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Missão de resgate da FAB em Santa Catarina disputa prêmio internacional


Fonte: CECOMSAER - FAB

O relato de uma missão do Esquadrão Pantera (5º/8º GAV) durante o resgate de vítimas das enchentes que atingiram Santa Catarina, no ano passado, concorre com outras 15 histórias de outros países no "Helicoter Heroism Awards", prêmio concedido há mais de 40 anos para tripulações de asas rotativas que tenham se destacado em missões de resgate.

Parte do resultado depende de uma votação pela internet. Para ajudar a história da Força Aérea Brasileira (FAB), basta votar na página http://www.aviationtoday.com/sar/nominations.php(é o último relato da página), na história "Brazilian Air Force Flood Rescues and an homage to the HUEY". À direita do titulo, clique em "vote for this nominee" e siga as instruções. A decisão do vencedor cabe a um corpo de jurados escolhido pela revista "Rotor&Wing" e pela votação realizada na internet.

O ganhador do prêmio será anunciado no próximo dia 2 de setembro, durante um congresso internacional de busca e salvamento realizado nos Estados Unidos.

Porque Votar...

O Réquiem de uma Lenda

Fonte: Defesa Brasil

O Réquiem de uma Lenda

Prestes a deixar o serviço ativo, lendário UH-1 Huey prova porque é uma das mais formidáveis máquinas de asas rotativas da história.

Réquiem: repouso, descanso; no sentido de morte ou aposentadoria.

5°/8° GAv

5°/8° GAv

O 5º/8º grupo de aviação está localizado na cidade de Santa Maria, centro do estado mais ao sul do Brasil. Fundado em 1971, o esquadrão desde sua fundação teve o prazer de operar uma das máquinas de asas rotativas mais famosas da história da aviação mundial : o BELL UH-1 HUEY, nas versões D e H.

Próximo de completar 40 anos em operação na unidade, foi decidido que a aeronave será substituída pelo H-60 Blackhawk em 2010, após 39 anos de bons serviços prestados a este esquadrão da Força Aérea Brasileira.Em todo esse tempo, o HUEY realizou diversas missões e, no final de 2008, provou que a idade não diminuiu a sua capacidade de fazer a diferença quando foi necessário.

Em 22 de novembro de 2008, após uma temporada de chuvas acima do normal, a região compreendida entra as cidades de Itajaí e Blumenau (no estado de Santa Catarina), ficou completamente alagada e com vários pontos de deslizamento de terra isolando várias comunidades do acesso por terra. No dia seguinte, o governo do estado resolveu pedir ajuda ao governo federal, quando o 5º/8º GAv foi acionado, iniciando o deslocamento no dia 24 e chegando na região em torno das 15:00z do mesmo dia.

A cidade de Itajaí situada a foz do rio Itajaí-áçu, que desce por um largo vale desde a serra onde está localizada a cidade de Blumenau até a sua foz, onde está localizado um dos mais importantes portos do Brasil. Neste trecho de vale de aproximadamente 100km, existem várias localidades que utilizam esta fértil planíce para agricultura e o extrativismo, aproveitando o porto para escoar sua produção.

Lendário UH-1 Huey se aproxima de seu merecido descanso. Foto: 5° / 8° GAv

Lendário UH-1 Huey se aproxima de seu merecido descanso. Foto: 5° / 8° GAv

Na chegada a região atingida, o cenário não poderia ser pior: a cidade portuária de Itajaí estava com 85% da sua área urbana alagada e seu porto inutilizado; a região estava completamente isolada do restante do país por terra e mar. Nas estradas era possível ver vários veículos parados nas partes mais altas, cercados de água por todos os lados. A região contava com o racionamento de água potável e energia elétrica, e toda a ajuda teve que vir por via aérea, sendo necessária a criação de uma ponte aérea de suprimento pela Força Aérea na primeira semana após a catástrofe. Na região cerca de 80.000 pessoas tiveram que abandonar suas residências e muitas delas contavam apenas com o apoio das aeronaves para isso. Em face de tamanha tragédia, o governo federal foi chamado para auxiliar, sendo criada o Operação Santa Catarina, com efetivo das três Forças Armadas, além das forças auxiliares. Durante o auge da operação, mais de 30 aeronaves de diversos modelos (H-50,H-34,H-1H, C-130, C-295) utilizaram o aeroporto de Navegantes, situada na margem oposta da foz do rio Itajaí-açu, como base de operações.

