Brasil - França - Relações sólidas

Por Jacilio Saraiva, para o Valor Econômico - Via DEFESANET

A relação França-Brasil nunca esteve tão forte. O país é o principal parceiro da França na América Latina - contribui com 35,8% dos fluxos comerciais da região, à frente do México (14,3%), Chile (11,4%) e Argentina (8,7%). Mas o intercâmbio comercial franco-brasileiro apresenta déficit comercial para o Brasil, de US$ 310 milhões, de janeiro a julho. Em 2008, o Brasil importou US$ 553 milhões a mais do que vendeu à França.

A crise reduziu em quase um quarto o comércio entre os dois lados, que chegou a US$ 8,8 bilhões no ano passado e não deve passar de US$ 6,5 bilhões neste ano, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Mas os esforços governamentais para fortalecer a relação comercial devem resultar numa corrente de US$ 10 bilhões de comércio em até três anos.

Segundo a Ubifrance, o Brasil subiu no ranking de fornecedores para a França, saindo do 23º lugar em 2007 para a 22ª posição em 2008. Há muitos indicadores positivos. Hoje, há mais de 400 filiais de empresas francesas no país, que empregam cerca de 400 mil pessoas.

"O Brasil tornou-se um dos países prioritários para desenvolver o comércio exterior da França, assim como os EUA, Japão, China, Rússia, Índia e Alemanha", afirma Dominique Mauppin, chefe da missão econômica da Embaixada da França em São Paulo e representante da Ubifrance no Brasil. A Ubifrance é uma agência francesa para o desenvolvimento internacional de empresas. "O Brasil tem um enorme potencial para se tornar uma das maiores potências do mundo, embora seja evidente a necessidade de grandes reformas estruturais, sobretudo a fiscal."

Os Frances apostam todas as suas fichas em vender ao Brasil mais das modernas e super armadas Fragatas FREMM cujos deslocamentos e capacidades se enquadram dentro dos requisitos da MB.


Segundo Mauppin, o mercado nacional se apresenta em transformação, o que abre boas perspectivas por conta de uma balança energética próxima do excedente, com a confirmação de reservas de petróleo e gás na Bacia de Santos, pela maior internacionalização das empresas brasileiras e pela criação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que deve incrementar investimentos no setor público.

Com esse panorama promissor, no ano passado, 900 empresas francesas solicitaram serviços das missões econômicas - um crescimento de 284 companhias em relação a 2007. Da mesma forma, 380 organizações participaram de operações coletivas, ante 184 do ano anterior. Desse total, 116 empreendimentos marcaram presença nos "Encontros de Negócios França-Brasil", marco inicial do Ano Comercial da França no país.

Na área da defesa, o acordo de parceria estratégica entre a França e o Brasil, assinado em dezembro de 2008 pelos presidentes Lula e Sarkozy, prevê a aquisição de 51 helicópteros Cougar e de quatro submarinos Scorpène, com transferência de tecnologia e de industrialização. Além disso, o Brasil deve anunciar ainda este ano a escolha do avião de caça que equipará a sua Força Aérea. A francesa Dassault aparece entre os três competidores selecionados. O setor aeronáutico representa, tradicionalmente, de 25% a 30% das exportações da França para o Brasil.

Para estimular a promoção de produtos e de novas tecnologias no mercado brasileiro, o governo francês também criou os "Espaços França", células de prospecção de negócios em feiras especializadas. O projeto mobilizou 150 empresas em 13 espaços criados em 2008, contra 84 nos oito espaços em operação no ano anterior.

De acordo com Mauppin, em 2009, a Ubifrance e a rede das missões econômicas realizaram mais de 40 eventos comerciais, com 22 Espaços França nos principais salões setoriais brasileiros. "Vamos finalizar o Ano da França com os Encontros da Inovação França-Brasil." O evento acontece de hoje a sexta-feira, em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, e conta com o apoio de corporações francesas como o grupo Accor, Air Liquide, BNP Paribas, Rhodia, Deloitte e Bull. O objetivo é fomentar o crescimento de companhias francesas e brasileiras com a ajuda de parcerias tecnológicas, industriais e comerciais.

