Vantagens da aliança Brasil-França
Fonte: Paraná Online Por: Léo de Almeida Neves
Ao mesmo tempo em que lançou em dezembro último o Plano Nacional de Defesa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou com o presidente francês Nicolas Sarkozy importante acordo na área militar, que envolve a construção em parceria com o Brasil de 50 helicópteros e de quatro submarinos convencionais e um movido a propulsão nuclear, que já está sendo desenvolvido pela Marinha em Iperó, São Paulo. Os valores pertinentes são de elevado montante, com especulação na imprensa que poderão chegar a R$ 28,6 bilhões, dos quais R$ 19,9 bilhões destinar-se-ão a empresas francesas.
O aspecto novo nesse entendimento bilateral será a transferência de tecnologia de geração avançada para o Brasil em áreas ligadas à defesa. Ressalte-se que do chamado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), países emergentes economicamente e de grande extensão territorial, o Brasil é o único despreparado militarmente. A Rússia, como herança da extinta União Soviética, acumula gigantesco arsenal de bombas atômicas e de hidrogênio, transportáveis em aviões e submarinos, podendo ser arremessadas através de foguetes intercontinentais. É numerosa sua frota de submarinos nucleares e dispõe de aviões de combate que se equiparam aos dos Estados Unidos e da União Européia. A República Popular da China conta com forças armadas de contingente humano superior ao dos Estados Unidos, embora com armas menos sofisticadas: tem artefatos nucleares, participa da corrida espacial e avança no poderio bélico com expressivos gastos orçamentários. A Índia já domina as explosões nucleares e se moderniza militarmente despendendo amplos recursos, porquanto enfrenta contendas de fronteira com o Paquistão, inimigo de duas guerras, cujas hostilidades são mais de caráter religioso desde o fim do domínio do império britânico. O Brasil é um país praticamente desarmado, contrastando com o fato de ser detentor de vastas riquezas minerais, dono da maior floresta do universo e de enormes reservas de água, com longa costa marítima, explorando petróleo na plataforma submarina e na área do pré-sal até 300 quilômetros do litoral.
É benfazeja a aproximação Brasil-França com a qual temos tradicionais afinidades culturais e até alguns anos antes da eclosão da 2ª Guerra Mundial mantínhamos cooperação de suas missões militares, comandadas pelo General Gamelin, que nos traziam experiências e ensinamentos. Para a formação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que lutou contra os alemães na península italiana em 1944/45, o Brasil recebeu armamentos dos Estados Unidos, e na região de conflito ficamos sob o comando norte-americano, e daí por diante criamos estreitos vínculos militares com a América do Norte. No derradeiro governo do presidente Getúlio Vargas (1951 a 1954) foi assinado o Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, que perdurou até a gestão do presidente general Ernesto Geisel, a quem coube denunciar e dar fim a esse pacto.
Na sua recente estada no Rio de Janeiro, o presidente Sarkozy disse com entonação nas palavras que “o Brasil deve participar como membro efetivo do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e das reuniões do G8, grupo que reúne as nações mais ricas do mundo”. Aliás, ele acrescentou China, Índia e África do Sul, e igualmente o Egito em afago aos países árabes. Sarkozy também nos enalteceu ao proclamar: “A França pensa que o Brasil poderoso é um elemento de segurança e estabilidade para o mundo”. Os dois países firmaram protocolo adicional prevendo a criação de um Centro Franco-Brasileiro de Biodiversidade Amazônica, focado na pesquisa científica e tecnológica, cujos núcleos serão instalados na região fronteiriça entre o Amapá e a Guiana Francesa.
Se na futura aquisição de aviões caça para a FAB prevalecer a escolha do Rafale, construído pela Dassault Aviation, estará ampliada e consolidada a aliança estratégica Brasil-França, que considero adequada ao interesse nacional, garantindo-nos autonomia e vontade soberana.
Léo de Almeida Neves é membro da Academia Paranaense de Letras, ex-deputado federal e ex-diretor do Banco do Brasil.
Nota do Blog: Com menos de uma semana para que a Dassault, a Boeing e a SAAB entreguem suas propostas para a 2a fase da Licitação do F-X2, em resposta ao RFP (Request for Proposal) emitido pela FAB. Começam os "lobbies" já que o dia 2 de fevereiro é a data limite...
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