Operação da Embraer exige logística complexa
Fonte: Valor Ecônomico - Virgínia Silveira Via Alide
Ela importou 19 mil toneladas de materiais em 2008, avaliados em US$ 3,8 bilhões, algo em torno de 2,2% das importações nacionais. No ano passado, suas exportações totalizaram US$ 5,7 bilhões, o que a colocou na posição de terceira maior exportadora brasileira, com uma contribuição de 2,9% para o saldo da balança comercial do país. Para atender um movimento comercial desse porte, a Embraer montou uma logística internacional que envolve uma operação complexa, já que seus principais clientes, fornecedores e competidores estão concentrados no Hemisfério Norte.
A empresa exporta mais de 90% da produção e importa 95% das matérias-primas, partes e peças para a produção e as peças de reposição para as aeronaves que fabrica. Até maio, o volume de importação foi de US$ 1,4 bilhão.
Uma das medidas adotadas pela empresa para aumentar a eficácia do gerenciamento da sua cadeia logística foi a construção, em 2008, de um centro de armazenagem de grandes segmentos aeronáuticos (matérias-primas, fuselagens, asas e superfícies de comando, entre outros) em Taubaté (SP). O centro de distribuição de peças da Embraer está instalado em uma área total de 380 mil metros quadrados, dos quais 135,7 mil metros quadrados foram doados pela prefeitura do município e o restante adquirido pela empresa junto a proprietários privados.
O ganho logístico, nesse caso, segundo a empresa, está diretamente relacionado ao atendimento "just in time" da linha de produção. Segundo o diretor do Grupo de Expansão Industrial (GEIN) de Taubaté, Antônio Roberto Paolicchi, o investimento anunciado pela Embraer na unidade foi de US$ 16,2 milhões.
A empresa conta também com oficinas próprias e depósitos de peças nos Estados Unidos, França, China e Cingapura, além do Brasil. Ela mantém empresas próprias especializadas em manutenção de aeronaves, peças de reposição, treinamento e segmentos aeronáuticos, como a Indústria aeronáutica de Portugal (Ogma) e a Embraer Aircraft Maintenance Services (EAMS).
A Embraer possui um operador logístico nos Estados Unidos que gerencia uma média de 11,9 mil toneladas de materiais enviados pela empresa a cada ano, avaliados em US$ 2,9 bilhões. Na Europa já existe um operador aéreo para uma média de 1,1 mil toneladas de materiais por ano e um operador marítimo para 5,6 mil toneladas anuais.
No Brasil, a Embraer trabalha com dois operadores logísticos, envolvendo porto e aeroporto e 16,6 mil toneladas de produtos por ano, que correspondem em valores a US$ 3,6 bilhões. Só o despachante aéreo, segundo a empresa, cuida de 18 mil processos anualmente. No modal marítimo, o número de processos anuais emitidos pela Embraer chega a três mil. Esses números constam de uma palestra feita pela Embraer durante um evento de logística realizado recentemente em São José dos Campos.
A Embraer também possui três centros de consolidação marítimo de materiais localizados em Colchester (Inglaterra), Bilbao (Espanha) e Freiburg (Alemanha). No segmento aéreo, os centros de consolidação ficam em Londres, Paris, Milão e Frankfurt. O modal aéreo, segundo a Embraer, é responsável por 75% da sua movimentação logística, tanto para exportação quanto para importação. O marítimo tem uma representatividade maior, de 70%, quando envolve peso.
Outra ferramenta que vem trazendo ganhos expressivos na redução de custos e eficiência da sua operação logística é o regime aduaneiro Recof, que passou a utilizar desde novembro. "Diferentemente do que ocorria no regime "drawback", o Recof permite a flexibilidade para a empresa realizar a destinação de até 20% das mercadorias estrangeiras admitidas no regime, para o mercado interno, no mesmo estado em que foram importadas", explicou a empresa por e-mail.
Por esse sistema, a Embraer não precisa manter um estoque nacionalizado e outro para o atendimento da linha de produção. A substituição do regime "drawback" pelo Recof, segundo a Embraer, resultou em custos finais mais competitivos, o que viabilizou a venda de aeronaves no mercado brasileiro. Assim como o regime antigo, o Recof suspende os impostos incidentes na importação e concede isenção para a exportação.
O Recof também reduziu o ciclo de importação e a despesa de armazenagem de peças, com a passagem rápida pela alfândega. "O processo de liberação de mercadorias na alfândega, que era de dois dias, passou a ser de 12 horas, mas a nossa meta é chegar a seis horas", disse uma executiva da área de logística da Embraer, em palestra sobre o tema. Já o processo de exportação temporária de materiais, para reparo, feiras e testes, levava uma média de 15 dias para ser concluído.
Com o Recof, a empresa precisou controlar suas operações de forma mais informatizada e passou a utilizar uma Autorização de Movimentação de Bens sob o Recof (AMBRA), que dispensa a abertura de processo junto às alfândegas, o que resultou em uma redução do ciclo para 10 dias. A Embraer é a primeira empresa no Brasil a utilizar essa autorização para agilizar o desembaraço alfandegário em exportações temporárias.
Apesar de importar 95% das peças que utiliza na produção dos seus aviões, a Embraer explica que o alto índice de importação refere-se a determinados conjuntos de materiais e componentes, como aviônicos, equipamentos, segmentos e matérias-primas sem similar no mercado nacional. Toda a parte de industrialização das aeronaves, mão de obra, desenvolvimento e demais materiais de origem nacional, segundo a empresa, superam em 60% o índice de nacionalização do produto final exportado.
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