Durante toda essa movimentação, os três primeiros dias foram cruciais, pois atuavam no local apenas dois helicópteros da Força Aérea (01 H-34 e 01 H-1H) e alguns H-50 do governo do estado de Santa Catarina. Neste período, o H-1H de matrícula FAB 8692 voou cerca de 27 horas, retirou cerca de 200 pessoas das áreas de risco e transportou cerca de 2,3 toneladas de mantimentos para as regiões isoladas. Nada mal para um “senhor” de 40 anos...

Das várias missões realizadas nesse período, gostaríamos de relatar duas delas. Essas missões exemplificam bem o espírito das equipes envolvidas nos resgates e a confiança nessa máquina que não se cansa.

1° ATO
Itajaí-SC completamente alagada. Foto: 5°/ 8° GAv

Itajaí-SC completamente alagada. Foto: 5°/ 8° GAv

A primeira história ocorreu durante o segundo dia de operação. Foi decidido que os helicópteros iriam distribuir os mantimentos, que haviam chegado durante a noite, nas regiões isoladas da região do morro do baú. A idéia inicial era que a população recebesse as provisões e aguardasse em suas casas até que fosse possível o acesso por terra novamente (posteriormente essa idéia teve que ser descartada e todos foram evacuados devido ao alto risco de novos deslizamentos). Definida a missão, carregamos a aeronave e decolamos para a vila do Baú Seco, situada no ponto mais alto do morro do baú.

Ao ingressarmos no vale, sempre voando a no máximo 300ft de altura devido à camada de nuvens acima, começamos a perceber que a missão não sairia como planejado. Ao perceber que havia uma aeronave passando (e isso é fácil com o HUEY, devido ao seu barulho característico amplificado em um vale), as pessoas começavam a sair de suas casas e abanar panos brancos nos jardins ou na cobertura das casas. Após algumas horas, várias delas escreviam mensagens no gramado ou no telhado, indicando que necessitavam de ajuda. Dessa maneira, TODAS as missões que decolaram com previsão de durar 40 minutos até o regresso a Navegantes duraram mais de 02 horas, com as tripulações pousando com o mínimo combustível (cerca de 150 libras). Durante uma dessas missões, foi reportado que cerca de 15 quilômetros acima da vila de Arraial de Cima havia uma barragem com risco de romper-se. Foi solicitado que sobrevoássemos a mesma e verificássemos as coordenadas da barragem, para o envio de pessoal especializado para avaliar o perigo de a mesma romper-se. Cerca de cinco minutos após decolarmos do campo de futebol que servia de heliponto em Arraial de Cima, observamos que havia cerca de dez pessoas em uma casa branca isolada, abanando panos brancos para chamar nossa atenção. Marcamos o ponto, e prosseguimos para a barragem. Na volta, resolvemos passar mais perto daquele grupo inicial de pessoas, que ao ouvirem o helicóptero foram para fora e tentavam chamar nossa atenção (agora já havia cerca de vinte pessoas). Fizemos uma passagem sobre o local e observamos que no gramado em frente à casa estava escrito : “SOS CRIANÇA DOENTE”.

Vale na região de Baú Seco. Foto: 5°/8° GAv








Vale na região de Baú Seco. Foto: 5°/8° GAv

Imediatamente informamos a nossa base em Navegantes via HF e começamos a nos preparar para realizar o pouso o mais próximo possível do local. Demoramos cerca de cinco minutos para definir o eixo de aproximação, pois a área era restrita (cerca de meio rotor para cada lado), situada em um pequeno platô no alto de um vale estreito. Além disso, o vento, que para nossa sorte estava fraco, soprava morro abaixo, o que significava que teríamos que aproximar com um leve vento de cauda. Caso tivéssemos que arremeter o faríamos descendo o vale, já que subindo seria impossível devido á baixa altura e a grande inclinação da região. Tudo planejado, brifim feito com a tripulação, iniciamos a descida em uma aproximação de grande ângulo, onde tudo correu bem até o último terço. Percebemos que a nossa direita havia um poste de luz (felizmente os fios haviam sido arrancados com as chuvas, caso contrário não poderíamos pousar) e no final havia uma cerca de arame, o que restringiu mais ainda nossa área. Pouso efetuado, cerca de vinte metros à frente da casa branca, fomos surpreendidos por cerca de sessenta pessoas saindo da casa reportada anteriormente e avançando em direção a aeronave, o que levou o nosso homem de resgate a desembarcar e servir como “segurança” da aeronave, impedindo que aquelas pessoas invadissem o helicóptero. Após algum tempo conversando com as vítimas, o homem SAR retornou e nos deixou a par da situação: cerca de vinte famílias da região estavam ilhadas naquele vale a cerca de três dias, algumas delas passaram a noite dormindo no relento, pois suas casas haviam sido levadas pelas chuvas. Todas sabiam do perigo de rompimento da barragem e não conseguiam sair dali, pois as estradas estavam fechadas. Ao ouvirem o helicóptero, todas se dirigiram para o mesmo local com a esperança de serem evacuadas.
Mulheres e crianças sendo resgatados das áreas de risco. Foto: 5°/ 8° GAv

