Irã recoloca em voo mais um F-14 depois de 12 anos



Adaptação By Vinna - Fonte: uskowioniran

Não deixa de ser impressionante a capacidade de manutenção e fabricação de peças de reposição têm demonstrado o quanto é capaz o Irã mantendo ativa a envelhecida frota de F-14 em serviço ativo com cerca de 25 Tomcats que permanecem em serviço na IRIAF após longos 30 anos um embargo que começou muito antes da guerra de oito anos com o Iraque!

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Grumman F-14A Tomcat da Força Aérea da República Islâmica do Irã

By bitt - jbitten.wordpress.com

Na primeira metade dos anos 1970, o Império do Irã era um confiável aliado do Ocidente, considerado como uma “primeira linha” da Guerra Fria. Desde os anos 1950, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, o país beneficiou-se indiretamente da crise do petróleo de 1973, aderindo tardiamente ao boicote comandado pela Arábia Saudita. Segundo exportador mundial de petróleo e primeiro fornecedor dos EUA, o Irã não chegou a diminuir suas exportações, mas praticou os aumentos de até 300 por cento no preço do barril, determinados pela OPEP. O resultado foi um fluxo de dinheiro nunca antes imaginado, que o tornou cliente preferencial das indústria norte-americana de armamentos.

Compartilhando extensa fronteira com a então URSS, além de responsabilidades localizadas no Golfo Pérsico, no Oriente Médio e no Oceano Índico. O dinheiro do petróleo permitiu que o Irã, até então cliente de sistemas de armas “tipo exportação” (por exemplo, Sabres F86, F5A Freendom Fighters em 1965 e, a partir de 1967, um pequeno número de F4E Phantom). Com os petrodólares fluindo, o Xá, embora fosse considerado um aliado instável, passou a merecer atenção dos EUA, uma vez que a proximidade da União Soviética, e a inexistência de sistemas defensivos de última geração constituíam, indiretamente, ameaça aos interesses norte-americanos na região.

Dois fatores apressaram a possibilidade da aquisição, pela então Nirouyeh Havaiyeh Shahanshahiye Iran, ou Imperial Força Aérea do Irã, de aeronaves de última geração. Por um lado, a entrada em serviço, no final dos anos 1960, de uma nova geração de aeronaves soviéticas, da classe do MIG23 Flogger e MIG25 Foxbat. Essas aeronaves passaram a sobrevoar o território iraniano freqüentemente, em missões de reconhecimento. Equipadas com radares Lookdown-shotdown e mísseis de longo alcance (“beyond visual range”), os Flogger se revelaram bem superiores aos F4E iranianos, que eram entregues pelos EUA com sensores e armamento de segunda linha. O território do Irã, muito montanhoso, exigia uma complexa cobertura de radar articulada a sistemas de mísseis de defesa aérea de grande altitude, que vinha sendo reivindicada pelos iranianos desde os anos 1960, até então sem resposta. No final da década, os norte-americanos já tinham manifestado simpatia às solicitações iranianas (em 1971, a venda de 1811 mísseis superfície-ar Hawk foi aprovada), o que abriu ao Irã a possibilidade de aquisição de quase todos os sistemas norte-americanos de última geração. O aval oficial, dado pelo presidente norte-americano Richard Nixon, em maio de 1972, foi o passo inicial para que o Xá e seus comandantes começassem a planejar a criação da maior força aérea da região.

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F-14 Iraniano - Uma arma americana letal que ainda é operacional

Por outro lado, também contribuiu para a decisão norte-americana de abrir ao Irã seu arsenal a aproximação, nos anos 1960, do Iraque com a União Soviética, bem como as manifestações de hostilidade aos EUA, por parte do regime ba´athista. Embora a partir de 1969, o presidente iraquiano Saddam Hussein fizesse uma política pendular, aproximando-se tanto dos EUA quanto da URSS, as fortes aquisições de armamentos, combinadas com uma política externa independente e de caráter terceiro-mundista, e uma política econômica agressiva apressaram a decisão norte-americana de favorecer o Irã. Os dois países não tinham problemas aparentes, mas havia uma disputa não resolvida na região do canal Shat-el-Arab, estuário dos rios Tigre e Eufrates, fronteira territorial mas reivindicado por ambas as nações.

