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Jobim se irrita com vazamento e decreta silêncio

ELIANE CANTANHÊDE - COLUNISTA DA FOLHA DE SÃO PAULO

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse ontem, por meio de sua assessoria, que mantém o que ele declarou em entrevista à Folha em dezembro sobre a renovação dos caças da Aeronáutica, no sentido de que "a FAB não fará ranking de proposta, analisará os critérios individualmente, e o presidente é quem fará juízo de valor sobre a relevância de cada um".

A manifestação foi feita por e-mail, usando o verbo assim, no futuro, para ratificar a versão oficial de que o relatório da Aeronáutica, concluído no dia 18 de dezembro, não foi entregue ao ministro até agora.
Em nota divulgada ontem, a Aeronáutica confirma que encerrou o relatório e ainda não o enviou à Defesa. Ressalta que o documento é "pautado na valorização dos aspectos comerciais, técnicos, operacionais, logísticos, industriais, de compensação comercial (offset) e transferência de tecnologia".

A seus assessores Jobim disse que se sentiu "pressionado" com a divulgação, na Folha de ontem, do resultado do relatório técnico da Aeronáutica sobre o programa F-X2 -no qual o francês Rafale, preferido da área política, ficou atrás do sueco Gripen e do americano F-18. Essa informação, sobre a ordem de preferência, não foi questionada pela nota da FAB.
Jobim determinou ontem tanto à Defesa como ao Comando da Aeronáutica que não houvesse declarações nem detalhes para a imprensa que possam aumentar a natural tensão para definir o vitorioso final. A decisão, formalmente, compete ao presidente Lula.

Na Aeronáutica, conforme a Folha apurou, o comandante Juniti Saito lamentou que a divulgação das conclusões da FAB tenha ocorrido menos de uma semana após o vazamento da informação de que os comandantes das Forças Armadas haviam cogitado pedir demissão por causa do novo Plano Nacional de Direitos Humanos.
O temor de Saito é que uma coisa contamine a outra, o que, a seu ver, seria não apenas inconveniente como injusto. O relatório da FAB, com cerca de 30 mil páginas, já tinha sido concluído pela comissão responsável e aprovado pelo Alto Comando da Força Aérea no dia 18. Antes, portanto, da divulgação do plano de direitos humanos, três dias depois, e da tensão na área militar.
Jobim e Saito conversaram anteontem à noite, na Base Aérea, e qualquer definição só ocorrerá a partir de segunda, quando Lula e Jobim voltam das férias. O anúncio do vencedor ficará a cargo da Defesa.