Após sete lançamentos bem sucedidos, sendo dois em território brasileiro e cinco na Suécia, o Brasil apresenta, no dia 6 de agosto, a primeira certificação de um produto espacial fabricado no país. O foguete de sondagem VSB-30 foi incluído no site da Agência Espacial Sueca como um dos produtos de referência no mercado internacional de lançadores de pequeno porte, utilizado em missões suborbitais de exploração do espaço.
A certificação pode ser considerada um marco para o programa espacial brasileiro, levando-se em conta os problemas enfrentados há mais de duas décadas pelo desenvolvimento do veículo lançador de satélites VLS. Em sua última tentativa de lançamento, em agosto de 2003, explodiu causando a morte de 21 técnicos.
O VSB-30 é considerado a alternativa mais interessante para substituir o inglês Skylark, que deixou de ser produzido em 1979, depois de 266 lançamentos. Os últimos lançamentos com o modelo inglês foram em 2005.
"A certificação consolida o VSB-30 como o melhor produto em sua categoria e um dos poucos no mundo com a garantia formal de qualidade, emitida por um órgão de competência reconhecida internacionalmente", afirma o diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), o coronel Francisco Carlos Melo Pantoja.
Pantoja disse que o VSB-30 é o único com capacidade para transportar cargas úteis ou experimentos científicos de até 400 quilos, permanecendo por cerca de seis minutos em ambiente de microgravidade, a uma altitude de 110 quilômetros. Mais dois foguetes serão exportados para a Europa e lançados até o fim do ano.
A entrega do certificado de homologação, pelo Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), do CTA, de acordo com Pantoja, também acelera o processo de transferência da tecnologia de produção do veículo para a indústria brasileira. Atualmente, várias empresas trabalham no seu desenvolvimento e produção: Villares, Cenic, Fibraforte, Mectron, Compsis, Avibrás, Orbital, entre outras.
"Hoje a indústria nacional participa do VLS e dos foguetes de sondagem, com o fornecimento de alguns subsistemas. Agora estão em andamento tratativas visando à transferência para a indústria nacional, por intermédio de um contratante principal, do sistema completo dos veículos lançadores", diz o diretor de Transporte Espacial e Licenciamento da AEB (DTEL), brigadeiro Antônio Hugo Pereira Chaves.
Iniciado em 1965, o programa de desenvolvimento de veículos de sondagem do CTA já produziu seis modelos de lançadores diferentes (Sonda I, II e III, VS-40 e VS-30), tendo realizado mais de 300 lançamentos, a maioria com sucesso.
"Com a saída do Skylark, o Brasil está se posicionando como o único fornecedor nessa categoria de lançador", disse o diretor da AEB. Os alemães, segundo ele, por restrições políticas, não desejam produzir foguetes, mas precisam deles para a realizar experimentos e desejam comprá-los do Brasil.
O VSB-30 é resultado de uma parceria entre o Instituto IAE, órgão de pesquisa do CTA (Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial), e o Centro Aeroespacial Alemão (DLR), que financiou parte do seu desenvolvimento. O processo de qualificação do foguete, que realizou seu primeiro voo internacional em 2005, contou com a avaliação da Agência Espacial Europeia (ESA), do DLR e da Agência Espacial Sueca (SSC), além das empresas Kayser-Threde e EADS.
Principais meios utilizados em missões suborbitais de exploração do espaço, os foguetes de sondagem, segundo Pantoja, apresentam algumas vantagens em relação a outros meios lançadores, como os ônibus espaciais. "Os foguetes de sondagem são muito mais baratos, o tempo de desenvolvimento de suas cargas é menor e as oportunidades de lançamento são mais frequentes, podendo ser feitas através de vários locais."
Por outro lado, as missões suborbitais a bordo da Estação Espacial ISS oferecem a possibilidade de pesquisas de longo prazo, podendo durar meses, mas seu custo global é considerado alto.
Segundo estimativas pesquisadas pelo diretor do IAE, o mercado global de foguetes de sondagem suborbitais, considerando apenas as aplicações civis, é de mais de 100 lançamentos anuais, para cargas úteis (experimentos científicos e tecnológicos). Em média são cobrados cerca de US$ 1 milhão por lançamento, mas existe uma expectativa de um crescimento para 1500 voos anuais se o preço do quilo de carga útil for reduzido para US$ 250.
O desenvolvimento do VSB-30 teve início em 2001 e investimentos da ordem de R$ 5 milhões, sendo que 40% desse valor foi assumido pelo DLR da Alemanha. O último lançamento do VSB-30 em solo brasileiro aconteceu em julho de 2007, mas parte dos experimentos científicos que levava a bordo não puderam ser recuperados.
Até o fim do ano haverá um novo lançamento do foguete na Base de alcântara, no Maranhão, e estão previstos mais 11 experimentos científicos e tecnológicos.
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