http://planeta.coppe.ufrj.br/midia/multimidia/2006/966.jpg

Obras da usina de ondas começam no início de 2010

Fonte: Diário do Nordeste - Por: Sérgio de Sousa

O protótipo da nova fonte de energia que será estudada no Ceará exigirá investimento de cerca de R$ 12 milhões

Depois de alguns anos de estudos, deverão ter início, em janeiro de 2010, as obras de construção da primeira usina de ondas do mar da América do Sul, a ser instalada no Ceará. A fase de pesquisas, entretanto, não terminou: a unidade a ser criada será um protótipo para analisar a viabilidade de se investir nesse tipo de energia por aqui. A previsão é de que as obras durem entre 24 e 30 meses, com a usina entrando em operação logo após esse prazo.

De acordo com o diretor de Energia da Secretaria de Infra-estrutura do Estado (Seinfra), Renato Rolim, será definido, ainda este mês, o cronograma físico-financeiro do equipamento. A expectativa é de que o investimento necessário seja de R$ 12 milhões, ficando R$ 1 milhão com o Governo do Estado e o restante com a nova parceira da empreitada, a empresa Tractebel Energia.

´Antes, o projeto era com a Eletrobras, mas não teve sucesso. Com os recursos que serão aportados pela Tractebel, através do programa de incentivo à pesquisa e desenvolvimento, nós ampliamos a capacidade da usina, que passará a ter uma potência instalada elevada de 50 quilowatts (kW) para 100 kW´, explica. Com essa capacidade, informa, é possível gerar energia para 80 famílias, dentro do programa Luz para Todos. ´Esta é uma usina piloto. Tem que ser colocada em pequena escala, para que depois possa ser elevada à larga. Portugal e Holanda já possuem usinas desse tipo em larga escala, mas ainda estamos começando os estudos por aqui´.

A princípio, a planta irá iniciar as operações com três braços, com potência entre 10 kW e 12 kW. ´Depois de seis a oito meses, verificando que o local é adequado, nós colocamos os restantes, ampliando a capacidade´, informa.

A equipe à frente do projeto, que inclui ainda Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia (Coppe) da UFRJ, definiu o lado leste do quebra-mar do Terminal Portuário do Pecém como a localização adequada para o equipamento. Rolim explica que, com a ampliação do porto, programada para o recebimento de novos projetos, como a siderúrgica, a refinaria, além do Terminal de Regaseificação e, possivelmente, um estaleiro, foi preciso redefinir o local dessa usina.

O equipamento terá também incorporado a si um protótipo de uma usina de dessalinização de água do mar. ´Isto é uma tendência mundial. O Ceará pode, daqui a uns 70, 100 anos, precisar do aporte de águas, e não temos rios suficientes onde tirar água, e poderá ser necessário retirar água do mar. Tudo isso é no âmbito da pesquisa´, esclarece o diretor da Seinfra.

Ele também aponta que a energia das ondas não é fonte viável para a atual realidade, mas para cerca de 50 anos, por não se ter ainda uma idéia precisa de quanto ela irá custar. Por esta razão, explica, a usina está sendo empreendida como estudo de viabilidade.

PARA NUTEC
Biodiesel do peixe ajudará a suprir demanda nordestina

Em 2010, todo o óleo diesel vendido no Brasil deverá ser composto de 5% de biocombustível (B5). Esta meta, além de ser um desafio na questão ambiental, é uma preocupação a mais para os produtores de insumos que geram o biodiesel.

Nesse contexto, a produção de óleos e gorduras residuais, como o biodiesel de vísceras de peixe, passam a ter maior importância na cadeia produtiva. “Precisamos desenvolver e implantar, de forma logísticamente viável, equipamentos e processos de extração desse insumo para produzir óleo refinado e suprir usinas de biodiesel no Nordeste”, afirma Ricardo de Albuquerque Mendes, diretor de Inovação Tecnológica do Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec).

Segundo ele, o Ceará precisará produzir 2 bilhões de litros de biocombustível por ano para atender à demanda. Por isso, O Nutec, através do Laboratório de Referência em Biocombustíveis (Larbio), tem investido nas pesquisas do Projeto Biodiesel Peixe, para implantar a tecnologia de extração de óleo das vísceras do animal, transformando o insumo em combustível. “O peixe é composto 10% de vísceras, delas extraem-se 50% de óleo resultando na produção de 90% de biodiesel”, explica Mendes.

