Colômbia quer abrigar militares americanos
Fonte: ClicRBS
O presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, cumpriu ontem a etapa final da sua viagem aos países da América do Sul para explicar aos seus colegas mandatários o acordo militar que seu país discute com os EUA.
Se o acordo for assinado, a Colômbia cederá sete bases para uso das forças militares norte-americanas. Uribe esteve mais cedo no Uruguai, onde se reuniu com o presidente Tabaré Vázquez, e depois chegou ao Brasil, onde manteve um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, e o chanceler brasileiro Celso Amorim participaram da reunião. Amorim disse que a questão das bases é um assunto da Colômbia:
– Reiteramos que o acordo é uma matéria exclusiva da soberania colombiana, sempre e quando se limitar ao território colombiano.
Uribe deixou a reunião, que aconteceu no Centro Cultural Banco do Brasil, sem falar com a imprensa. Ele limitou-se a agradecer ao governo brasileiro pelo diálogo.
– Agradeço o diálogo amplo que tive com o presidente Lula – disse.
O Uruguai reafirmou que se opõe à “existência ou estabelecimento” de bases militares estrangeiras “em qualquer território da América Latina”. O pronunciamento uruguaio aconteceu pouco após a reunião entre Vázquez e Uribe.
A chancelaria uruguaia disse em comunicado que Vázquez reafirmou a Uribe que o Uruguai respeita “o princípio de não intervenção nos assuntos internos dos estados como uma pedra fundamental nas relações internacionais”.
Falta de liderança do Brasil deixa a região à deriva
Financial Times - Via: MRE
Não é novidade que tensão entre Venezuela e Colômbia deixe a América Latina em banho maria. Nem, infelizmente, as recentes mostras de crescente autoritarismo, caudilhos e um golpe de Estado na região. As esperanças de uma nova aurora de democracia e desenvolvimento, lentamente, estão se transformando em resignação com a volta ao passado.
A Colômbia incitou a ira, o que não é difícil, do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao oferecer aos militares dos EUA bases substitutas para a de Manta, no Equador.
Chávez ameaça cortar relações comerciais. Ameaças similares mostraram-se vazias no passado, mas seria prudente a Colômbia levá-las a sério: a Venezuela é seu segundo maior mercado exportador e Chávez não é um líder que se importaria com o custo para sua própria população de uma guerra comercial com um vizinho que despreza.
Os conflitos no norte dos Andes, porém, são apenas um sintoma de um problema mais grave: a incapacidade da América Latina de sair da mesmice à qual está presa há muito tempo, coibida em seu desenvolvimento por homens fortes e rivalidades internas.
A influência dos EUA na região atualmente é limitada a esforços antinarcóticos, que, na melhor hipótese, suavizam os resultados de sua própria e fútil “guerra contra as drogas”. Políticas em outras áreas são negligenciadas em função das prioridades dos EUA em outros lugares ou da impotência autoinfligida, decorrente da conduta passada de Washington.
Essa negligência dos EUA poderia até se mostrar benigna – certamente, mais do que o ativismo que sustentou ditaduras de direita do Chile à Guatemala. Mas a oportunidade de a América Latina moldar seu próprio destino ficará natimorta até que um dos países da região assuma o manto da liderança regional.
O México, abalado por repetidas crises, está muito ligado a seu vizinho ao norte para comandar os que estão ao sul. A Colômbia está atolada em uma batalha contra insurgentes esquerdistas e narcotraficantes.
A verdadeira alternativa ao populismo barato vem dos lideres de esquerda pragmáticos do cone sul: Michelle Bachelet, do Chile, e Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, demonstram melhores formas de se estar à esquerda do que a revolução bolivariana de Chávez.
O Chile carece de massa crítica para puxar a região consigo; Lula, no entanto, não o faz por opção. Seus feitos domésticos são inegáveis e seu esforço para desempenhar um papel mundial é impressionante, mas a política regional ficou perdida no caminho.
O resultado é um continente à deriva – a integração econômica avança a passo de tartaruga – e um vácuo de liderança, no qual Chávez cresce e passa de mero distúrbio a um perigoso causador de problemas.
Liderar dando exemplos é necessário, mas insuficiente. O Brasil precisa ajudar a colocar a América Latina na estrada para o futuro. Senão ninguém o fará.
Sem opção, Chávez mantém comércio com a Colômbia
América do Sul: Exportador colombiano espera uma redução gradual
Fonte: Valor Econômico - Por: Rodrigo Uchoa - Via MRE
América do Sul: Exportador colombiano espera uma redução gradual
Fonte: Valor Econômico - Por: Rodrigo Uchoa - Via MRE
Uma semana depois de o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ter "congelado" as relações com a Colômbia e ameaçado cortar as importações do país vizinho, nada ainda aconteceu. Autoridades venezuelanas confirmam que a fronteira entre os países não está fechada. Exportadores colombianos dizem esperar uma queda no comércio com a Venezuela, mas como resultado de um processo que já vem se desenrolando desde o começo do ano.
Javier Díaz, presidente da Associação Nacional de Comércio Exterior da Colômbia (Analdex), prevê uma redução de 10% da venda de produtos do país para a Venezuela, e de 15% para o Equador. Mas, no curto prazo, isso não deve mexer com a maior parte do comércio entre os países, afirma.
"A Venezuela é uma economia que tem o petróleo como 90% de sua base. Por isso depende dos bens básicos importados para atender a sua população. E a Colômbia é o fornecedor natural de alimentos, remédios, roupas e outros bens", afirma Díaz. "Para a Venezuela, será mais caro comprar em outros mercados."
