Satélite com trajeto especial poderia revolucionar vigilância da Amazônia

Seguindo linha do Equador, equipamento vigiaria a floresta 24h.
Hoje, satélites que fotografam a terra giram no eixo norte-sul.

Iberê Thenório Do Globo Amazônia, em Manaus

Apesar de toda a tecnologia disponível, vigiar a Amazônia pelo espaço ainda é uma tarefa difícil. As nuvens encobrem a floresta e tampam a visão das câmeras espaciais, que passam sobre a Amazônia apenas uma vez a cada 26 dias. Se apenas um satélite conseguisse fazer um caminho diferente ao redor do globo terrestre, a situação poderia ser outra.

Todos os equipamentos usados para fotografar a terra fazem um caminho conhecido como “órbita polar”, seguindo o eixo norte-sul do planeta. Isso faz com que, em média, os satélites passem sobre um mesmo ponto da terra no máximo duas vezes por mês. Se nesses dias a floresta estiver encoberta por nuvens, a fotografia é perdida.

Um satélite que fizesse a rota paralela à linha do Equador poderia mudar essa realidade. Passando várias vezes por dia sobre a Amazônia, o equipamento conseguiria fotografar a floresta em momentos diferentes ao longo da manhã e da tarde, flagrando cenas menos nubladas na mata. Seria um verdadeiro "Big Brother" sobre a floresta.

A vigilância 24 horas sobre a Amazônia, contudo, ainda é uma realidade distante. Atualmente, não existe nenhum satélite que rode sobre o planeta em órbita equatorial.

“Do ponto de vista técnico, um satélite com essas características é factível”, diz o coordenador de gestão tecnológica do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Marco Antonio Chamon. Ele calcula que desenvolver e lançar um equipamento assim custaria cerca de R$ 65 milhões.

Foto: Inpe/Divulgação
Foto de satélite obtida em maio mostra a região de Coari, no Amazonas. As nuvens são o maior obstáculo para detectar desmatamentos em fotografias espaciais. (Foto: Inpe/Divulgação)

Do ponto de vista estratégico, contudo, o especialista pondera que ainda não é momento do Brasil investir em um equipamento assim. “Um satélite localizado exclusivamente na Amazônia acaba limitando as funções no resto do país”, defende.

Para Chamon, é necessário que o Brasil continue desenvolvendo equipamentos que possibilitem enxergar o país todo, já que os satélites também são úteis para monitorar outros biomas, além de ajudarem no planejamento de atividades econômicas, como a agricultura e pecuária.

Thyrso Vilela, da Agência Espacial Brasileira, concorda que o monitoramento da Amazônia não pode ser a única função de um satélite. “Não temos um satélite para meteorologia, também não temos um satélite exclusivo das Forças Armadas”, afirma.

Novos satélites na fila

Hoje, o monitoramento da Amazônia é feito com imagens dos satélites Landsat, dos EUA, e dos satélites brasileiros do programa CBERS (sigla para “China-Brazil Earth Resources Satellite”, ou, em português, “Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres”). Ambos os equipamentos foram criados para fotografar a superfície terrestre. Eles têm órbita polar, e passam poucas vezes sobre a Amazônia.

Para o especialista do Inpe, o monitoramento da floresta será muito mais eficiente quando o Brasil lançar o satélite Mapsar. Dotado de um sensor de radar, ele conseguirá enxergar através das nuvens ou mesmo no escuro. O lançamento do equipamento está previsto para 2013, mas o Inpe ainda não tem todos os recursos necessários para o desenvolvimento do satélite.