Uma guerra sem fim à vista


Não sei quantos notaram, mas tropas de cerca de 50 países, dos cinco continentes, estão se constituindo na maior coligação militar da história para combaterem um só inimigo. Com comando unificado, a força reunida pela Organização do Tratado do Atlântico Norte concentra-se no Oriente Médio para enfrentar o Taleban no Afeganistão.


Desde 1999, quando completou 50 anos, a OTAN tem entre seus associados países do extinto Tratado de Varsóvia, a organização que juntava a União Soviética e seus países satélites, contra a qual o grupo ocidental tinha sido criado para defender a Europa. O paradoxo vai mais longe.

Taleban traduz-se por aquele que estuda o Corão, o livro sagrado dos muçulmanos. Tem sua origem no Doobardi, movimento sunita, seita de 90% dos muçulmanos, que enfatiza a vida austera, a caridade e a piedade. O Taleban governou o Afeganistão de 1996 até ser expulso do poder, em 2001, pelos americanos que vieram punir os autores do atentado que destruiu as Torres Gêmeas de Nova York, com a morte de mais de três mil indivíduos. Vieram à caça de Bin Laden e da Al-Qaeda, organização criada para combater a influência internacional das crenças judia e cristã, que afirmam serem parte de uma conspiração para destruir a religião muçulmana. Daí o jihad, a guerra santa em defesa do Islã, que escalou para a violência que empregam desde então. O Taleban tinha acolhido e oferecido proteção a Bin Laden e sua gente. Não se sabe onde ele se esconde. O jihadismo é permanente ameaça. Nenhum país está imune.

Antes do Taleban, o Afeganistão tinha um governo qualificado de comunista e apoiado pelo Quarto Exército Vermelho soviético. O vizinho Paquistão, país muçulmano aliado aos americanos, serviu de base para a maior operação secreta da CIA de todos os tempos apoiando a revolta de grupos afegãos e paquistaneses ortodoxos. Para eles, comunismo é heresia. Com a ajuda das armas americanas, os soviéticos foram derrotados e voltaram para Moscou. Foi o começo do fim do comunismo russo. Na prática, a CIA contribuiu decisivamente para a criação do Taleban, que passou a ser o poder e o inimigo.

Em 2001, a Otan ativou o artigo quinto do acordo pelo qual “o ataque a um dos associados é considerado um ataque a todos”. Acontecera o atentado de Nova York. Os países-membros se mobilizaram para a guerra contra o terror proclamada pelo governo Bush. A Otan, que até então tinha 19 membros, expandiu-se para o que é hoje, nove anos depois dos primeiros movimentos da guerra no Afeganistão. Durante a Guerra Fria com a União Soviética, nunca chegara a fazer guerra. Mas passou a ser veterana devido a muitas operações desde então. Nada, porém, como o Afeganistão. Pouco depois de assumir, o novo secretário-geral da Aliança, Rasmussen, emitiu pedido de mais tropas. As cem mil atuais mostram-se insuficientes para enfrentar a guerrilha do Taleban.

O general britânico David Richards, que assumirá a chefia geral do Estado maior no próximo dia 26, já declarou “que não há chance da Otan se retirar e que isso pode demorar tanto quanto 40 anos”. O problema não é só o Afeganistão. O Paquistão infiltrado de talebans e outros jihads é ameaça das maiores. Os jihadistas sonham em botar as mãos no arsenal nuclear paquistanês. O Iraque ainda é problema. A região é ninho de vespas.