Mulheres e crianças sendo resgatados das áreas de risco. Foto: 5°/ 8° GAv

Decidimos então iniciar a evacuação das famílias, mulheres e crianças primeiro. Para economizar tempo, iríamos levá-las até Arraial de Cima, de onde o H-34 poderia levá-las para os centros de desabrigados em Blumenau. Demorando cerca de quinze minutos para cada retirada, começamos a nos deparar com um problema: só poderíamos fazer cinco viagens devido a nossa autonomia, com isso sabíamos que não poderíamos levar todos sem ter que retornar para abastecer em Navegantes. Somado a isso, havia o pôr-do-sol que se aproximava, e com um breve calculo verificamos que só teríamos uma janela de 45 minutos para realizar o último resgate. Iniciamos as evacuações, sempre no limite do peso (não tivemos que abortar nenhuma decolagem, apesar de algumas vezes termos uma leve perda de rotação; mas como pedir a uma pessoa daquelas para que saísse do helicóptero naquela situação de perigo?). Algumas pessoas se recusavam a descer em Arraial de Cima, argumentando que queriam sair daquela região; e o que mais marcou a tripulação foi uma menina de brincava, alheia a todos problemas a sua volta, com a sua boneca durante o vôo e lhe explicava que ela iria “andar de helicóptero pela primeira vez” (mais tarde voltaremos a falar dela). Na última evacuação antes do abastecimento, ao ser informado que o helicóptero iria demorar mais que o normal, um senhor de cinquenta anos começou a implorar para que nós o retirássemos dali, pois ele dizia que nos não iríamos voltar. Ele realmente tentou embarcar de qualquer maneira, tendo que ser contido pelo nosso homem SAR que, voluntariamente, ficou na região com os desabrigados aguardando nosso retorno. Realmente a imagem daquele senhor segurado por outros dois homens na frente do helicóptero enquanto decolava, chorando e pedindo “pelo amor de Deus” para ir conosco, nós fez ter certeza de que teríamos que voltar ali, pois para aquelas pessoas que tinham perdido tudo nos éramos a última esperança.

Após um abastecimento mais demorado que o previsto, pois havia um C-130 para ser abastecido na nossa frente, vimos nossa janela diminuir para quinze minutos. Além disso, o início da noite fazia com que o teto baixasse ainda mais e começasse a surgir uma garoa que restringia também a visibilidade na área de resgate. Aqueles que já voaram uma aeronave monomotor, sem capacidade IFR, com quarenta anos de uso e nestas condições marginais, sabem que nesse momento todos a bordo começaram a fazer contas e avaliar as possibilidades. O silêncio dentro da cabine naquele momento só era quebrado pelo barulho inconfundível das pás da HUEY. Após alguns desvios devido à meteorologia no caminho, a aeronave pousou na vila de Alto do Baú, para deixar mantimentos (colchões, cobertores, água, carne congelada e comida não perecível) de maneira que as famílias que ali estavam isoladas há dias pudessem passar se manter ate o resgate chegar ou as estradas fossem reabertas.

Com isso a tripulação decolou para a área do resgate já com cinco minutos após o pôr-do-sol, e todos decidiram que não iriam deixar aquelas dez pessoas passarem mais uma noite naquelas condições. Feito o resgate, decidiram passar sobre a serra no sentido SO, para escapar da garoa e ingressar no vale do rio Itajaí-açu. Assim eles estariam em uma região mais aberta e com alternativa de pouso em Blumenau. Caso isso fosse necessário, todos haviam concordado em pernoitar junto da aeronave, apenas com a roupa do corpo, e regressar para Navegantes no dia seguinte, já que não dispunham de nenhum apoio naquele aeroporto. Isso mostra o comprometimento com o resgate. Felizmente após contatos com Navegantes, a tripulação decidiu prosseguir para aquela localidade, pois as condições estavam favoráveis, efetuando o pouso em condições visuais noturnas.

