A FALSA GUERRA DO FUTEBOL


á se passaram exatos 40 anos do conflito entre Honduras e El Salvador que nos verbetes do Google é conhecida como a “Guerra do Futebol”. Foi assim que a disputa de El Salvador por parte do território hondurenho ficou registrada internacionalmente, pois pela ótica estereotipada da mídia as “duas republiquetas bananeiras” desentenderam-se por culpa de jogos classificatórios para a Copa do Mundo de 1970, no México. A causa da guerra, no entanto, foi bem mais profunda do que agressões mútuas de torcedores dos dois países por ocasião dos jogos realizados em Tegucigalpa e San Salvador, em junho de 1969. O futebol pode ter sido o estopim de um acirramento nacionalista que fermentava desde que El Salvador começou a tramar uma invasão de Honduras para poder se expandir territorialmente em busca de mais espaço físico para sua população. Em 1969, viviam em Honduras 300 mil salvadorenhos, ocupando 366 mil hectares de terras, ou 3.666 km², em propriedades localizadas na área da fronteira ocidental dos dois países. O principal jornal de Tegucigalpa, El Heraldo, fez questão de lembrar na passagem dos 40 anos da guerra, em editorial intitulado “Os vestígios que não se apagam da “Guerra do Futebol”, que desde 1967, quando foi extinto um acordo migratório para os salvadorenhos, pelo presidente de Honduras, Oswaldo López, que El Salvador preparava-se para uma guerra de conquista territorial com o seu vizinho. El Salvador investiu 8 milhões de dólares em armamento. Incidentes com a invasão de áreas fronteiriças de Honduras por parte de soldados salvadorenhos em 1961 e 1968 provocaram mortes quando forças militares hondurenhas repeliram esses ataques. No mesmo dia em que os astronautas americanos pisavam na Lua – 14 de julho de 1969 – o presidente de El Salvador, Fidel Sánchez, determinava a invasão de Honduras com um discurso que questionava a insegurança dos cidadãos salvadorenhos que viviam naquele país. “Como é possível que o homem possa caminha sem perigo pela superfície da Lula e não possa fazê-lo pelas ruas e caminhos de Honduras”, disse Fidel Sánchez, dando início às hostilidades. No início da noite do dia 14 de julho de 1969, aviões de El Salvador bombardeiam 11 cidades de Honduras. No dia seguinte, Honduras responde por terra e ar os ataques, atingindo com sua força aérea – aviões F4U Corsair – a refinaria El Cutuco, deixando El Salvador sem combustível. A guerra durou 100 horas e no dia 18 a OEA ordenou o cessar-fogo.

AS LEMBRANÇAS (1)

Dados oficiais apontam 2 mil mortos e os extra-oficiais falam em até 5 mil vítimas em ambos os lados. Até hoje, Honduras e El Salvador cantam suas vitórias nessa guerra. Os dois países lembram a data e os 40 anos do conflito foram comemorados nas capitais San Salvador e Tegucigalpa. Em Honduras, sob outra crise, o registro do jornal El Heraldo é contundente: “40 anos depois daquele episódio, as Forças Armadas marcam outra vez seu passo pela história, defendendo a soberania tal qual manda a Constituição da República. Mas o banho de glória é diferente, em 1969 foi pela integridade de seu território, o atual é por não permitir que forças internas, aliadas com o chavismo, soterrem o sistema democrático”.

AS LEMBRANÇAS (2)

Na última segunda-feira, o exército de El Salvador comemorou os 40 anos da também chamada “Guerra da Legítima Defesa”, na capital do país. O ato de uma “semana dedicada ao cumprimento do dever” começou com a colocação de uma coroa de flores no Monumento aos Heróis e, nesta quinta-feira, houve a cerimônia principal no Centro de História Militar, no setor sul de San Salvador. O coronel Eduardo Figueroa, chefe do Departamento de Comunicações do Exército, disse que a lembrança da guerra com Honduras era para “recordar um feito histórico e render homenagem aos que entregaram sua vida em defesa da pátria”.

F-4U-5
Maj. Soto's F-4U-5 Corsair. Note the three kill markings: two of these were for Salvadorian Corsairs.