Atualmente, o Ceará possui capacidade de produção 20 mil toneladas de tilápia por ano, mas esse potencial pode chegar a 167 mil. De acordo com o diretor do Nutec, fazendo uso em maior escala da tecnologia para desenvolver e implantar unidades de extração e beneficiamento da gordura das vísceras de peixe, o Projeto pretende minimizar o problema ambiental referente ao destino dos resíduos sólidos e contribuir para que a criação de tilápia em tanque-rede continue sendo uma atividade viável.


Geração de Energia Elétrica pelas Ondas do Mar

Segen Estefen* e colaboradores** -
Planeta Coppe

SegenArtigoScientiAmer

A busca por alternativas energéticas que causem menos impactos ao meio-ambiente passou a fazer parte do planejamento estratégico das nações. O aproveitamento do comprovado potencial energético dos oceanos configura, atualmente, como uma possibilidade promissora para produzir energia limpa. Marés, ondas e correntes marinhas são recursos renováveis, cujo aproveitamento para a geração de eletricidade registra significativos avanços tecnológicos e apresenta vantagens, em termos de acessibilidade, disponibilidade e aceitabilidade, que vêm sendo propagadas pelo Conselho Mundial de Energia (2000) para o desenvolvimento de alternativas energéticas.

Estimativas recentes indicam que a energia contida nas ondas do mar é de cerca de 10 TW (1 Terawatt = 1000 Gigawatt), equivalente a todo o consumo de eletricidade do planeta. Obviamente há restrições quanto ao uso de grandes áreas dos oceanos, devido às rotas de navegação, regiões turísticas e de lazer, assim como pelos decréscimos associados ao rendimento dos conversores. Contudo, ainda revela-se significativa a quantidade de energia dos oceanos a ser convertida em eletricidade. O percentual de 10% de aproveitamento do potencial energético total das ondas, considerado realístico para as próximas décadas, representaria acréscimo da ordem de 1000 GW na matriz energética mundial.

A geração de eletricidade pelas ondas se configura também como uma nova oportunidade para negócios no setor de energia. O aumento da demanda, impulsionado pelo crescimento da economia mundial e comércio cada vez mais globalizado, está inserido num cenário de preocupações com temas como o aquecimento global e o alto preço do petróleo. Estima-se que a consolidação da tecnologia de aproveitamento da energia das ondas se dê num prazo de 10 a 15 anos. As tecnologias que se mostrarem comercialmente competitivas irão disputar cerca de 5 % do mercado mundial de energia elétrica. Além disso, deve-se considerar que, em médio prazo, com o declínio das reservas petrolíferas, a substituição parcial por energias limpas e renováveis irá priorizar os recursos ambientais locais.

Considerando que a extração da energia eólica já se encontra em fase comercial, enquanto a extração das energias das ondas ainda está em fase de desenvolvimento, com alguns protótipos em operação, as estimativas revelam-se ainda mais positivas. Admitindo o valor de dois milhões de dólares por MW instalado de energia das ondas e um mercado correspondente a 5% da potência instalada em termos mundiais, este setor poderia movimentar recursos da ordem de um trilhão de dólares.

Tecnologia e geração

Várias tecnologias para a extração de energia das ondas já se encontram em testes no mar como, por exemplo, o dispositivo denominado Pelamis, com potência nominal 750 kW, e o projeto Limpet, com potência 500 kW, ambos lançados pelo Reino Unido; o projeto AWS, com 2 MW, da Holanda; o projeto OWC, com 400 kW, de Portugal; e o projeto Wave Dragon, com geração de 20 kW de potência na fase inicial, da Dinamarca. Estados Unidos, Canadá, Austrália, Irlanda e Japão, entre outros, são exemplos de países que também vem desenvolvendo pesquisas nesta área.