Desde 1971 os iranianos vinham avaliando a aquisição de um novo interceptador para sua força aérea, decisão apressada pelas freqüentes provocações da Força Aérea da URSS, que se tornaram constantes após a entrada em serviço do MIG25 Foxbat. O MIG25 voava muito alto e muito rápido, e os Phantom e F5E Tigers iranianos sequer conseguiam aproximar-se dos incursores soviéticos.

Os motivos pelos quais os F14 foram escolhidos pelos iranianos foram diversos, mas o principal deles é que a geometria variável (que o MIG23 também tinha), uma tecnologia considerada revolucionária, permitia o uso de pistas curtas (tanto que os Tomcat eram aeronaves projetas para uso em navios-aeródromos) e relativamente pouco preparadas. Os sensores dos F14, centrados no radar pulso-Doppler, que utiliza o chamado “efeito Doppler”, uma característica das ondas que distorce sua recepção pelo observador, em relação ao emissor. Esse efeito é muito útil para determinar a distância a que se encontra um alvo. Os F14 estavam equipados com um radar AN/AWG9, fabricado pela Hughes, capaz de rastrear 24 alvos e operar até 6 mísseis Phoenix AIM54 simultaneamente. Até então, os F14 e seus sistemas de armas ainda não haviam sido testados em combate, mas exercícios extensivos feitos no Pacífico pela Marinha dos EUA indicavam que a combinação F14/ AN/AWG9/AIM54 mostravam ser a combinação letal.

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Inicialmente, a Imperial Força Aérea Iraniana adquiriu 30 F14A, diversos kits de sobressalentes e 454 AIM54. Esse contrato, conhecido como Persian King e fechado em janeiro de 1974, se afigurava como a maior venda de armamento da história dos EUA, no valor de 320 milhões de dólares. No final do ano, os iranianos manifestaram interesse em adquirir mais 50 F14A e quase 300 mísseis, bem como um sistema de radar terrestre no valor de cerca de 600 milhões de dólares. Toda a encomenda alcançava os 2 bilhões de dólares e era, de fato, a maior venda de armas feita para um único pais, até então.

O Grumman F-14 Tomcat é uma aeronave de geometria variável projetado para operação em navios-aeródromos de esquadra. Trata-se de uma história de sucesso típica da Guerra Fria. Testado diversas vezes em combate, revelou-se, quando bem operado, um sistema de armas eficiente e altamente confiável.
O F14 foi projetado partir do conceito introduzido nos EUA pelo mal-sucedido F111, colocado em serviço em 1967 pela General Dynamics. Originalmente, havia a proposta de se criar uma versão navalizada do F111, que evoluiu para a o conceito de um caça de defesa de esquadra, desenvolvido junto com a Grumman.

Como o F111, o F14 aplica o conceito de “geometria variável”, estudado pela primeira vez pelos alemães, em 1944, e extensivamente pesquisado tanto por norte-americanos, quanto por soviéticos, ao longo dos 30 anos seguintes. A possibilidade de variar o enflechamento das asas possibilita a aeronave aumentar o arrasto aerodinâmico durante a decolagem e o pouso, o que implica em uma maior sustentação em baixa velocidade, tornando possível o aumento do peso do conjunto e o uso de pistas menores – conceito ideal para o uso em navios-aeródromos.

