Documento sobre bases gera suspeitas do Brasil
Texto da Força aérea americana exalta autonomia de voos partindo da Colômbia Governo brasileiro indagará o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, que visitará o país nesta semana, sobre o assunto
ELIANE CANTANHÊDE - Folha de São Paulo
Texto da Força aérea americana exalta autonomia de voos partindo da Colômbia Governo brasileiro indagará o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, que visitará o país nesta semana, sobre o assunto
ELIANE CANTANHÊDE - Folha de São Paulo
O governo brasileiro questionará o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jim Jones, que vem a Brasília nesta semana, sobre um documento da Força aérea dos EUA apresentado em abril, num seminário militar, defendendo o uso de uma base no centro da Colômbia, como plataforma de operações de longo alcance.
O documento põe em dúvida as versões preliminares dos EUA e da Colômbia de que a ampliação do acordo militar dos dois países visa exclusivamente o combate ao narcotráfico, sem nenhum objetivo estratégico militar.
Pelo documento, operações a partir da base de Palanquero com o avião militar C-17 podem cobrir metade do continente sem necessidade de paradas técnicas de reabastecimento, o que reforça a desconfiança do Brasil e de países vizinhos de que o objetivo da ampliação militar americana na Colômbia não é interno, para combate à narcoguerrilha, mas externo, para aumentar a presença dissuasória no continente.
A viagem protocolar de Jim Jones já estava marcada previamente, mas ganhou importância com as tensões Colômbia-Venezuela. Ele terá encontros na quarta com os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores) e Nelson Jobim (Defesa), além de se reunir amanhã com o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Amorim já cobrou publicamente "transparência" na ampliação da presença americana em bases colombianas. As embaixadas em Washington e em Bogotá já pediram informações oficiais aos dois governos.
Uma das dúvidas brasileiras quanto ao avanço dos EUA sobre bases localizadas na Colômbia é que ele é justificado com o combate à guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), mas o próprio governo colombiano diz há tempos que elas já estão bastante fragilizadas.
Ao contrário, o Brasil analisa duas hipóteses: a de que a intenção dos EUA seja transferir para a Colômbia os equipamentos, o efetivo e as operações da sua base de Manta, no Equador, depois que o presidente equatoriano, Rafael Correa, se recusou a renovar o acordo militar com os EUA.
Além disso, Planalto e Itamaraty temem que a investida dos EUA tenha como meta neutralizar a aproximação da Venezuela com o Irã e com a Rússia.
Defesa de Chávez
Na semana passada, a embaixadora Vera Machado, subsecretária de temas bilaterais do Itamaraty, fez três perguntas ao chefe do Comando Sul dos EUA, general Douglas Fraser, que esteve em Brasília: se as bases serão americanas ou continuarão sob controle da Colômbia; se haverá aumento de efetivo e qual é, efetivamente, a intenção da ampliação da presença americana no país.
Fraser contra-atacou perguntando sobre o questionamento da Colômbia e da Suécia ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, sobre armas suecas que foram vendidas aos venezuelanos e acabaram em mãos de guerrilheiros das Farc.
Em entrevista publicada ontem pela Folha, Amorim disse que não dá para comparar a questão das armas suecas com o aumento da presença dos EUA em bases colombianas. "[A questão das armas] é desse tamanhinho comparada com as bases militares", disse. Segundo ele, as armas são de 1988 e ainda não se sabe se foram parar com as Farc antes ou depois de Chávez e como. "E se foram roubadas?"
Amorim contou que, na conversa com Machado, Fraser disse que uma das preocupações, hoje em dia, é que há até "veículos submersíveis" que levam armas para os EUA e as trazem para a América do Sul.
Concluiu o ministro: "Então, há armas de várias procedências e nem por isso você pode acusar os EUA de estar mandando essas armas para as Farc ou para favelas do Rio. Muitas armas chegam lá, nas Farc, como chegam nas favelas do Rio".
Chávez e Correa reforçam críticas à Colômbia
Em meio ao mal-estar diplomático instalado na região, os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e do Equador, Rafael Correa, subiram o tom das críticas ao governo colombiano de Álvaro Uribe, afirmando que toda a América do Sul estará ameaçada caso o aumento da presença militar americana na Colômbia se concretize.
Fonte: Folha de S. Paulo
Em meio ao mal-estar diplomático instalado na região, os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e do Equador, Rafael Correa, subiram o tom das críticas ao governo colombiano de Álvaro Uribe, afirmando que toda a América do Sul estará ameaçada caso o aumento da presença militar americana na Colômbia se concretize.
Fonte: Folha de S. Paulo
Em artigo divulgado por uma agência estatal, Chávez disse que "as novas bases militares constituem um perigo real e concreto contra a soberania e a estabilidade da região sul-americana. São pontas de lança da nova colonização", disse.
Afirmou também que o Plano Colômbia, assinado por Bogotá e EUA para combate ao narcotráfico, não é um assunto só de Uribe, "porque é impossível que os americanos limitem seu alcance ao território desse país. É a expansão a toda a região que se busca e, antes de tudo, à Venezuela."
Na última terça-feira, o mandatário anunciou o congelamento das relações diplomáticas com a Colômbia e convocou seu embaixador no país.
O revés nas relações bilaterais veio após o governo Uribe cobrar publicamente a Venezuela sobre armas apreendidas com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e que foram de propriedade do Exército venezuelano. Chávez denunciou a cobrança como uma "cortina de fumaça" para desviar a atenção da discussão sobre as bases.
Já Rafael Correa, em entrevista ao jornal colombiano "El Tiempo", citou o bombardeio colombiano às Farc desferido em território do Equador em 2008 - desde então, o país não mantém relações diplomáticas com o país vizinho- para criticar a presença americana.
"Se dirigentes [colombianos] seguirem atacando outros países para eliminar a guerrilha, é claro que as bases militares são foco de desestabilização."
Disse ainda que a doutrina adotada pela Colômbia no combate às Farc é "tremendamente arriscada", porque, se agissem da mesma forma, seus vizinhos poderiam atacá-la, "porque guerrilheiros, sequestradores e paramilitares também nos criam problemas".
Correa voltou a refutar que tenha qualquer ligação com as Farc - em um vídeo divulgado pela Colômbia, um comandante da guerrilha cita contribuições à campanha de Correa à Presidência do Equador.
"Os serviços de inteligência colombianos são muito bons, eles sabem que o presidente Correa e seu governo não estão vinculados com as Farc. Mas se trata de um assunto de geopolítica, de tentar deslegitimar um governo de outra tendência [ideológica]", afirmou.
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