GUERRA AÉREA

A guerra entre Honduras e El Salvador foi curta por deficiência logística de ambos os países. A Força Aérea de Honduras atacou El Salvador reagindo à primeira ofensiva de seu vizinho. O exército de El Salvador mesmo penetrando em território hondurenho parou horas depois por falta de suprimentos, apesar de estar mais bem equipado. El Salvador teve sua pequena força aérea destruída pelos aviões de Honduras. O major hondurenho Fernando Soto é um herói nacional. Com seu caça F4U Corsair abateu três P-51 Mustang de El Salvador e tornou-se o piloto de uma força aérea latino-americana com o maior número de vitórias em combate ar-ar.

402 was the P-51s privately owned by Archie Baldacchi and rushed into FAS service. This Mustang survived the war, only to be heavily camouflaged afterwards.


At the start of the war with Honduras, the FAS operated also four P-51K Mustang Cavaliers, serialled 401, 403, 404, and 405. At least 403 was painted in colours used by the USAF in SEA, but it seems that there was no standardized pattern. Salvadoran Cavalier Mustangs originally carried large drop tanks on wing-tip stations, but these were removed when pilots criticised their negative influence on aircraft manoeuvrebility.


The FAS operated also at least two North American SNJ trainers (naval version of the T-6 Texan). Their participation in the war remains little known, however, at least one is known to have survived for long enough to be photographed at Ilopango, in the early 1970s.


F-4U-5
F-4U-5 (FAH 615), Pilot Maj. Marco Tulio Rivera, Fuerza Aerea Hondureńa.
F-4U-5
F-4U-5 (FAH 609), Pilot Maj. Fernando "Sotillo" Soto, Fuerza Aerea Hondureńa.
FAH T-28D 216
FAH T-28D 216, Fuerza Aerea Hondureńa.


A imagem “http://www.warbirdregistry.org/p51registry/images/p51-4413257.jpg” contém erros e não pode ser exibida.
P-51 Mustang de El Salvador

ÚLTIMO COMBATE


O conflito aéreo envolveu de ambos os lados os últimos aviões de motor a pistão. Honduras e El Salvador utilizaram aviões americanos da II Guerra Mundial: P-51 Mustangs, F4U Corsairs, T-28 Trojans e Douglas DC-3. Os pilotos de El Salvador atiravam suas bombas com as mãos pela carlinga aberta. Hollywood está nos devendo esse filme de guerra.



A GUERRA DO FUTEBOL

Por: Maurício Drumond - Tempestade.org

Os esportes são parte importante da vida cotidiana na sociedade moderna. Mobilizando milhões por todo mundo – praticando, assistindo, trabalhando, torcendo e, principalmente, consumindo –, o esporte se faz presente em diversas esferas da vida social. Dentro deste quadro de presença dos esportes na sociedade moderna, é indubitável que o futebol ocupa uma posição de destaque. Nenhuma outra prática da cultura popular envolve a tantos e desperta tamanho interesse e paixão.

Tal é a força de identificação nacional do futebol, que este esporte já foi até mesmo considerado o estopim de uma guerra entre El Salvador e Honduras, conhecida como a Guerra do Futebol. Na realidade, entre as verdadeiras causas da guerra está uma antiga disputa em relação à imigração de salvadorenhos para Honduras, a posição privilegiada de El Salvador no Mercado Comum Centro Americano (MCCA) e principalmente por uma reforma agrária hondurenha no início de 1969, que serviria de pretexto para a expulsão de salvadorenhos das terras do país e visava redistribuir suas terras a cidadãos hondurenhos.

Em Junho de 1969, na mesma época em que o numero de salvadorenhos fugidos de Honduras aumentava, El Salvador e Honduras disputaram uma vaga nas eliminatórias para a Copa do mundo do México, em 1970. Os meios de comunicação de massa de cada país aumentavam as já existentes tensões, encorajando o ódio entre os cidadãos dos países vizinhos. Em 6 de junho de 1969, a equipe de El Salvador vai a Tegucigalpa, capital hondurenha, para a primeira das duas partidas agendadas entre as seleções. Sofrendo uma enorme pressão da torcida local desde a noite anterior ao jogo, os salvadorenhos não conseguiram segurar o empate e acabaram cedendo a vitória à seleção de Honduras nos últimos minutos do jogo. Honduras 1 a 0.

A indignação da população em El Salvador com o resultado da partida – e principalmente com o tratamento dispensado a seus atletas – foi enorme. Gilberto Agostino (2002) cita o caso da adolescente Amélia Bolamos que “revoltada com o tratamento dispensado à sua seleção, [...] matou-se com o revólver do pai logo após o jogo” (p. 192). E logo depois fala de seu funeral, que “marcado por rompantes de nacionalismo e ódio, [...] foi televisionado, sendo acompanhado por um cortejo militar, tornando ainda mais tensa a expectativa da partida de volta” (p. 192).

