Neuron toma forma


Em fevereiro de 2006, a DGA (Délégation Générale pour l’Armament), órgão estatal francês que coordena os projetos militares, elegeu a Dassault Aviation como contratada principal e responsável pelo projeto do Neuron, um veículo demonstrador de tecnologia do futuro veículo aéreo de combate não tripulado (UCAV) europeu.

O projeto foi lançado e 85% do orçamento a ele destinado ficou a cargo da DGA. Posteriormente, mais cinco países entraram no programa: Itália, Suécia, Espanha, Grécia e Suíça, representados pelas empresas Alenia Aeronáutica, Saab, EADS-CASA, HAI e Ruag, respectivamente.

Com a adesão de novos parceiros, durante o primeiro semestre de 2008, todos os principais sistemas do Neuron foram reavaliados conjuntamente em suas concepções garantindo, assim, uma coerência global do programa. O design está quase concluído, abrindo caminho agora para um trabalho mais pormenorizado dos sistemas e estruturas.

A Ruag Aerospace, da Suíça, conduziu em 2008, ensaios específicos em túnel de vento na aerodinâmica do Neuron. Os primeiros ensaios ajudaram a identificar as condições que poderiam afetar a aerodinâmica quando o veículo está próximo do solo (efeito solo), enquanto outros estudaram as conseqüências de choques de pássaros sobre o bordo de ataque das asas da aeronave. Os resultados desses testes foram muito positivos, permitindo a definição da forma final.Ao mesmo tempo, o protótipo AVE-C realizou um vôo de demonstração em 30 de junho de 2008. O AVE-C possui um desenho similar ao Neuron definitivo e auxiliou na confirmação das possibilidades do primeiro protótipo do UCAV europeu realizar vôos automáticos bem sucedidos, incluindo decolagens e aterrissagens. Em 10 de outubro de 2008, como parte da campanha de testes das novas superfícies de controle, o AVE-C realizou testes de controle de guinada usando vetoração do empuxo do motor.

Refinar as características furtivas (stealth) da aeronave é um dos principais objetivos do programa Neuron, notadamente nos aspectos assinatura radar e infra-vermelha. Os subconjuntos estruturais mais críticos já foram definidos e produzidos, possibilitando o prosseguimento do desenvolvimento e validação de processos de fabricação e montagem. Um conjunto completo, composto pelo sistema de escape de gases quentes do motor e pela porção traseira da fuselagem está pronto, sendo que as partes foram montadas pela parceira grega Hellenic Aerospace Industry (HAI). Essa seção já foi acoplada com o motor Rolls-Royce Turbomeca Adour e testes mecânicos e de integração foram realizados neste mês de janeiro.

O centro de desenvolvimento experimental da Dassault Aviation ficou encarregado de produzir uma entrada de ar experimental do motor, enquanto a divisão de Biarritz está construindo o conjunto completo dos bordos de ataques das asas, com cerca de dois metros de comprimento cada.

O vôo inaugural do Neuron está agendado para o final de 2011. Os ensaios de vôo serão realizados ao longo de um período de 18 meses, começando na França (Istres) e, em seguida, serão executados na Suécia e Itália. Segundo seus idealizadores, o triunfo do projeto Neuron não é somente a concepção de uma aeronave de combate não tripulada européia, mas também a promoção de uma participação pan-européia na indústria da aviação militar.



O “nEUROn”: o UCAV europeu… O Demonstrador de uma próxima 6ª geração de aviões de combate?

por Clavis Prophetarum - Quintus

O programa nEUROn é o produto de um consórcio que reúne várias empresas aeronáuticas europeias liderado pela francesa Dassault, em parecria com a sueca Saab, a grega EAB, a RUAG Aeroespacial suíça e ainda a espanhola EADS CASA e a italiana Alenia. Esta verdadeira “União Europeia” da construção aeronáutica pretende produzir um demonstrador tecnológico que possa provar (ou não) a viabilidade de uma aposta europeia num avião de combate não tripulado (UCAV) ou se, pelo contrário, a Europa deve repetir ao sucesso do único avião de 5ª geração do mundo, o F-22 Raptor ou a resposta russa ao mesmo, o PAK-FA.

O programa nEUROn arrancou em 9 de Fevereiro de 2006 através de um contrato do governo francês para que a Dassault Aviation desenhasse e desenvolvesse um UCAV. As raízes do programa recuam contudo até 2003 quando foi designada pelo governo francês como o primeiro contratante do programa, tendo sido apresentada como tal no Paris Air Show de 2003. Em 2005, no mesmo Paris Air Show, a Dassault exibiria uma maquete à escala real do demonstrador de UCAV.

Pela primeira vez, antes de se partir para um projeto tão complexo como o primeiro aparelho de 6ª geração, a solução não vai perder longos anos em negociações entre diversos países e entre diversas empresas, mas arranca com a iniciativa de um único governo, a França e de uma única empresa, a Dassault. O modelo anterior, que esteve por exemplo na base do programa EuroFighter2000 que produziria o atual Typhoon dependia de que os vários parceiros tentavam obter conhecimentos que não tinham. Agora, sob este novo modelo, cada parceiro no nEUROn divide o trabalho em função dos conhecimentos e especialidades que já dominam, mas todas as parcelas estão a ser supervisionadas pela Dassault, sobretudo, o desenho geral do UCAV, a sua montagem final, os testes globais, etc. As capacidades Stealth do nEUROn estão também a cargo da construtora francesa, com a Saab sueca e a Alenia italiana com responsabilidades relacionadas. Os sistemas de controlo e navegação competem à Dassault, assim como a baía de armamento e o trem de aterragem. A Thales britânica é subcontratante responsável pelo datalink com as estações de terra. A Saab construirá a fuselagem, a aviónica, os sistemas de combustível e alguns testes de voo. A Alenia terá a seu cargo as capacidades de combate do nEUROn, incluindo nomeadamente um sensor ED/IR. A EADS (CASA) de Espanha, responderá pelas asas, estações terrestres. A “Hellenic Aerospace Industry” grega construirá parte da fuselagem dianteira, o nariz e da integração. A RUAG suíça testará no tunel de voo de baixas velocidades. No total, esta divisão de tarefas indica que mais de metade do trabalho já não se encontra em mãos francesas.

O projeto deverá produzir uma solução capaz de responder à necessidade europeia de substituir os aparelhos que equipam as suas forças aéreas até 2030. Até esse ano, os parceiros do programa nEUROn terá demonstrado a validade das tecnologias para controlar um veículo não tripulado, testando igualmente todos os sistemas de reserva que os níveis de segurança que o aparelho terá que ter exigem. O demonstrador terá que ser capaz de trocar dados com todas as unidades presentes no campo de batalha. O nEUROn terá que demonstrar também capacidades Stealth muito desenvolvidas, recorrendo nomeadamente à forma aerodinâmica, à ausência de cauda, a materiais com baixa assinatura de radar, baía interna de armamentos, etc.

Agora que o programa PAK-FA continua vegetando e que a ausência do Brasil parece mais do que certa… e no contexto da cada vez mais provável vitória do Rafale da Dassault no F-X2, não fará todo o sentido aproveitar o balanço ganho com esta seleção e fazer entrar a Embraer neste consórcio europeu? A construtora aeronáutica brasileira (a quarta do mundo), não terá mais know-how a entregar ao consórcio do que os atuais parceiros gregos ou suíços, por exemplo?