Díaz reconhece que a Venezuela já vinha buscando outros fornecedores, para depender menos da Colômbia. "Também estamos explorando outros mercados para diversificar nossos compradores", diz. "Mas, até agora, nada mudou."
A Câmara Venezuelana-Colombiana de Comércio (Cavecol) diz esperar um retrocesso de 12% nas relações de compra e venda entre os dois países. Segundo a entidade, no primeiro semestre deste ano as compras venezuelanas de produtos colombianos já caíram 3%. As compras colombianas (praticamente só combustível), por sua vez, registraram queda em valor de 56%. No ano passado, o comércio bilateral chegou a US$ 7,3 bilhões.
O vice-presidente da Venezuela, Ramón Carrizalez, confirmou ontem não haver barreiras alfandegárias extras ou fechamento da fronteira. Disse só que a relação com o vizinho está em revisão.
Já o presidente da Fedecámaras (associação empresarial) do Estado venezuelano de Zulia, Néstor Borjas, disse que a importação de alimentos diminuiu e que isso pode afetar o abastecimento do país.
Pelos dados oficiais colombianos, há uma queda sensível nas compras venezuelanas de açúcar, ovos e lácteos, por exemplo. A Venezuela chegou a comprar 7,3 mil toneladas de ovos colombianos de janeiro a maio do ano passado; no mesmo período deste ano, caiu para 950 toneladas. As compras de açúcar caíram de 21 mil toneladas para 205 toneladas.
Teresa López, diretora da associação venezuelana de produtores de laticínios, Cavelácteos, disse que essa baixa se dá por conta da falta de licenças de importação, e não por uma política de boicote.
Já o presidente da Federação Bolivariana de Agricultores e Pecuaristas da Venezuela (Fegaven), Balsamino Belandria, afirmou que a culpa não é da falta de licenças de importação. Para ele, o importante é parar de comprar carne da Colômbia e começar a produzir na Venezuela.
"A Colômbia leva em conta a lógica capitalista. Nós temos de pensar no desenvolvimento", disse o presidente da associação, que é ligada ao governo.
Brasil reitera aos EUA que bases na Colômbia lembram a Guerra Fria
Fonte: Valor Econômico - Por: Paulo de Tarso Lyra - Via MRE
O governo brasileiro disse ontem ao assessor de Segurança Nacional dos EUA, general James Jones, que a instalação de bases militares americanas na Colômbia "é resquício dos tempos da Guerra Fria". James está em visita ao Brasil para falar, entre outras coisas, sobre o acordo fechado com o presidente colombiano, Álvaro Uribe.
O assessor de Casa Branca se reuniu em Brasília com o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, com a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff e com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Hoje, se reúne com o chanceler Celso Amorim.
Garcia afirmou ter expressado posição dita pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela presidente do Chile, Michelle Bachelet, durante encontro entre ambos na semana passada, em São Paulo. "A construção de mais uma base militar na região não traz um bom sinal para os países do continente", disse. Ele lembrou que o presidente Barack Obama sinalizou com um novo relacionamento entre EUA e América Latina. "Esperamos que as nossas expectativas não sejam frustradas."
Garcia disse que o assunto foi discutido do ponto de vista político, não atendo-se a minúcias administrativas, como a quantidade de soldados americanos. "Estas explicações serão dadas por nós ao presidente colombiano, Álvaro Uribe, que encontra-se com o presidente Lula na próxima quinta."
O assessor internacional também não quis confirmar se a reiteração do discurso brasileiro seja uma maneira de pressionar para que o acordo entre a Colômbia e os EUA, ainda não assinado ainda, não seja ratificado.
Ele apenas confirmou algumas informações recebidas pelo governo brasileiro de que as novas bases seriam comandadas pelo governo colombiano, embora utilizando militares americanos. Também disse ter recebido a informação de que não haveria aumento no efetivo militar americano na região. Garcia frisou que a decisão sobre a instalação das bases é um tema que envolve a soberania dos EUA e da Colômbia. "Mas acreditamos que o general Jones percebeu que o assunto foi mal encaminhado junto aos demais países".
Para Garcia, Uribe também teve essa percepção, o que teria levado o presidente colombiano a viajar pela região para dar explicações. Ontem, Uribe esteve no Peru, seguindo depois para a Argentina. Amanhã se reúne com Lula. "Foi um gesto de humildade. Aliás, o descontentamento não envolveu apenas o governo brasileiro, mas também o chileno, argentino, peruano e uruguaio", enumerou Garcia, acrescentando que o Brasil tentará demover Uribe da resistência em participar da reunião do Conselho de Segurança do Unasul, onde o tema será tratado.
Garcia aproveitou o encontro para relatar ao general americano o resultado de sua recente viagem à Venezuela, onde conversou com o presidente Hugo Chávez sobre as acusações de vendas de armas para a guerrilha colombiana Farc. Chávez negou a informação (apesar de ainda não ter dado provas de que as armas encontradas com as Farc tenham sido mesmo roubadas de quartéis venezuelanos). Chávez disse ainda que vários guerrilheiros das Farc, do Exército de Libertação Nacional (ELN) e paramilitares foram presos pele Venezuela e deportados para a Colômbia.
Garcia cobrou uma postura mais enérgica dos EUA em relação ao golpe em Honduras. "É um absurdo que o Micheletti (Roberto Micheletti, presidente interino, que assumiu após o golpe que depôs Manuel Zelaya) queira organizar novas eleições no país."
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