Com tanta tensão envolvendo o confronto de volta em São Salvador, não é de se estranhar que o embate em campo tenha se desdobrado para as ruas da capital. A torcida salvadorenha recebeu os rivais com ainda mais ódio do que sua equipe havia recebido em Honduras, tanto que os visitantes tiveram que se dirigir ao estádio em um veículo blindado (Agostinho, 2002, p. 192). Momentos antes da partida, uma bandeira de Honduras foi queimada e seu hino desrespeitado. Após a vitória por 3 a 0 da seleção local – que levaria a um novo confronto em campo neutro –, a violência tomou conta das ruas. Dezenas de torcedores hondurenhos foram agredidos e até mesmo mortos.

Neste mesmo período, a milícia paramilitar hondurenha “Mancha Brava” foi acusada de cometer atrocidades contra salvadorenhos, o que levou ao aumento do número de emigrantes a retornar à El Salvador. Assim, em 25 de junho, dois dias antes da partida de desempate entre os dois escretes, o governo de El Salvador acusou os hondurenhos de genocídio na ONU (Sack e Suster, 2000, p. 306; Agostino, 2002, p. 193). Os dois países fecharam as fronteiras e mobilizaram as suas tropas, enquanto as duas seleções se encontravam no estádio Asteca, na cidade do México, para o jogo de desempate. Após empate de 2 a 2 no tempo regulamentar, o time de El Salvador garantiu sua vaga na Copa do Mundo com um gol na prorrogação. El Salvador havia vencido o primeiro embate.

Em 14 de julho o exército de El Salvador invadiu Honduras, iniciando uma guerra que durou cinco dias. A Organização dos Estados Americanos (OEA) negociou o cessar fogo que entrou em vigor em 20 de julho, e levou as tropas salvadorenhas a abandonar o território ocupado ainda no início de Agosto. Apesar de curta, a guerra deixou aproximadamente dois mil mortos, a maioria composta por civis. No ano seguinte El Salvador disputou a Copa do Mundo, no México, e não passou da primeira etapa, tendo disputado três partidas, sofrendo nove gols e não marcando nenhum.

É de comum entendimento que o futebol não foi o elemento causador da guerra entre Honduras e El Salvador. No entanto, pode-se inquirir quanto ao papel desempenhado pelo esporte na exarcebação das relações entre os dois países. Incitadas pela mídia através dos meios de comunicação de massa, as tensões que já projetavam as duas nações em direção ao conflito foram inflamadas pela idolatria ao esporte. Neste caso, pode-se entender melhor o papel desempenhado pelo futebol através de seu caráter simbólico. Como notou Eric Hobsbawn (2004), o esporte internacional tornou-se [...] uma expressão de luta nacional, com esportistas representando seus Estados ou nações, expressões fundamentais de suas comunidades imaginadas. [...] A imaginária comunidade de milhões parece mais real na forma de um time de onze pessoas com um nome. (p. 171).

A força do futebol como um fator de identificação de um indivíduo com sua pátria pode ser vista com facilidade em grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo de futebol masculino da FIFA. A cada quatro anos, o país anfitrião do evento – um dos maiores eventos internacionais da atualidade, ao lado dos Jogos Olímpicos – recebe milhares de pessoas de diversas partes do mundo. As ruas tornam-se coloridas com torcedores vestindo as cores de seu país, agitando suas bandeiras e cantando hinos e canções. Tal festival de nacionalismos é único. Nem mesmo os jogos olímpicos causam tamanha mobilização e despertam uma paixão tão grande entre o indivíduo e seu país. Mais do que qualquer outro esporte, o futebol carrega consigo grande capital simbólico de representação da nação.

É justamente este caráter simbólico do futebol que permite que este esporte desperte tamanha comoção entre movimentos nacionalistas, separatistas ou não, principalmente na Europa. Estes movimentos regionais que buscam a autonomia política costumam ver no esporte – e em especial no futebol – um meio de legitimação de suas aspirações nacionais.


