Unasul apresenta ''nova doutrina''
Documento adotado em Quito proíbe a instalação de bases militares estrangeiras nos países da América do Sul

QUITO - O Estado de S.Paulo

Os 12 países-membros da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) adotaram ontem em reunião em Quito, no Equador, uma "nova doutrina de segurança" que proíbe a instalação de bases militares estrangeiras na América do Sul, disse o chanceler equatoriano, Fander Falconí, ao final do encontro.

"Os resultados são ótimos. Temos um documento de consenso regional e marcamos uma nova visão e uma nova doutrina de segurança em termos regionais", disse Falconí.

Apenas 2 dos 12 países-membros enviaram tanto seus titulares de Defesa e quanto o de Relações Exteriores ao encontro - um deles foi o Brasil, idealizador do grupo, o outro foi o anfitrião, Equador.

O restante dos países enviou apenas um dos ministros ou funcionários de segundo escalão, temendo insucesso semelhante ao da reunião de setembro, em Bariloche. A Unasul é formada por Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Chile, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.

Apesar do esvaziamento, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, saiu satisfeito com o fato de a Colômbia ter dado garantias de que os EUA não lançarão operações militares na América do Sul usando como base o território colombiano. Bogotá e Washington assinaram recentemente um acordo que prevê o uso de até sete bases colombianas por Forças dos EUA.

"Houve avanços sobretudo numa questão que nos preocupava muito que era a das garantias formais" dadas pela Colômbia, disse Amorim. "Mas é claro que ainda temos de analisar", acrescentou.

A Colômbia - acuada pelos demais 11 membros do bloco - foi a primeira a esvaziar a reunião.

Bogotá esperou até a noite anterior para anunciar que enviaria apenas uma "missão técnica" para "evitar insultos que ferissem sua dignidade nacional".

ATAQUES

Sua ausência, entretanto, não evitou as críticas. "É um vazio inexplicável, um erro gigantesco, um desprezo pela Unasul", atacou o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, sobre a ausência colombiana. "Temos de exigir que acabem com as bases militares estrangeiras em nosso território."

Há duas semanas, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, chegou a acusar a Colômbia e os EUA de planejar um ataque à Venezuela e pediu que sua população e suas Forças Armadas se preparassem para a guerra.

Na quinta-feira, o assessor especial do Planalto para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, chegou a prever que os dois países chegariam pelo menos a um "armistício verbal" em Quito que desfizesse o clima de confronto. No entanto, nem isso foi possível. "Não podemos dedicar energias, recursos e pessoal a leviandades internacionais criadas por uma retórica inaceitável", disse, em Bogotá, o ministro da Defesa colombiano, Gabriel Silva.

Já o chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, enviou, segundo Amorim, uma carta aos paísesmembros da Unasul, aceitando dar as garantias formais pedidas pelo bloco. A carta de Bermúdez "era o próprio texto (do acordo) no aspecto de declaração de garantias", disse o chanceler brasileiro. Ele considerou o documento de ontem "um avanço em relação ao que havia antes".