MAR-1 – Míssil anti-radar (equivalente ao AGM-88 HARM)

Mectron exportará 100 mísseis anti-radar para o Paquistão

Em meio à crise na Ásia, Brasil vende mísseis a Islamabad

Para Jobim, vetar operação seria acusar governo paquistanês de terrorismo; negócio com a Mectron terá garantia do Banco do Brasil

Fonte: Folha de São Paulo

ELIANE CANTANHÊDE - COLUNISTA DA FOLHA
IURI DANTAS - DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
IGOR GIELOW - SECRETÁRIO DE REDAÇÃO - DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Passando ao largo da tensão diplomática entre Índia e Paquistão por causa dos atentados que causaram 172 mortes em Mumbai, o Brasil concedeu ontem um seguro de crédito à exportação de cem mísseis produzidos pela empresa paulista Mectron para o governo paquistanês equipar seus aviões de combate.

A Embaixada da Índia não emitiu nenhuma opinião sobre o caso, mas enviou representante ao Itamaraty para consultar o governo brasileiro sobre a decisão. O embaixador indiano estava no Rio e foi informado por telefone.

O contrato é de 85 milhões, e Islamabad exigiu que o governo brasileiro entrasse como "avalista" financeiro e político do negócio, que se arrastava há mais de um ano -a assinatura do protocolo de intenções entre Mectron, Paquistão e Força Aérea Brasileira havia ocorrido em abril. A garantia financeira, um seguro de crédito de 25 milhões, será dada pelo Banco do Brasil.

A decisão foi tomada em reunião extraordinária da Camex (Câmara de Comércio Exterior) ontem, convocada pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim. Dois dos participantes questionaram politicamente a decisão neste momento em que a Índia acusa o Paquistão de envolvimento, ainda que indireto, com os atentados.


Os dois países, potências nucleares, já foram à guerra três vezes desde que se separaram em 1947, com a independência do Império Britânico.

O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) perguntou a Jobim: "Muito bem, mas e a questão geopolítica?"

Em seguida, o secretário-geral das Relações Exteriores, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, disse que temia reações internas e externas à decisão neste momento. "Fico muito preocupado", declarou na reunião, segundo relatos ouvidos pela Folha.

Diante dos questionamentos, Jobim afirmou que a negociação é entre países. "O negócio é com o governo paquistanês, e não com terroristas do Paquistão. Se cancelássemos o negócio, estaríamos atribuindo ao governo paquistanês atividades terroristas."

Bernardo e Guimarães concordaram e votaram a favor. "Realmente não podemos acrescentar um elemento de julgamento na nossa decisão. Negar, seria julgar o governo do Paquistão", disse o diplomata na reunião em que representou o chanceler Celso Amorim.

O Paquistão pressionava pela decisão brasileira havia meses, mas uma coincidência chamou a atenção de quem acompanha o mercado de armas: a intermediação da venda foi feita pelo mesmo grupo paquistanês que ajudou o governo russo a vender 12 helicópteros de ataque ao Brasil na semana passada. A proximidade poderia indicar, segundo analistas, um "pacote fechado" em duas pontas pelos intermediários.

Os mísseis em questão são do modelo MAR-1. É um míssil anti-radiação, ou seja, ele captura sinais de radar e persegue a fonte emissora. O MAR-1 é especificado para atingir alvos emissores de radar em terra -ou seja, baterias antiaéreas. Começou a ser desenvolvido em 1998 pela Aeronáutica e a Mectron e sofreu boicote no ano seguinte dos Estados Unidos, que vetaram a venda de uma antena de seu sistema receptor de radar por considerar que estaria permitindo a inserção de uma nova tecnologia militar na América do Sul.

MAR-1 em testes no AMX

A solução encontrada foi improvisar um produto nacionalizado. Deu certo, e o míssil já está em fase de ensaio operacional. Só a FAB investiu cerca de US$ 26 milhões no projeto. O MAR-1 foi desenhado para ser instalado no caça de ataque a solo AMX, mas é facilmente integrado a aviões como os Mirage paquistaneses.

Segundo a Folha apurou, o Paquistão vai adiantar parte do contrato para que a Mectron amplie sua capacidade de produção. Com o adiantamento, a Mectron conseguirá fabricar cinco mísseis por mês, contra apenas um hoje. Não será, contudo, com esse lote de produtos que o Paquistão terá algum tipo de vantagem tática ou estratégica numa hipotética guerra com o eterno rival.

Nota: Algo me diz que alguns destes misseis vão acabar na China onde copiados