No Brasil, está prevista a construção e instalação de um protótipo piloto de 50 kW de potência, a ser expandido com a agregação de módulos para atingir 500 kW. O conceito desenvolvido pela COPPE/UFRJ, a partir de testes experimentais no Tanque Oceânico e no Laboratório de Tecnologia Submarina, é baseado no princípio de armazenamento de água sob alta pressão numa câmara hiperbárica, obtida pelo bombeamento realizado pela ação das ondas nos flutuadores. A câmara, que libera jato d’água, com pressão e vazão controlados, aciona turbina acoplada a gerador produzindo eletricidade. Este equipamento é um dos fatores de inovação que a distingue a tecnologia desenvolvida no Brasil das alternativas até então propostas em termos mundiais. Sua principal vantagem é possibilitar a simulação de elevadas quedas d’água sem que para isso seja necessário ocupar áreas de grande extensão, como exigem as hidrelétricas.

Os testes foram realizados utilizando modelo reduzido do sistema de geração, na escala 1: 6,5 (Figura 1). Nos ensaios feitos com ondas monocromáticas, o modelo demonstrou capacidade de conversão de 35% do potencial energético da onda, percentual equivalente aos melhores desempenhos alcançados até o momento por tecnologias de aproveitamento da mesma fonte. Outra vantagem do sistema é sua característica modular, que possibilita alternativas de formas geométricas para o flutuador. Além do formato retangular, também vem sendo testado no laboratório um flutuador de desenho circular, que permite igual absorção de energia para diferentes direções de propagação das ondas.

BatedoresArtigoSegenScientA
Figura 1: Modelo na escala 1:6,5 em teste no Tanque Oceânico da COPPE/UFRJ.
Cada unidade de bombeamento do modelo testado possui flutuador, braço, estrutura de fixação e bomba. Quatro destas unidades de bombeamento foram fixadas debaixo da plataforma de trabalho do laboratório, através de vigas de madeira e suportes de aço, a uma distância de aproximadamente 500 milímetros do nível da água. A bomba é sustentada pela base de fixação e a estrutura de madeira presa em quadros de aço que são aparafusados na plataforma. Dispositivo acoplado ao braço compõe o sistema de transmissão do movimento do flutuador para a bomba hidráulica. Mangueiras para alta pressão e outros acessórios interligam as quatro unidades de bombeamento à câmara hiperbárica. Uma válvula reguladora de vazão conectada à câmara (Figura 2) é responsável pela saída do jato de água para o acionamento da turbina (Figura 3), cuja pressão equivale a uma queda d’água similar a de grandes hidrelétricas, com 400 m de altura.

CamaraHiperbaricaArtSegenScient
Figura 2: Câmara hiperbárica.
TurbinaHidraulicaArtigoSegenScitAmer
Figura 3: Turbina hidráulica em operação.
Implantação da usina piloto no Brasil

A característica do mar local é que dita a capacidade de geração de uma usina de ondas. Os estudos feitos na COPPE analisaram o desempenho do modelo para as condições de mar próximo ao Porto do Pecém, litoral do Estado do Ceará, local previsto para a instalação da primeira usina de ondas do Brasil. Para tal, foram avaliadas as características das ondas, mais tarde simuladas em escala no Tanque Oceânico para testar a capacidade de geração da tecnologia nas condições específicas do local onde estará localizada a usina.

As estatísticas de ondas foram elaboradas a partir das informações e dados registrados por um ondógrafo instalado ao largo da localidade do Pecém, a 60 km ao norte da cidade de Fortaleza, em uma profundidade média de 17 metros. As medições foram conduzidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH) para subsidiar a construção do porto offshore do Pecém e seu monitoramento pós-construção. A análise dos dados obtidos durante 22 meses de pesquisa na região (1997 a 1998) indicou predominância de ondas baixas, entre 1m e 2m de altura, apesar de ter sido registrado ondas de até 2,5m (Figura 4). Todas, porém, apresentam uma distribuição bastante homogênea, apontando uma regularidade na altura significativa de onda com média anual de 1,4m (Figura 5).

UsinaOcorrenciadeAlturaArtSegemScitAmer
Figura 4: Ocorrência de altura significativa (Hs).
UsinaAlturadeOndamediaArtigoSegenScitAmer
Figura 5: Altura de Onda Média.
As ondas entre 1m e 2m contribuem decisivamente para o potencial energético do local com, aproximadamente, 90% da potência total, como mostra a Figura 6.

UsinaPotênciaFunçãoAlturaSignificativaArtigSegenSc
Figura 6: Potência em função da altura significativa (Hs).
Os períodos apresentam-se predominantemente curtos, entre 5 e 9s (Figura 7), com período médio de 7,53s. Os registros também indicam a ocorrência de ondas com períodos longos (12-20s), provenientes do Hemisfério Norte. No período analisado o sítio apresentou valores de potência média mensal variando de 6kW/m a 11kW/m e potência média anual da ordem de 7,7kW/m (Figura 8).