Lágrimas que misturam o alívio pelo resgate e dor pelas perdas. Foto: 5°/8° GAv

Lágrimas que misturam o alívio pelo resgate e dor pelas perdas. Foto: 5°/8° GAv

Dentre as várias pessoas resgatadas estavam o senhor que havia implorado para não ser deixado, e após o retorno ele confessou que achava que nos não iríamos voltar, porém ao ouvir o som do HUEY se aproximando, teve certeza de que nos não o abandonaríamos! E proferiu a célebre frase: “Eu sabia que vocês viriam”.

Retomando àquela menina que brincava, alheia a todos problemas, ela foi personagem de um fato bastante interessante. Após um dia bastante longo e intenso de vôos, durante a noite, conversando com a tripulação surgiu o comentário do mecânico de vôo do FAB 8692, que uma menina desceu aos prantos do helicóptero. O mecânico consolou a menina dizendo que ela deveria desembarcar para poder ajudar outras pessoas que também necessitavam de apoio. Foi então que esta menina informou que havia perdido parte de sua boneca dentro do helicóptero ao embarcar e ela não queria sair dali assim. O Sgt Luna então prometeu que procuraria o braço da boneca daquela menina no final do dia, apenas no intuito de acalmar, pois ela chorava sem parar. Qual não foi nossa surpresa então ao descobrir que os mecânicos realmente haviam achado um braço de boneca ao lavar a aeronave, e decidimos então que enquanto não conseguíssemos devolver o braço da boneca à dona dela, iríamos utilizá-lo no helicóptero como nosso amuleto! Felizmente após alguns dias conseguimos rastrear o abrigo onde ele se encontrava e a boneca ganhou seu braço de volta, e mais ainda, a felicidade de sua dona.

2° ATO

A segunda história se passa no dia seguinte. Realmente foi constatado que havia o risco da barragem, reportada na história anterior, se romper, assim todos os moradores foram evacuados da região e várias equipes de bombeiros foram levadas ao local para avaliar a situação e fazer a busca de corpos. Realmente uma missão de grande risco, pois ainda ocorriam deslizamentos (um deles quase matou dois bombeiros alguns dias depois) e eles iriam passar o dia na região, sendo infiltrados por nossa aeronave e pelo H-34 pela manhã e resgatados ao final da tarde.

Assim, no fim do dia começamos a evacuar as equipes, ficando por último o pessoal que se encontrava na região de Arraial de Cima. Ao chegar no início do vale na região de Poço Grande, uma surpresa: a chuva, apesar de isolada, restringia a visibilidade a zero, impossibilitando o acesso à região. Com um deslocamento nítido de NE para SO, decidimos tentar contornar a nuvem ingressando em um vale mais ao norte, pela região de Baú Central. Imaginávamos assim contornar a chuva chegar ao local de resgate. Ingressamos no vale e prosseguimos até o limite onde a chuva encontrava a serra. Ao observarmos que realmente a chuva se deslocava no sentido esperado, resolvemos efetuar um pouso no terreno para aguardamos até que a meteorologia melhorasse. Ao tocar o solo, por estarmos sobre uma plantação, não percebemos que ele havia sido arado a pouco tempo, e por isso estava fofo. Com isso, quase houve um toque da cauda do helicóptero no solo, que não ocorreu graças ao nosso mecânico que informou a tempo o piloto. Após o susto, resolvemos mudar o local de pouso para uma estrada a cerca de 300 metros ao leste da nossa primeira posição, e ao nos posicionarmos para o pouso novamente nosso mecânico nos alertou, mas agora sobre a meteorologia: como estávamos virados para SO aguardando a chuva passar, não havíamos percebido que outra nuvem estava se aproximando pelo N, e dessa vez não era isolada, além de chuva havia também um banco de nevoeiro. Por estarmos na parte mais alta do vale, em mais alguns minutos essa formação iria fechar a parte baixa do vale, nos deixando isolados e sem possibilidade de sair dali, pois para passar pela camada teríamos que entrar em condições IFR, o que não é possível nas aeronaves H-1H. Imediatamente iniciamos a descida, porém no último terço a chuva foi mais rápida e fechou nossa saída. Presos na parte mais baixa, só nos restou uma solução: aproamos o sul, estimamos que o teto ainda estava mais alto que as elevações a nossa frente (na descida pudemos perceber isso ao cruzar a altura das elevações e olharmos neste rumo) e fomos subindo na vertical até o teto ou o suficiente para cruzarmos as elevações, o que acontecesse primeiro. Felizmente nossa estimativa estava correta e o teto estava cerca de 150 pés acima, e cruzamos a serra, tendo a frente o caminho livre até nossa base.

