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A FAB, o Pentágono e o bastidor do projeto FX2

Marcelo Ambrosio - Jornal do Brasil - JB

Em uma segunda tentativa, o chamado projeto FX-2 demodernização da FAB caminha para uma conclusão com apenas três caças. Na concorrência anterior, no governo FH, eram cinco numa negociação na qual o poderio militar e estratégico tinha tanto peso quanto o offset, a contrapartida comercial. Para quem não sabe, em licitações dessa monta, US$ 2,5 bilhões, por alto, quem adquire o bem só o faz se o vendedor gastar o equivalente em mercadorias do país.

Comentei outro dia em um artigo que o favorito dos pilotos era o russo Sukhoi 35, dada a sua capacidade de manobra e enorme autonomia. Os jaguares de Anápolis também admiravam o pequeno Gripen, sueco, por sua maleabilidade, mas torciam o nariz pelo reduzido alcance de vôo, que os obrigaria a abastecer em vôo duas vezes caso tivessem de interceptar um intruso na fronteira com a Venezuela. Os Mirage 2000 traziam seu favoritismo baseado na longa experiência dos caçadores com esse tipo de aeronave. Com menos chances, vinham o F-16 americano e o Mig-29 russo. Como alternativa barata, corriam por fora os Kfir israelenses, espécie de Mirage genérico. De segunda mão, saiam pela bagatela de US$ 1 milhão por mês em leasing.

Lembro que, na época, o Brasil não obteve do governo americano as condições que desejava para o F-16. Queria um pacote que deixasse o país no nível do Chile, cujas esquadrilhas têm radares de longa distância e mísseis ar-ar. O Pentágono até poderia ceder o radar, mas para o armamento exigia que os foguetes ficassem sob sua guarda, como faz com a Tailândia. Para o governo, não era atraente, tanto que enquanto as negociações corriam, técnicos desenvolviam em Israel um tipo de chip barato, não reutilizável, capaz de transformar um foguete cego em um míssil inteligente, controlado pelo radar. Uma idéia genial.

Na atual concorrência, essa despesa pode ser desnecessária. Os três jatos qualificados são o Gripen, o Rafale (surpresa, por ser mais caro) e o F/A-18E/F Super Hornet. No artigo que fiz comentava da aposta da Boeing, que além de ter enviado representantes do programa há mais de um ano a Brasília - um deles eu conheci - montou uma operação sob medida para a FAB, inclusive com o deslocamento de uma engenheira brasileira, Márcia Costley, para aproximar o jato ao máximo da cultura e das exigências dos Jaguares da 1ª Ala de Defesa Aérea. Ao contrário do que houve na primeira licitação, dessa vez as portas estão abertas.

Em um dos últimos atos - pelo menos esse foi sensato - da administração Bush na área de Defesa, os EUA aprovaram a transferência completa, de 100%, de toda a tecnologia embarcada nessa aeronave, muito utilizada pela aviação naval dos EUA. Isso significa que os militares terão os radares que permitirão trazer o Brasil para um status de potência regional equivalente à sua dimensão política e estratégica - hoje somos a quarta força do continente, atrás de Venezuela, Chile e Peru. Não só saberão como operar, mas terão acesso aos secretíssimos softwares que os controlam. As conversas são em nível tal que o interlocutor americano na atual fase da concorrência é uma das mais altas patentes à frente do Pentágono. A crença é que esse status continue assim com Barack Obama no Salão Oval.

Os concorrentes, claro, não estão quietos. Esta semana, pelo menos três lobistas de altíssimo quilate circulavam pela capital federal. E lembro que o fabricante do Gripen acenou com um modelo especial para o Brasil com maior autonomia de vôo. Para os russos, que ficaram de fora, a sensação é a de que o jogo está definido a favor dos americanos. O sinal disso, garantem, foi a inédita operação de troca de reais por dólares fechada pelo Federal Reserve com o Banco Central daqui na semana passada, um mimo para adoçar a boca. Já analistas dos EUA acreditam que a Rússia perdeu o negócio pela rapidez com que equipou a força aérea de Hugo Chávez com os Sukhoi. A operação desestabilizou mais o balanço estratégico na América do Sul, fator que agora pesa nosso favor.