UsinaOcorrenciadePeriodoMedioArtigoSegenScitAmer
Figura 7: Ocorrência de período médio de ondas (T)
UsinaPotenciaMediaRecursoEnergetico
Figura 8: Potência média do recurso energético.
Supondo-se que as características do clima de ondas sejam constantes para toda a faixa dos 573 km do litoral cearense, infere-se um recurso energético da ordem de 4 GW na região. Considerando a potencia média anual da onda de 7,5 kW/m, e um rendimento da usina de 35%, vinte módulos seriam capazes de gerar 500 kW, o suficiente para abastecer com iluminação e força motriz 200 famílias.

As Figuras 9 a 11 mostram uma visão dos diversos componentes da usina de ondas, envolvendo arranjo dos flutuadores, bombas hidráulicas, câmara hiperbárica, conjunto turbina/gerador e o reservatório de água re-circulante.

BatedordeFilmePecemArtigoSegenScientAmer
Figura 9: Arranjo dos flutuadores da usina de ondas a ser instalada no quebra-mar.
BatedoresDetalheSegenScientAmer
Figura 10: Detalhes dos flutuadores e bombas hidráulicas.
ConjuntoHiperbaricaTurbinaGeradorArtigoSegenScietA
Figura 11: Conjunto câmara hiperbárica, turbina e gerador elétrico.
As pesquisas voltadas para avaliação dos recursos energéticos do mar e o desenvolvimento de dispositivos para a conversão em eletricidade são fundamentais para a expansão da aplicação desta tecnologia. Nesse sentido, a COPPE propôs à Eletrobrás a implantação do Programa Nacional de Energias Renováveis do Mar (PNERM), visando o levantamento dos recursos energéticos do mar territorial brasileiro e o desenvolvimento de conversores para o aproveitamento de ondas, marés e correntes. O potencial estimado da costa brasileira é superior a 100 GW, o que poderá agregar da ordem de 10 GW à matriz energética brasileira.

O projeto de conversão de ondas em eletricidade conduzido pelo Laboratório de Tecnologia Submarina da COPPE/UFRJ contou com o apoio da Eletrobrás, do CNPq e do Governo do Estado do Ceará.

Quadro explicativo do funcionamento da tecnologia brasileira

A Figura 1 mostra num esquema simplificado, o arranjo dos equipamentos que compõem a usina. A letra A representa o flutuador, B o braço horizontal de articulação, C a bomba hidráulica de movimento alternativo, D a plataforma de sustentação e fixação dos equipamentos, E a câmara hiperbárica, F a válvula reguladora de vazão, G a turbina hidráulica, e a letra H, representa o gerador elétrico. Através da ação das ondas, flutuadores (A) fixados em estruturas horizontais articuladas se movimentam atuando como braços de alavanca. Esses braços de alavanca (B), numa certa relação, multiplicam as forças oriundas do flutuador para acionar bombas hidráulicas (C) de movimentos alternados. Estas bombas aspiram e comprimem o fluido durante a movimentação dos flutuadores para abastecer e manter elevada a pressão da câmara hiperbárica (E). A câmara hiperbárica é previamente pressurizada contendo água e gás nitrogênio em volume fixo e permanente, caracterizando um acumulador hidropneumático. A vazão de água, que abastece a câmara hiperbárica, é então liberada na forma de jato, para acionar uma turbina tipo Pelton (G) numa vazão igual ou menor àquela enviada pelas bombas, através de uma válvula controladora de vazão (F). A rotação obtida no eixo da turbina é transmitida a um gerador elétrico (H) para conversão de energia mecânica em eletricidade.

EsquemaFuncionamentoUsinaArtigoSegenScietAmer
Esquema ilustrativo do arranjo de equipamentos que compõem a usina.
Créditos:

* Coordenador do Programa de Engenharia Oceânica da COPPE/UFRJ, onde é professor titular de Estruturas Oceânicas e Tecnologia Submarina.

** Colaboradores: Paulo Roberto da Costa, Marcelo Martins Pinheiro, Eliab Ricarte, André Mendes, Paulo de Tarso Esperança