Quarenta anos da "Guerra do Futebol"


Fonte: Textos de Thereza Pires

Há quarenta anos atrás uma guerra de verdade -entre El -Salvador e Honduras-agitou o mundo durante cem horas

(25 de junho,2009)


Em julho de 1969 aconteceu o incidente que ficou conhecido como “Guerra do Futebol”,ou "A Guerra de Cem horas"
No entanto, é necessário frisar que o esporte foi o agente catalisador do conflito, não a sua causa. El Salvador e Honduras são países vizinhos, o primeiro no Oceano Pacífico, o segundo no Atlântico.Antes de mais nada, é preciso colocar o incidente no contexto histórico e geopolítico. Quatro fatores devem ser considerados: 1 - Os ecos da revolução cubana na América Central

2 – O surgimento do Mercado Comum Centro Americano (MCCA) em 1960, de inspiração norte-americana e muito favorável a El Salvador - já bem industrializado - e desfavorável a Honduras, um país extremamente sub-desenvolvido.

3 - O desnível demográfico entre os dois países: El Salvador com 123 habitantes por km2 e Honduras com 17 habitantes por km2 (censo de 1961).

4 - O fato de 20% de imigrantes salvadorenhos (cerca de 60 mil, sendo 90% na condição de clandestinos) residentes em Honduras não agraciados com a reforma agrária, em início no país, estarem ameaçados de expulsão. Um tratado entre os dois paises deu a estes imigrantes ilegais 5 anos para regularizar de sua condição ou deixar o país.
Desde 1961, muitos outros incidentes de fronteira já haviam acontecido entre os dois países. Martinez Argueta, um cidadão hondurenho foi preso e condenado a 20 anos por entrada ilegal em El Salvador. Em represália, soldados hondurenhos prenderam 71 soldados salvadorenhos em Santa Rosa de Copan. Eles só foram libertados quando o presidente norte-americano Lyndon Johnson intermediou um acordo que liberou Argueta e os soldados presos.As animosidades continuaram e a proximidade da Copa do Mundo de Futebol (a de 1970)chegou para inflamar ainda mais os ânimos. Nas eliminatórias para a Copa no México , as partidas entre Honduras e El Salvador foram disputadas em Tegucigalpa, capital de Honduras, onde acontecia uma greve de professores.Para chamar atenção, os grevistas cometeram atos de vandalismo contra os jogadorres salvadorenhos visitantes. A resposta foi uma série de insultos aos hondurenhos.Na véspera da partida, a equipe de El Salvador foi impedida de dormir por torcedorees da equipe local, que cercaram o hotel onde se encontravam os adversáriosNo dia seguinte, exausto pela noite insone,o time de El Salvador perdeu de 1x0.

Começa a guerra
Amelia Bolinos, uma torcedora da equipe, se suicidou com uma bala no coração.No dia seguinte o corpo da jovem foi repatriado e o dia de seu funeral foi decretado feriado nacional e acompanhado pelas autoridades. A partida de revanche,que aconteceria em El Salvador foi cercada de grande esquema de segurança.Escoltada pela polícia a equipe chega ao estádio e perde por 3x0 e os hondurenhos que tinham viajado para ver o jogo foram hostilizados, sendo que os incidentes causaram a morte de duas pessoas. Os jogadores voltaram pratcamente fugidos e a fronteira foi fechada.

Os hondurenhos se vingaram atacando os salvadorenhos residentes com um saldo de mortos e feridos e o governo nada fez para impedir - os incidentes se extinguiram por falta de combustível patriótico. Os dois países se confrontaram na Copa do Mundo e a atividade cessou nos dois países aguardando o resultado que vingaria o orgulho nacional.
El Salvador ganhou a partida e passou para a fase semi-final da Copa, mas o resultado final da Barbarie foi trágico - homens feridos, mulheres violentadas, mortos e os hospitais cheios de feridos. A fronteira entre os dois países se transformou em praça de guerra. No dia seguinte, um avião militar salvadorenho lançou uma bomba sobre Tegucigalpa.O Exército organizou ofensivas ao longo da principal estrada que liga os dois países e na noite de 15 de julho a cidade Nueva Ocotepeque foi capturada. A aviação hondurenha, por sua vez, destruiu os depósitos de munição e combustível. A guerra do futebol causou duas mil mortes e milhares de feridos. 50 mil pessoas perderam suas casas e terras. Muitas aldeias foram destruídas e a indústria de El Salvador mergulhou numa profunda crise.A guerra durou cem horas, mas dez anos se passaram até que em 1980 ,finalmente um tratado de paz foi assinado.