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O fracasso do F111, que logo foi relegado à funções de guerra eletrônica, fez com que a GD abandonasse o projeto. Vendo-se sozinha na empreitada, a Grumman resolveu por alterar todo o conceito. Na época (1968), o surgimento do míssil AIM54 e de um radar multi-modo funcional levou a que a companhia modificasse o desenho da aeronave para ser preferencialmente um vetor dessa nova arma. A complexidade do conjunto radar-míssil e o estágio ainda relativamente rudimentar dos computadores de bordo tornou necessária a manutenção de um segundo posto de tripulante, na parte traseira do cockpit,ocupado por um especialista em controle de armas. Posto em serviço em 1971, o F14A mostrou alguns problemas, mas estava claro que o desenvolvimento do conjunto acabaria resultando num sistema de armas de alta confiabilidade.

O F-14A alcançou plena operabilidade por volta dos meados dos anos 1970, chegando, após essa data, a registrar algumas vitórias contra aeronaves líbias e iraquianas. Deve-se destacar que boa parte do desenvolvimento do tipo deveu-se às observações feitas nas operações da versão vendida aos iranianos, que chegou a ser testada contra aeronaves soviéticas de primeira linha.

Alguns dos sistemas instalados no F14 eram muito novos e foram efetivamente testados nas aeronaves entregues ao Irã. Um dos melhores exemplos é o interrogador de IFF (identification, friend or foe) APX82A. Tratava-se de um sistema que, na época, era ultra-secreto, e visava identificar o sinal IFF emitido pelas aeronaves adversárias, possibilitando sua localização precisa em distâncias de até 200 quilômetros. Até então, os sistemas IFF baseavam-se num sinal criptografado, enviado por uma aeronave e captado conforme um radar iluminava essa aeronave. O APX82A permitia que o sinal IFF fosse identificado sem que o radar de bordo tivesse de ser ligado. Esse sistema tinha sido desenvolvido em função do surgimento de mísseis chamados “anti-radiação”, que eram atraídos por emissões de rádio. A versão iraniana desse sistema era programada para identificar apenas sinais com características soviéticas, mas incapaz de decifrar sinais norte-americanos, ingleses ou franceses.

Os norte-americanos também modificaram diversos outros sistemas dos F14A, que se tornaram menos eficazes ou simplesmente foram omitidos: sistemas de navegação inercial, sistemas de orientação por satélite, sistemas de contra-medidas eletrônicas simplesmente desapareceram da versão iraniana. O grupo propulsor formado, na versão norte-americana, por duas turbinas Pratt and Whitney TF30-PW412 foram substituídas por duas TF30-PW414, um pouco menos potentes. O motivo era que as PW412 apresentavam problemas de manutenção, enquanto as 414 eram mais robustas e adequadas para as condições encontradas no Irã.

A ativação das primeiras unidades de F14A iranianas foram cercadas por problemas de todos os tipos. Apesar da permissão para que a aeronave fosse entregue, o acordo de venda continha diversas cláusulas que virtualmente faziam dos norte-americanos “sócios” dos iranianos. Como os sistemas da aeronave, ainda que simplificados, eram extremamente avançados, a manutenção não era feita no Irã, mas nos EUA; e tanto fornecedores quanto os militares norte-americanos não permitiam a presença de iranianos durante o processo. A maioria das partes componentes (inclusive turbinas e atuadores de enflechamento das asas) tinha de ser enviada aos EUA sob responsabilidade de técnicos norte-americanos, que trabalhavam nas bases da RFAI (a principal delas situada na cidade de Esfahan, aproximadamente 400 quilômetros ao sul de Teerã, e a meio caminho entre o Golfo Pérsico e o Mar Cáspio) pagos pelo governo iraniano. Essa situação criava tensão entre iranianos e norte-americanos, além de manter mais da metade dos F14 no chão, a maior parte do tempo. O mesmo acontecia – e de certa forma, de modo ainda mais restritivo – com os AIM54.

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Os iranianos adquiriram também mísseis de guiagem IR AIM9P Sidewinder, e também o AIM7 Sparrow, na versões E4 e E2, de guiagem a radar, que não eram versões de último tipo, mas eram compatíveis com o radar AN/AWG9, e também podiam ser usados nos F4E.