O rádio como instrumento de terror: assim era Rosa de Tóquio

1945: o mundo vivia o final de um conflito sangrento, a Segunda Guerra Mundial. Ao redor do planeta, colônias germânicas, como as que existiam no Vale do Itajaí, acompanhavam em receptores de rádio “clandestinos” as notícias vindas da Europa para saber quem estava ganhando a guerra.

Por Carlos Braga Mueller - Via: Caros Ouvintes

Ter rádio em casa, durante a guerra, era terminantemente proibido aos alemães residentes no Brasil ou descendentes de germânicos. Por isto, os aparelhos ficavam escondidos nos porões ou nos sótãos. Mas no dia 30 de abril daquele ano de 1945, vendo que já perdera a guerra, Hitler e sua amante Eva Braun suicidaram-se em um “bunker” em Berlim.

Alguns dias depois a Alemanha assinou a rendição. Porém o Japão, aliado dos alemães, não aceitou a derrota e continuou a guerrear. O império nipônico nunca havia perdido uma guerra em toda a sua milenar história, e não seria agora que o imperador, um Deus na Terra, iria enfrentar tal desonra!

Durante a guerra, o rádio teve papel preponderante nas ações desenvolvidas pelos beligerantes. E os japoneses foram campeões, espalhando mensagens patrióticas, que visavam incentivar seus guerreiros e ao mesmo tempo abater o moral das tropas do principal inimigo, no caso os norte-americanos.

A Rádio Tókio, através das suas ondas curtas, levava ao ar, sem parar, mensagens lidas em inglês por uma voz suave de mulher: era a Rosa de Tókio, como ficou conhecida internacionalmente.

Através de artifícios técnicos a emissora conseguia invadir as faixas da BBC de Londres e da “Voz da América” de Washington direcionadas ao teatro de guerra, espalhando ainda mais as mensagens como se fossem das emissoras ocidentais.
Mas afinal, o que a Rosa de Tokyo falava? Com voz adocicada, ela não cansava de repetir ao microfone:

“Vocês, soldados americanos, por que não voltam para as suas casas? Tudo já terminou… vocês perderam a guerra. Se Mac Arthur (o comandante-em-chefe das operações de guerra dos Estados Unidos) for capturado vivo, será enforcado na Praça Imperial de Tókyo…”

E falava incessantemente sobre batalhas fictícias, que os japoneses teriam vencido, criando apreensão e mal estar entre as tropas norte americanas quando lembrava que as mulheres dos americanos estavam em casa, se divertindo, enquanto eles, soldados, lutavam nas frentes de batalha.

Personagem de ficção ou real? Quem foi esta famosa Rosa de Tókyo? Ela existiu, sim e se chamava Iva Toguri. Era americana, filha de imigrantes japoneses, e ao retornar à terra dos seus pais, para visitar parentes, foi surpreendida com a notícia de que o Japão havia bombardeado a base naval americana de Pearl Harbour no Pacífico, entrando na guerra. Iva não sabia falar japonês, mas um anúncio no jornal pedia pessoas que soubessem inglês para trabalhar na Rádio de Tókyo.

Deram-lhe a incumbência de apresentar um programa de propaganda de guerra chamado “Hora Zero”, onde ela transformou-se na temida e lendária “Rosa de Tókio”. Ficou comprovado que seus textos, lidos de forma pausada e com voz suave, rebaixavam ao máximo o moral das tropas dos Estados Unidos.

Quando a guerra acabou, Iva Toguri voltou para os Estados Unidos. Estava casada com Felipe D’Aquino, um português, que também trabalhava na rádio. Iva Toguri D’Aquino não quis renunciar à cidadania americana e por isso foi acusada de alta traição ao país.

Julgada e condenada, esteve vários anos presa até que, em 1977, foram encontradas falhas no processo acusatório e o Presidente Gerald Ford lhe concedeu o perdão oficial.

No dia 28 de setembro de 2006 ela morreu, em Chicago, aos 90 anos de idade.
Os japoneses só se renderam aos americanos, em 2 de setembro de 1945, após sofrer dois ataques com bombas atômicas às cidades de Hiroshima (6/8/45) e Nagasaki (9/8/45).

O povo japonês desconhecia ainda estes ataques, pois as estações de rádio e os jornais, censurados, não relataram nada sobre as tragédias: 80 mil mortos e 130 mil feridos em Hiroshima, e 20 mil mortos e 50 mil feridos em Nagasaki.

E foi pelo rádio, em um dramático pronunciamento, feito a partir do Palácio Imperial, que o Imperador Hiroito anunciou à Nação a rendição incondicional do Japão aos Aliados.

Tokyo Rose

Fonte: Zepelim - Carlo Patrão

Iva_Toguri_before_NHK_microphone

Zepelim dedicado à propaganda radiofónica emitida durante a Segunda Guerra Mundial e, em particular, à propaganda japonesa contra o exército dos E.U.A. protagonizada pelas vozes femininas que desencorajavam e desmoralizam os soldados americanos a travarem batalha no Pacífico Sul. Às enigmáticas vozes que saiam da rádio, os soldados americanos chamaram genericamente de Tokyo Rose. As Tokyo Rose, dirigiam-se aos soldados com familiaridade, emitindo canções de amor do folclore norte-americano com o intuito de exaltarem a saudade nos corações dos soldados. Outra das técnicas utilizadas pelas locutoras de rádio japonesas consistia em dirigirem-se individualmente a um soldado, tratando-o pelo nome próprio, falando-lhe da família e da namorada que deixara para trás provocando ciúme e desorientação. Com o término da Segunda Guerra Mundial a imprensa americana encontrou uma das supostas vozes da propaganda japonesa, Iva Toguri D’Aquino que se apresentava sob o nome de “Orphan Ann” tendo feito parte do programa The Zero Hour na Radio Tokyo. Iva Toguri D’Aquino nasceu em Los Angeles filha de emigrantes japoneses. A 5 de Julho de 1941, Iva Toguri viaja para o Japão com a finalidade de visitar familiares e a possibilidade deestudar medicina. Com o eclodir dos ataques a Pearl Harbor, Iva Toguri depara-se com a impossibilidade de regressar aos E.U.A. O governo japonês obriga-a a renunciar a sua cidadania americana e força-a a trabalhar na propaganda anti-EUA. Mais tarde em 1949 após uma longa investigação do F.B.I., Iva Toguri é condenada injustamente por crimes contra a pátria. Em 1971, o Presidente dos Estados Unidos Gerald Ford, concede-lhe perdão incondicional… Toguri morre a Janeiro de 2006.

Nesta emissão de zepelim, recuperámos algumas das raras gravações existentes de Tokyo Rose, e adicionámos alguns excertos ficcionados presentes no filme The Wild Blue Yonder (1954). Contudo, espreitamos também a propaganda radiofónica (This is War!) realizada nos Estados Unidos no ano de 1942 com o intuito de preparar a população para a Guerra contra o Japão e a Alemanha. Podemos ainda escutar algumas faixas retiradas da colectânea Last Kind Words (1926-1953) da Mississipi Records.