WASHINGTON. Peter Hakim, presidente do Inter-American Dialogue, acha que o preço que o Brasil paga por emergir como líder mundial de peso é equilibrar suas declarações diante dos fatos diplomáticos mais significativos, o que, segundo ele, o Itamaraty e o Planalto ainda não conseguiram fazer.
Gilberto Scofield Jr. Diante da visita de Ahmadinejad ao Brasil, como o senhor vê a política externa brasileira?
PETER HAKIM: A proposta brasileira de não ter um alinhamento automático a Washington não é nova e vem sendo ativamente explorada desde pelo menos o governo de Fernando Henrique Cardoso. No governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o alinhamento Sul-Sul se expandiu e o Brasil conseguiu criar uma importância política, juntamente com sua estabilidade econômica, que o colocou na posição de destaque atual. Mas, de uns tempos para cá, este trabalho carece de certo equilíbrio.
Gilberto Scofield Jr.:Como assim?
HAKIM: O Brasil precisa usar sua influência regional e global para solucionar efetivamente os problemas mundiais e não simplesmente para posar de rebelde. Todos os países parecem hoje adotar uma política internacional mais pragmática, como os EUA fazem com a China. Mas Obama não deixou de lembrar, na presença do presidente Hu Jintao e na frente da imprensa, a importância do respeito aos direitos humanos e à religião.
Gilberto Scofield Jr.: E de que maneira Lula não vem fazendo isso?
HAKIM: Quando critica o papel dos EUA no Oriente Médio e prega a ação da ONU e decide ignorar que tanto palestinos quanto israelenses fazem questão de negociar acordos com a intermediação dos EUA, não da ONU. Quando é cordial com Hugo Chávez sobre os direitos humanos e a liberdade de expressão na Venezuela ou no Irã. Quando critica o acordo militar entre EUA e Colômbia, mas não faz nada para ajudar no combate ao narcoterrorismo no vizinho.
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