Fonte: NOTIMP - Via: Plano Brasil
Reconhecida como polo do setor aeroespacial, São José dos Campos pode escrever seu nome em mais um importante projeto no setor. Através de uma parceria com a Força Aérea Americana cientistas do IEAv (Instituto de Estudos Avançados), vinculado ao DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial) estão desenvolvendo um mecanismo de propulsão a laser capaz de colocar satélites de até 50kg em órbita.
No projeto, que teve início em 2006, já foram investidos US$ 4 milhões, aproximadamente R$ 8 milhões, provenientes das Forças Aéreas Brasileira e Americana, além de recursos da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
A previsão é que para os próximos dois anos mais US$ 2 milhões sejam empregados nos estudos e que primeiro teste de voo seja realizado em 2013.
A ideia de aeronaves e foguetes se deslocando no espaço através de um feixe de luz de alta energia parece ter saído de um filme de ficção-científica, mas na prática, segundo o comandante Marco Antônio Sala Minucci, diretor do IEAv e coordenador da pesquisa, funciona com base num experimento realizado em 1997.
À época o professor Leik Myrabo, o primeiro no mundo a fazer voar um veículo utilizando a propulsão a laser, que trabalha hoje em parceria com o IEAv, fez um objeto de 60 gramas subir aproximadamente 100 metros em um deserto da Califórnia.
O trabalho consiste em utilizar uma base terrestre projetando radiação laser na traseira do veículo a ser lançado que, por sua vez, recebe, da parte dianteira, ar aquecido. Ao entrar em contato com o laser, as moléculas do ar aquecido explodem, empurrando o veículo para frente. A fonte de energia é o próprio ar e a eletromagnética.
VANTAGENS- De acordo com o comandante Marco Antonio Sala, o projeto vai garantir maior custo benefício ante ao sistema utilizado hoje, com o uso de combutíveis fósseis, além de reduzir o impacto dos lançamentos no meio ambiente.
“Atualmente, somente 5% do peso das naves que vão para o espaço é de carga útil. Isso acontece porque o veículo precisa transportar também o combustível e o oxidante necessário para o voo. Com a tecnologia a laser estimamos que a nave poderá destinar 50% da sua capacidade ao transporte de carga”, disse Sala.
A proposta de abolir o uso de combustível, como o etanol, também irá a ajudar a combater o aquecimento global, tornar as operações de lançamentos mais seguras e baratear em até 100 vezes o custo da viagem ao espaço.
“Nós temos vont ade de realizar o primeiro voo teste em 2013, mas vai depender dos nossos resultados. Esse primeiro voo não será de satélite, pode ser de um localizador para não correr o risco de algo dar errado”, explicou o comandante.
Ainda segundo Marco Antonio Sala, para conferir um lançamento de satélite só será possível, dentro do cronograma trabalhado, entre 2020 e 2025. Voos com seres humanos a bordo, somente quando tiver certeza que a tecnologia é realmente segura.
PARCERIA- O laboratório da Força Aérea Americana (Air Force Research Laboratory) realiza simultaneamente com os teste e estudos aplicados no Brasil outros experimentos que vão contribuir para a tecnologia de propulsão a laser.
A parceria entre Brasil e Estados Unidos foi batizada de International Beamed Propulsion Research Collaboration. Ela surgiu em 2000, após uma série de experiências bem sucedidas realizadas pelo IEAv sobre o assunto.
Em 2007, o laboratório americano forneceu dois importantes lasers de alta potência ao instituto para aprofundar as pesquisas. No ano seguinte os cientistas conseguiram guiar um feixe de laser no interior de um túnel de vento hipersônico, instalado no Laboratório de Aerotermodinâmica Hipersônica Prof. Henry T. Nagamatsu, do IEAv.
Testes no país são os primeiros do mundo
Os testes de propulsão a laser realizados no Laboratório de Aerotermodinâmica e Hipersônica Professor Henry Nagamatsu, do IEAv, em São José, são os primeiros no mundo a aplicar lasers de alta energia em um túnel de vento hipersônico.
Nos experimentos são simuladas potências de lasers de até 10 gigawatts, o equivalente à potência produzida por 10 milhões de lâmpadas de 100 watts cada, e velocidade de até dois quilômetros por segundo.
As ações aplicam algumas das condições de voo a serem encontradas pelo veículo na atmosfera, como o atrito com o ar. Por enquanto, os cientistas realizam experiências com um modelo parado dentro do túnel, e se concentram na focalização do laser na traseira do protótipo.
De acordo com o Comandante Marco Antonio Sala, os testes estão correspondendo as expectativas do estudo. O próximo passo agora, segundo ele, é aplicar vento e laser simultaneamente, o que pode acontecer nos próximos dias.
“Queremos com esse próximo teste entender o fenômeno que vai acontecer no modelo com o escoamento do ar, que estará com velocidade aproximada de 2 quilômetro por segundo. Vamos medir tanto pressão como temperatura, saber se o modelo irá se comportar dentro do que planejamos, sem surpresas”, disse o comandante Sala.
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