Área de Operação a Oeste de Blumenau e a Leste de Navegantes (ver maior na galeria ao final do artigo). Imagem: 5°/8° GAv

Área de Operação a Oeste de Blumenau e a Leste de Navegantes (ver maior na galeria ao final do artigo). Imagem: 5°/8° GAv

Porém como poderíamos abandonar ao relento aqueles bombeiros que dependiam de nossa aeronave para sair daquela região de risco? Toda a tripulação então decidiu fazer uma última tentativa, e qual foi nossa surpresa ao percebermos que o vale estava novamente com a visibilidade restrita, porém suficiente nos mínimos para nossa missão. Tivemos a sorte de pegar o período entra a primeira chuva isolada e a segunda com presença de nevoeiro, e por sabermos que o tempo era curto nos dirigimos o mais rápido possível para a área de pouso. Já no solo, o comandante dos bombeiros perguntou se poderíamos levar todos, pois devido ao horário, cinco minutos para o pôr-do-sol, dificilmente outra aeronave iria vir resgatá-los. Logicamente concordamos, não queríamos que após toda essa aventura até chegar ali ter que deixar alguém para trás, porém todos sabem que os bombeiros não são conhecidos por serem pessoas leves, muito menos os seus equipamentos. Dessa maneira após todos terem embarcado, mais as suas pesadas mochilas, mais os seus equipamentos, mais o cão farejador; escutamos alguém da tripulação começar a contar para saber quantas pessoas haviam a bordo. No meio da contagem outra pessoa falou: “Cara, acho melhor a gente parar de contar porque senão a gente não decola...”. O silêncio que se seguiu na fonia foi o sinal de que todos concordavam com a afirmação. Assim, lotados de bombeiros que tiravam fotos e brincavam uns com os outros por estarem todos amontoados no piso da aeronave, sem saber o risco que estavam correndo, iniciamos a decolagem na vertical até cerca de 35 pés para livrar os obstáculos; e apesar de uma perda de 200 rpm do rotor principal e dos parâmetros estarem todos no limite, conseguimos iniciar um leve deslocamento à frente e, com isso, ganhar uma pequena sustentação que possibilitou a nossa saída do local, tudo isso associado a uma perfeita coordenação de cabine e perícia de seu piloto em comando. Imediatamente todos da tripulação começaram a sorrir, pois sabíamos que tínhamos cumprido nossa missão (posteriormente um mecânico nos disse que havia contado no desembarque e seriam 13 bombeiros, o que daria 17 pessoas a bordo, fora os equipamentos e o cão). Para sermos justos, um H-50 da polícia chegou neste exato momento, e ao sermos questionados se havia mais alguém para ser resgatado, respondemos com orgulho que estavam todos a bordo e que não havíamos deixado ninguém para trás. Mais uma vez, apesar da idade, o H-1H havia provado seu valor.

Esquadrão não mediu esforços até que todos estivessem a salvo. Foto: 5°/8° GAv

Esquadrão não mediu esforços até que todos estivessem a salvo. Foto: 5°/8° GAv

Devido ao seu inegável valor durante a missão Santa Catarina, bem como a sua história de mais de 40 anosde serviços prestados ao Brasil, a turma de formandos em junho de 2009 da Escola de Sargentos da Força Aérea (EEAR) resolveu homenagear o feito histórico realizado pelo H-1H, do 5°/8° GAV, durante a Operação Santa Catarina, imortalizando-o em um mural na entrada da escola. A foto escolhida foi tirada durante o resgate das vítimas de Arraial de Cima que representa bem o espírito da aviação de asas rotativas e o lema “Para que outros possam viver.” , lema este da Aviação de Busca e Resgate da Força Aérea Brasileira..

Assim, agora que o fim de seus bons serviços prestados se aproxima, temos certeza de que o nosso bravo H-1H cumpriu e vem cumprindo muito bem o seu papel, desde os primeiros dias de sua chegada em 1967 até o fim próximo de seu serviço, provando que para ser uma lenda e necessário muito mais que um grande numero de unidades produzidas, é necessário ser confiável e útil do começo ao fim, conquistar a confiança daqueles que o operam, a admiração daqueles que o observam e marcar a vida daqueles que por eles foram salvos com seu clássico formato e inconfundível barulho de pás.

Bom descanso guerreiro, você merece...