por Gonçalo Venâncio - IONLINE (Portugal)
No espaço de três dias, Damasco foi o palco para uma grande reunião de amigos: Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, Ahmad Vahidi, o general ministro da Defesa iraniano, e claro, o anfitrião, Ali Habib, o ministro da de Defesa sírio. Estes três homens importantes não se encontraram por acaso entre os dias 8 e 10 de Dezembro. Eles acreditam que o Irão vai ser alvo de uma "agressão sionista patrocinada pelos americanos." Até ao final de 2009 ou no início de 2010. No espaço de um mês, portanto.
As informações recolhidas pelas agências secretas iranianas - assumindo o fracasso da via diplomática aberta pela Administração Obama - asseguram que, logo a seguir ao natal, Telavive terá luz verde de Washington para atacar Teerão.
Ninguém no regime islâmico quer ser apanhado desprevenido: "A contagem decrescente para a guerra está perto do fim e devemos ter a nossa parceria estratégica em grande forma", exultou o general Vahidi no comité de defesa Irão-Síria.
Vahidi viajou num avião do exército iraniano liderando a maior comitiva militar alguma vez vista na capital síria - havia representantes das forças armadas, dos Guardas Revolucionários e das agências secretas.
A delegação mostra as intenções iranianas em Damasco: cimentar alianças estratégicas e garantir o apoio militar sírio na preparação de um ataque a Israel. "Laços defensivos mais fortes entre o Irão a e Síria são elementos de dissuasão contra as ameaças sionistas aos países da região", disse Vahidi.
A resposta síria foi de encontro aos desejos dos decisores militares de Teerão. Citando Ali Habib, a IRNA, agência noticiosa iraniana, apresentou as garantias do titular da defesa sírio: qualquer ataque ao Irão será encarado como um ataque à Síria.
No tabuleiro de guerra, Teerão conta também com o Hezbollah e o Hamas, dois braços armados pela República Islâmica absolutamente providenciais na destabilização das fronteiras de Israel.
Tanto Israel como o Irão têm vindo a participar num longo jogo de poker, usando e abusando dos seus melhores bluffs. Mahmoud Ahmadinejad fez a sua declaração de intenções há anos - varrer Israel do mapa - e, por seu turno, Telavive não se fia nas virtudes da dissuasão nuclear: bombas atómicas no Irão, nem pensar.
No entanto, esta é a primeira vez que, na defesa do deu programa nuclear, Teerão admite abertamente estar à espera da "cavalaria" judaica.
A temperatura política no Médio Oriente sobe ainda mais uns graus depois de, na passada segunda-feira, ter sido revelado pelo "The Times" um memorando secreto que mostra Teerão a trabalhar num iniciador de neutrões - componente sem qualquer aplicação na campo nuclear civil e procurado apenas por quem quer uma bomba atómica.
Neste patamar de evolução tecnológica, onde os iranianos já passaram claramente as linhas vermelhas traçadas pelos israelitas, vários analistas acreditam que Benjamin Netanyahu é forçado a intervir com ou sem o apoio norte-americano, embora a última hipótese seja improvável.
Aparentemente, só uma duríssima ronda de sanções internacionais poderá abrandar o ímpeto israelita. A Rússia, membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tem sido a maior aliada de Teerão. Mas com a normalização das relações entre o Kremlin e a Casa Branca - Obama abdicou do escudo antimíssil na Europa de Leste - Ahmadinejad pode perder o seu seguro de vida: o veto russo. Até porque Moscovo também não vê com bons olhos a proliferação nuclear no Médio Oriente.
Com Ahmadinejad fragilizado pelo processo de eleições, a secreta israelita percebeu que tem uma janela de oportunidade e multiplicam-se os avisos: "se a comunidade internacional não actuar, os israelitas vão resolver o assunto à sua maneira", diz um diplomata citado pelo "The Times".
Para neutralizar o programa nuclear iraniano, as forças israelitas acreditam que pode ser necessário atingir 12 alvos (com Natanz, Esfahan e Arak, à cabeça). Uma operação arriscada que só pode assentar no poder aéreo das esquadras de F-15 e F-16 israelitas, em ataques tão massivos quanto cirúrgicos. Estes, nem sequer são desafios novos para a Força Aérea. Em 1981, os caças israelitas não precisaram de muito tempo para arrasar central nuclear de Osirak, nos arredores de Bagdade. Em apenas 100 segundos, as ambições atómicas de Saddam Hussein ficaram reduzidas a pó.
0 Comentários