A França tem forte vocação científica e é dona de ferramentas importantes de fomento à inovação. Ocupa a 5ª posição no ranking mundial de registros de patentes e investe, por ano, € 37 bilhões em pesquisa e desenvolvimento.

Este ano, mais de 500 empresas francesas visitaram o Brasil - 70 delas apenas nos Encontros da Inovação. Até dezembro, a estimativa da Ubifrance é que mil pequenas e médias companhias participem de iniciativas de prospecção de negócios. Para 2010, já existem 25 operações programadas em salões de negócios brasileiros, como o Intermodal, Agrishow e Rio Oil and Gas.

Hoje, a presença das empresas francesas no Brasil é considerada relativamente equilibrada entre os setores da economia. 17,3% delas estão em nichos como aeronáutica, espaço, tecnologia da informação, comunicação e eletrônica; 13,9% ocupam o segmento de bens de consumo, 12,6% atuam na construção de obras públicas, transportes, engenharia e meio ambiente, enquanto 10,6% das companhias pertencem à área financeira e jurídica.

"Estamos mantendo os investimentos de US$ 1 bilhão no Brasil, entre 2006 e 2011", garante o presidente da Michelin para a América do Sul, Jean Philippe Ollier. "Nesse pacote, está a construção de uma nova fábrica de pneus, que será aberta em dois anos."

A Michelin tem 118 mil funcionários no mundo e 5 mil no Brasil. Fabrica pneus para aviões, automóveis, motocicletas, equipamentos de mineração e terraplenagem, além de pilotar negócios com guias de viagem. Tem duas fábricas no Rio de Janeiro e investe na troca de experiências bilaterais.

"Formamos cem operários brasileiros nos EUA, França e Espanha, para trabalhar na fábrica de pneus de equipamentos de mineração, inaugurada no Rio, no ano passado." A planta, resultado de um investimento de US$ 200 milhões, gera 400 empregos diretos. Produz pneus que pesam 1,5 tonelada e medem até três metros de altura.

A Accor Hospitality, segmento hoteleiro do grupo Accor, também comemora uma boa temporada de negócios. Encerrou o primeiro semestre com receita 6,3% superior ao mesmo período do ano passado. A empresa, com 142 hotéis e 7,6 mil colaboradores no país, também vive o melhor semestre de sua história em termos de novos negócios na América Latina: fechou dez contratos com investidores, com hotéis no Amazonas e Minas Gerais. Os investimentos do grupo e parceiros somam US$ 101 milhões, com a oferta de 1,4 mil novos apartamentos.

Segundo Roland de Bonadona, diretor-geral para a América Latina da Accor Hospitality, "o primeiro semestre demonstrou uma ótima capacidade de resistência à crise no Brasil, com destaque para o segmento de hotelaria econômica." Em 2008, o grupo, com presença em cem países, cresceu 23,2% comparado a 2007, com uma receita de € 338 milhões. No Brasil, o salto foi ainda maior: 25,9%, com R$ 822 milhões no caixa.

"Um número crescente de companhias menores está aparecendo, iniciando uma nova fase de desenvolvimento da presença francesa no país", analisa Dominique Mauppin. A lista inclui a Dourdin, que fabrica produtos para decoração automotiva, estabelecida em São Paulo; a C-Lines, de galpões pré-fabricados, que foi para o Rio Grande do Sul, e a Hubbard, de criação de aves, em Goiás.

De janeiro a julho, segundo a Câmara de Comércio França-Brasil (CCFB), cerca de 250 empresas francesas pediram informações sobre o mercado brasileiro. "A previsão é terminar o ano com 400 solicitações", diz Sueli Lartigue, diretora executiva da CCFB. "Desse total, pelo menos 30% vão montar negócios no Brasil."