Estranho acidente ameaça os F-16

Fonte: Jornal de Notícias - CARLOS VARELA

Um estranho acidente ocorrido ontem na Bélgica com um F-16 vai levar àquele país a comissão de investigação da FAP para avaliar a origem do problema e tirar a limpo se é caso isolado ou não, tendo em conta a segurança da frota.

O piloto está bem e a aeronave, um caça F-16 na versão MLU, não sofreu danos de monta, mas fontes militares manifestaram ao JN o quão estranho foi o acidente, com a aeronave a ter uma falha nos travões na altura em que aterrava e o piloto, acto contínuo, a ejectar-se, já com o caça pousado no solo. "São duas situações que não são nada habituais", adiantou ao JN um oficial na reserva. E para aumentar o carácter ainda mais insólito do incidente, o F-16 sem piloto acabou por rolar sozinho, imobilizando-se só no fim da pista.

A Comissão de Investigação de Acidentes com Aeronaves deverá hoje seguir de Falcon para a Bélgica, para avaliar se o problema nos travões teve a ver apenas com aquela aeronave ou se, pelo contrário, será extensível à restante frota. Se assim for, toda a frota de 19 F-16 terá que ser revista, o que poderá obrigar à paragem.

"É muito cedo para falar nesses termos", comentou, a propósito, ao JN uma fonte oficial da FAP. "Não avançamos qualquer razão nem hipóteses, porque isso vai caber à Comissão de Investigação", apontou a mesma fonte.


A frota a voar de F-16, com 19 aeronaves, não vai parar e a operação dos aviões será regular, mas até haver conclusões por parte da Comissão (data que não é ainda previsível) podem vir a ser dadas instruções para haver um especial cuidado com os travões.

É o terceiro caso de acidente com a frota de F-16, o primeiro ocorrido em 9 de março de 2002, quando um caça se despenhou na Base Aérea n.º 5, em Monte Real, provocando a morte do piloto. O segundo caso ocorreu já em Janeiro deste ano, no dia 28, com uma aeronave que efectuava um voo de experiência, mas o piloto detectou um problema que não permitia uma aterragem segura e acabou por se ejectar, depois de ter desviado o avião para uma zona não habitada, onde se despenhou, tal como na altura foi noticiado.

Desta vez, os problemas também envolveram a manobra de aterragem, mas já na altura em que o caça tinha as três rodas pousadas no solo, na base aérea belga de Florennes. "O piloto começou a travar, seguindo os procedimentos, e foi nessa altura que os travões não responderam".



A reacção do piloto foi ejectar-se logo que percebeu que não conseguiria dominar a aeronave, mas a Força Aérea defende que o piloto, um capitão com pouco mais de 30 anos, agiu de acordo com os regulamentos, que determinam essa operação.Estranhamente, no entanto, o F-16 continuou a rolar sozinho na pista e acabou por se imobilizar no seu término, já na zona de gravilha, usada para ajudar as aeronaves a imobilizarem-se, mas a verdade é que o F-16 nem sequer apresentava danos de maior.

A FAP considera, no entanto, que o piloto tinha uma experiência de "10 anos de aviões a jacto" e que não entrou em pânico, limitando-se a seguir o que está estabelecido nos regulamentos de segurança de voo.

A favor do oficial, não obstante o posto, joga o facto de, segundo a Força Aérea, o capitão estar na Bélgica para receber um curso de comandante de formação, assim como mais cinco oficiais, um tipo de instrução que é apenas dada a militares já com experiência de voo.

O F-16 MLU é uma versão avançada do avião na sua configuração base e custa cerca de vinte milhões de euros.