A disputa territorial, causa original do conflito, foi resolvida em 1992.

A guerra do futebol faz 40 anos

Foto: Arte Gonza Rodriguez

Fonte: clicrbs

Arte Gonza Rodriguez

Dentro de apenas três dias, um dos episódios mais dramáticos da história do futebol chega aos 40 anos. Não haverá motivo para cerimônias. Quem for ao site oficial da Fifa verá que o aniversariante merece apenas umas discretas cinco linhas de um capítulo sobre as Eliminatórias da Copa de 1970. Nada estranho. A entidade que vive repetindo o orgulho de ver inimigos pacificados pelo poder do futebol não iria mesmo destacar o momento em que uma disputa de vaga na Copa provocou a guerra - e esta não é mais uma daquelas metáforas tão comuns na linguagem do esporte. Foi guerra mesmo, entre Honduras, o país que hoje está agitado por um golpe, e El Salvador. Durante quatro dias, de 14 a 18 de julho de 1969, eles mobilizaram seus exércitos e foram para o confronto por não terem sabido resolver suas questões de jogo dentro de campo.

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Havia outras razões para a constante animosidade entre os dois países, claro, e o futebol entrou aí como a desculpa que faltava em uma região de estruturas políticas frágeis. É o que conta o jornalista polonês Ryszard Kapuscinski em seu clássico A Guerra do Futebol. Kapuscinski estava no México pouco antes de 14 de julho, tentando aprender mais sobre a complicada América Latina da época com um amigo jornalista, quando o conflito estourou. Ele já tinha experiência suficiente para saber que o futebol era uma desculpa.

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Kapuscinski conhecia fatores bem mais sérios por trás da loucura de uma guerra de cem horas entre dois dos países mais miseráveis das Américas. El Salvador, o menor país da região, tinha excesso de população nas zonas urbanas e quase toda a parte rural controlada por 14 latifundiários. Sem saída, boa parte da população corria para a vizinha Honduras, quase seis vezes maior do que El Salvador. Aos poucos, 300 mil deles estavam lá e a falta de terras começou então a atormentar Honduras. Sem força para a reforma agrária, até porque a poderosa United Fruit, o braço dos magnatas americanos nos países pobres, não permitiria, o governo decidiu empurrar de volta os imigrantes. A bomba estava armada, à espera de um motivo - até que chegaram aqueles jogos eliminatórios.

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Tudo foi superdimensionado a partir daí. O primeiro jogo ocorreu no domingo, dia 8 de junho, em Tegucigalpa. Os jogadores salvadorenhos passaram uma noite de pesadelo, atormentados por pedradas nas janelas do hotel, foguetórios, buzinas, gritos da multidão. No dia seguinte, cansados, perderam por 1 a 0. No pequeno El Salvador, naquele mesmo instante, uma jovem de 18 anos, Amelia Bolanios, pegou a arma do pai e deu um tiro em seu próprio coração. Virou mártir.

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A razão da morte foi ligada às humilhações sofridas por sua seleção em Honduras, o governo se encarregou do enterro, virou questão nacional. Quando os jogadores hondurenhos chegaram ao país vizinho para o segundo jogo, dia 15, mergulharam no inferno. Todos os vidros do hotel em que estavam foram quebrados e pelas aberturas torcedores atiraram ovos podres. A delegação teve de ir ao estádio em carros blindados. Lá, viram fotos de Amelia Bolanios erguidas por torcedores. Perderam por 3 a 0.

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Nas ruas, 150 carros de hondurenhos foram queimados, dois torcedores morreram, dezenas foram levados aos hospitais. Poucas horas depois, a fronteira entre os países foi fechada. No dia 27, ainda em junho, com um superesquema de segurança, as equipes jogaram no México, e El Salvador garantiu a vaga com vitória de 3 a 2. Foi quando o amigo mexicano de Kapuscinski deu a senha: haverá guerra. O repórter polonês organizou suas malas e foi para Tegucigalpa. Um dia depois de chegar, um avião salvadorenho sobrevoou a cidade e jogou uma bomba - a guerra estava decretada.

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Morreram 6 mil pessoas, segundo Kapuscinski, 12 mil ficaram feridas, 150 mil perderam casas e terras, vilarejos foram destruídos e o conflito só parou por ação da OEA. Sofreram os pobres, como sempre. Naqueles dias, o futebol foi a desculpa para a insanidade de dois governos.