Aeronaves da Embraer poderão ser pioneiras no uso do bioquerosene, já que a empresa brasileira é sócia da Tecbio no desenvolvimento do combustível (Foto: AFP)

Embraer na pesquisa de bioquerosene

Fonte: Diário do Nordeste

Após a desistência da norte-americana Boeing de continuar participando das pesquisas para o desenvolvimento do bioquerosene, a Tecbio — empresa cearense pioneira na montagem de plantas industriais de produção de biodiesel — agora tem como sócia no projeto a brasileira Embraer e uma multinacional da área de petróleo, cujo nome ainda é mantido em sigilo por exigência de contrato.

“Esta tecnologia não se faz em um ano. A Boeing e a Nasa (Agência Espacial Americana) saíram do projeto mas temos outros parceiros”, afirma José Neiva, sócio do engenheiro Expedito Parente na Tecbio.

O Diário do Nordeste informou, com exclusividade, na edição de 27/08/2006, o interesse da Boeing em relação ao bioquerosene. À época, um técnico da companhia, o norte-americano Danny Hatfield, esteve em Fortaleza, visitando as instalações da Tecbio no Pici.

Os testes começaram no ano seguinte, mas o desenvolvimento de um produto final pode levar anos de estudo. De acordo com Neiva, o bioquerosene substituiria o tradicional querosene de aviação (QAv), sendo menos poluente — assim como o biodiesel em relação ao diesel mineral. “O novo combustível renovável é obtido a partir de oleaginosas palmáceas, como o coco babaçu, que produz óleos laurídicos, mais leves”, diz ele, rechaçando a possibilidade de se obter o bioquerosene de plantas como a mamona, a soja, o girassol ou o pinhão manso.

O primeiro teste com o combustível ecológico foi feito em 1984, quando um avião militar Bandeirante voou de São José dos Campos (SP) a Brasília, com bioquerosene. O programa sofreu um processo de interrupção, porque na época não havia preocupação com as questões ambientais e nem com a falta do petróleo.

Hoje, o cenário mundial é diferente. O bioquerosene foi testado por gigantes multinacionais, entre as quais a Boeing, a Rolls Royce, a Shell Aviation — maior distribuidora mundial de querosene de aviação, além da Parker, a General Eletric, a Embraer e a Nasa.

Segundo José Neiva, a Financeira de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério de Ciência e Tecnologia (MC&T), está investindo R$ 7 milhões na instalação, em Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza, de um laboratório de referência internacional para novas pesquisas da equipe de Expedito Parente. “Quanto aos nossos projetos com biodiesel, estamos tentando reconstrui-los porque houve um arrefecimento do mercado”, disse.

QUIXADÁ E CRATEÚS
Ceará tem usina a todo o vapor e outra pode não ser reaberta

As duas empresas que integram o Programa Biodiesel Ceará vivem situações extremamente distintas. Enquanto a Usina de Biodiesel de Quixadá (UBQ), da Petrobras, está em plena atividade, a unidade de Crateús, da Brasil Ecodiesel pode nem reabrir as portas, após suspensão temporária das atividades. “Estamos produzindo 24 horas por dia, sem descontinuidade”, festeja João Augusto Paiva, gerente da UBQ.

Conforme Paiva, 25 milhões de litros do combustível ecológico produzido no Sertão Central abasteceram os mercados do Ceará, Piauí, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba e parte de Pernambuco. “Não registramos em nosso SAC qualquer reclamação quanto à qualidade deste produto, que sai da usina totalmente especificado para as distribuidoras”.

A primeira entrega de biodiesel da unidade de Quixadá aconteceu em outubro de 2008. Em julho, a comercialização vai girar em torno de 400 mil litros do produto. A usina da Petrobras, completa Paiva, tem 150 trabalhadores concursados. “Cerca de 90% dos funcionários mudaram para a cidade por conta do concurso. Outros 10% já eram de lá”.

O principal entrave da cadeia produtiva no Estado é a assistência técnica. “O lado de dentro do processo, a parte industrial, é simples. Contratamos assistência técnica do Agropolos para os produtores porque entendemos a complexidade desta cadeia”, diz. Este ano, a estatal investe R$ 10,6 milhões em assistência e R$ 615 mil na compra de sementes selecionadas de oleaginosas.

Prejuízos

O fechamento temporário da Brasil Ecodiesel pode ser irreversível, caso a empresa não ganhe o leilão de venda de biodiesel marcado para setembro. Segundo o deputado estadual Hermínio Resende, a empresa perdeu competitividade por falta de matéria-prima local e dificuldade de logística para trazer insumo. “A companhia ganhou só um leilão, em novembro de 2008 e está fechada por falta de contratos”.

Segundo o parlamentar da região de Crateús, entre 2006 e 2009, a empresa teve prejuízo de R$ 150 milhões. “Só para se manter fechada, a Brasil Ecodiesel gasta R$ 300 mil mensais”, diz, mas acrescenta que a companhia está em dia com seus 136 funcionários.