Uribe busca apoio a pacto com EUA e Chávez alerta para possível guerra

RODRIGO MARTÍNEZ - da Reuters, em Caracas - Via Folha de São Paulo

A Colômbia conseguiu nesta quarta-feira o apoio do Chile para a aplicação de um plano que permite aos Estados Unidos utilizar bases militares colombianas, em uma medida que causou polêmica na região e que, segundo o presidente venezuelano, Hugo Chávez, poderia levar a uma guerra na América do Sul.

No segundo dia de uma viagem a sete países da América Latina, foi a vez da presidente chilena, Michelle Bachelet, ouvir do próprio Alvaro Uribe as justificativas sobre o plano militar, criticado por líderes de esquerda. O plano também provocou preocupações de governos mais moderados como do Brasil e do Chile.

Enquanto isso, Hugo Chávez, presidente da Venezuela e com quem Uribe não planejou se encontrar, acirrou suas críticas e advertiu que o uso de bases colombianas por militares dos EUA "poderia ser o início de uma guerra na América do Sul".

Para Chávez, o presidente dos EUA, Barack Obama, "em vez de mandar mais soldados e mais aviões e mais dólares e mais helicópteros e mais bombas para a Colômbia, para que haja mais guerra e mais morte, deveria na verdade retirar", disse Chávez em uma entrevista coletiva, em Caracas, com correspondente estrangeiros.

No Chile, em frente à sede do governo em Santiago --onde ocorreu o encontro entre Bachelet e Uribe--, uma dezena de manifestantes se reuniu para protestar contra o plano militar. Eles foram detidos pela polícia na chegada do presidente colombiano.

"O que posso informar a vocês é que a presidente do Chile reiterou (...) que o Chile respeita a soberania, o interesse nacional e as decisões políticas de cada país deste continente e, particularmente nesse caso, da Colômbia", disse o chanceler chileno, Mariano Fernández.

Na semana passada, Bachelet disse no Brasil que compartilhava das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se manifestou contrário à ideia do uso de bases colombianas por militares norte-americanos mas que não queria dar opinião sobre as decisões de Uribe.

Após a reunião de cerca de uma hora e meia com Bachelet, Uribe disse que havia tido "um diálogo bem importante" com a presidente, para quem fóruns como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) poderiam tratar de temas como a presença militar dos EUA na Colômbia.

Uribe, visto como o principal aliado de Washington na região, recebeu ainda na terça-feira passada (4) o apoio do governo do Peru, no início de sua visita a países da região.

Bolívia

Na Bolívia, o presidente Evo Morales, que recebeu Uribe na terça, insistiu em sua contrariedade a um acordo militar entre Bogotá e Washington, afirmando que a guerrilha das Farc são "o melhor instrumento" dos EUA para justificar a ocupação militar na região.

"Quero dizer algo: as pessoas que estão nas Farc são o melhor instrumento do império neste momento", acrescentou o esquerdista Morales, que, no entanto, conclamou a guerrilha marxista a abandonar a luta armada e a buscar pacificamente mudanças políticas. Morales citou como exemplo a própria Bolívia. "Nossa experiência é fazer revolução na democracia", afirmou.

Argentina

Uribe também se reuniu com a presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner. Buenos Aires, contudo, não fez nenhum comentário sobre a reunião, embora fontes oficiais tenham afirmado que a Argentina "sempre foi contra a instalação de bases de potências estrangeiras na América Latina".

"Esta posição está ainda mais justificada pelo clima de paz que a região vive atualmente", concluíram as fontes.

Segundo fontes do governo, Kirchner disse a Uribe que era preciso que "reduzir o conflito na região" e que "a instalação das bases não colaborava com este objetivo".

Paraguai

Depois da Argentina, o presidente colombiano seguiu rumo ao Paraguai, onde chegou às 20h10 (no horário de Brasília). Ele deve se reunir com seu colega local, Fernando Lugo, na residência oficial da Presidência paraguaia.

A viagem de Uribe termina nesta quinta-feira com reuniões com o chefe de Estado do Uruguai, Tabaré Vázquez, e com o presidente Lula.

O périplo de Uribe não inclui o Equador e a Venezuela, cujos presidentes têm sido os mais críticos ao plano militar, que prevê a concessão de sete bases militares colombianas para tropas norte-americanas.

Tanto o governo colombiano, quanto o americano negam que o convênio em negociação seja uma ameaça para a estabilidade de determinados países ou da região em seu conjunto, como afirma Chávez.

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Bases na Colômbia podem gerar guerra na região, diz Chávez

Fonte: Valor Econômico, com agências internacionais - Via O Globo

A concessão de bases militares colombianas para uso dos EUA pode provocar uma guerra na América do Sul, disse ontem o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. " Essas bases poderiam ser o início de uma guerra na América do Sul. Trata-se dos ianques [EUA], o país mais agressivo da história da humanidade. "

Chávez não elaborou mais o seu alerta sobre o risco de guerra, mas disse que a instalação das bases americanas é um " ato hostil " e uma " verdadeira ameaça " a seu país. EUA e Venezuela mantém relação tensa. Washington (no governo Bush) chegou a apoiar o fracassado golpe de Estado contra Chávez, em 2003.

O venezuelano disse ainda que planeja comprar " vários batalhões de tanques " para ampliar a defesa da Venezuela. Desde 2005, o país já gastou mais de US$ 4 bilhões em armamento russo, incluindo helicópteros, caças e fuzis. A Colômbia recebe ajuda militar dos EUA.

Chávez tentou explicar como armas suecas compradas pela Venezuela foram achadas com guerrilheiros das Farc, na Colômbia. Ele repetiu que elas foram roubadas, mas não apresentou provas nem deu detalhes de como e quando o roubo teria acontecido. Chávez, que sempre mostrou simpatia pelas Farc, nega ter armado a guerrilha colombiana e chamou a acusação de " jogo chuva " da Colômbia, que ele chamou de " país falido " e disse ser hoje governado pelos EUA.

Nesta semana, em Cartegena, na Colômbia, o comandante das Forças Armadas colombianas, general Padilla de León, confirmou que o país negocia com os EUA a cessão de até sete bases para uso de tropas americanas. Seriam três bases da Força Aérea, duas da Marinha e duas do Exército, e o acordo seria de dez anos. Ele afirmou que elas seriam usadas somente para o combate ao narcotráfico, mas especula-se que poderiam atuar ainda contra a guerrilha no país. O contingente americano na Colômbia seria de 800 a 1.500 soldados.

" Trata-se de aprofundar relações, que vêm tendo sucesso, com o acesso a bases militares colombianas. Não são bases americanas, são colombianas, mas damos a possibilidade de que [os americanos] as usem " , disse.