Os Estados Unidos escavam na Alemanha atrás dos restos mortais de combatentes da Segunda Guerra Mundial
Luiza Villaméa - Isto É
Em vez do verde intenso esperado para esta época do ano, uma pastagem nas imediações da cidade alemã de Bauler exibe extensas áreas de terra revolvida, buracos com lama e barracões com laboratórios improvisados.
O cenário de Bauler, na fronteira com a Bélgica e Luxemburgo, repete-se no leste do país, no território da antiga Alemanha Oriental. São reflexos do trabalho de campo do Comando de Buscas de Prisioneiros de Guerra e Desaparecidos em Combate (JPAC), uma divisão especial do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que despachou no começo de agosto três equipes para a Europa.
Enquanto um dos grupos investiga locações a serem exploradas num futuro próximo, os outros dois têm uma missão bem específica: encontrar os restos mortais de dois pilotos americanos cujos bombardeiros foram abatidos pelas forças alemãs em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial. Estima-se que 74 mil combatentes americanos desapareceram no decorrer do conflito, na Europa e no Pacífico, e que 35 mil seriam "resgatáveis".
O país destina US$ 55 milhões por ano ao projeto, que tenta localizar e recuperar os resquícios de seus homens. Em Bauler, a equipe formada por militares e civis está atrás de um piloto de bombardeiro derrubado em dezembro de 1944, no começo da Batalha do Bulge, uma das mais sangrentas da guerra. O piloto voava em direção à cidade de Ahrweiler, com a missão de bombardear um viaduto, quando foi atingido por um caça alemão e caiu, em chamas, no pasto. Dos seis homens a bordo, dois conseguiram saltar de para quedas, foram capturados pelos alemães e libertados no fim do conflito.
Os corpos de outros três integrantes da tripulação já estão localizados e resgatados. Falta agora encontrar o piloto, cujo nome é mantido em sigilo. Pela relação da comandante da equipe, a capitã Melissa Ova, o grupo encontrou um fragmento de paraquedas, uma parte de uma luva de couro, uma parte de um armamento blindado do bombardeiro e dezenas de projéteis. A mais alvissareira descoberta, no entanto, foram "possíveis resquícios de ossos", segundo a antropóloga forense Allysha Powanda Winburn, que integra a equipe.
Como usual nestas ocasiões, o material será enviado ao Laboratório Central de Identificação do JPAC, no Havaí, para exames de DNA. Ao todo, 400 funcionários da divisão estão envolvidos no projeto de busca dos soldados desaparecidos. A capitã Melissa, que serviu no Iraque em 2007, sinaliza que há uma grande identificação entre os militares e o trabalho. "Para mim, é um conforto saber que, se alguma coisa me acontecer, alguém vai buscar os meus restos" disse Melissa ao "The New York Times", enquanto escavava o terreno de Bauler.
Entre os civis, também é forte a sensação de que é preciso "trazer todos de volta para casa". Tanto que existem no país organizações não governamentais dedicadas ao mesmo fim (leia quadro). Lisa Phillips, presidente da associação Famílias pelo Retorno dos Desaparecidos na Segunda Guerra Mundial, lembra que o processo de localização e repatriamento dos restos mortais dos desaparecidos em combate é sempre demorado, burocrático e muitas vezes frustrante.
No caso dos combatentes na Segunda Guerra, a situação tem complicações adicionais. Quando o conflito acabou, em 1945, a sociedade não estava mobilizada para reivindicar o resgate dos soldados que ficaram nos campos de batalha. "Agora estamos finalmente começando a ser ouvidos, um processo que começou muitos anos atrás", disse Lisa à ISTOÉ. "A tendência está mudando."
Quando a associação de Lisa foi criada, em 2005, o foco das ações do JPAC estava voltado para a localização e resgate dos americanos desaparecidos na Guerra do Vietnã, nos anos 1960 e 1970, na qual morreram mais de um milhão de vietnamitas e cerca de 58 mil soldados dos Estados Unidos. Entre os americanos, 1.800 são considerados desaparecidos.
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