessariamente o objetivo de vencer os combates aéreos.
Nos dois primeiros dias da manobra o Esquadrão Pampa não fez uso de armamento BVR, somente de curto-alcance, utilizando táticas “suicidas”. Posteriormente, utilizaram as mesmas táticas, só que desta vez fazendo uso do míssil BVR Derby, e nos dois últimos dias as táticas de combate além do campo visual foram aprimoradas para aumentar o grau de dificuldade do exercício.
F-5 M do PAMPA
As forças azuis combatem com um número de aeronaves três vezes maior que as vermelhas. Normalmente são quatro Agressors contra doze da Coalizão. Em determinada missão, uma Esquadrilha de Agressors do 1º/14º GAV ficou completamente sem mísseis, e um dos caças teve que manobrar para utilizar o infravermelho numa perseguição a um Mirage 2000. Um dos pilotos ficou sem combustível e teve que abandonar o exercício para não sofrer uma pane seca.
Para dificultar ainda mais o trabalho dos pilotos do Esquadrão Pampa, eles não estão fazendo uso de Datalink, apenas de GCI (Controle de interceptação realizado do solo), o que está deixando suas ações mais restritas.
Mesmo com todas as dificuldades, Os pilotos do Esquadrão Pampa estão superando as ações obtidas na última Cruzex, dois anos atrás. Na época, seus pilotos ficaram famosos por derrubar três M2000 franceses. A informação não tinha sido admitida pela Armée de l’Air e recentemente foi questionada pelo comandante de uma outra unidade de caça da FAB.
Nesta semana, um único piloto do 1º/14º GAV já abateu em combate a curta distância (sem BVR) dois Caças Mirage 2000 da Força Aérea Francesa, e um F-5 Tiger III da Força Aérea do Chile. Este novo feito também foi repetido por vários outros pilotos do mesmo esquadrão, o que comprova o alto nível operacional desta tradicional unidade, já chamada de a elite da aviação de caça da FAB.
AMX do Centauro
Enquanto o Pampa busca a Superioridade Aérea na Zona do exercício, os pilotos do Centauro e do Pacau esquivam-se da defesa aérea da Coalizão para escolher seus alvos e realizar as missões de ataque ao solo.
O Esquadrão Centauro foi a última unidade de da FAB a receber o AMX, em 2001. Além disso, possui o recorde de permanência de vôo da FAB, 10h05min de Santa Maria/RS a Natal/RN. Nesta semana o esquadrão completa 30 anos de operação.
Xavante do PACAU
Causou surpresa o Pacau não ter levado à Cruzex seus Impala, que tecnologicamente são muito superiores ao Xavante. De qualquer forma, este esquadrão, até 2012, será transferido para Manaus onde vai operar caças F-5 M recém adquiridos da Jordânia, e será a primeira unidade sediada na Amazônia Brasileira a operar vetores supersônicos.
Segundo fontes de Defesanet, a FAB não quer mais mostrar sua capacidade operacional, como ocorreu na Cruzex III e no Red Flag, limitando aos experientes pilotos dos três esquadrões agressores a tarefa de treinar a Força de Coalizão.
A necessidade de uma aeronave com maior capacidade de armamento, autonomia e performance é um consenso entre os pilotos brasileiros que participam da manobra.
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