PAK-FA continua invisível, mas por pouco tempo
Lançamento do caça «stealth» russo envolto em silêncio
Fonte: Area Militar
Lançamento do caça «stealth» russo envolto em silêncio
Fonte: Area Militar
A imprensa russa tem vindo a anunciar nas últimas semanas o primeiro voo do caça de quinta geração PAK-FA, ou T-50, que há mais de dez anos tem sido continuamente apresentado como o futuro caça da força aérea da Rússia e cujo primeiro voo deveria ter ocorrido há quase uma década.
No entanto, tem sido frisado pelos órgãos de comunicação social internacionais que continua a não existir qualquer referência fotográfica do caça. O secretismo tem sido justificado com a necessidade de manter as linhas da aeronave secretas, ainda que grande parte das tecnologias, técnicas e procedimentos sejam conhecidos. Os russos precisam no entanto de mostrar a sua «aeronave invisível» pois ela é suposto servir de base para programas de cooperação internacional, que não podem basear-se no que até ao momento têm sido apenas rumores e boatos.
Sabe-se que desde que os Estados Unidos começaram o desenvolvimento do seu super-caça F-22, a Rússia tem aparentemente desenvolvido esforços no sentido de conseguir acompanhar o desenvolvimento norte-americano na área.
O F-22, embora tenha começado a ser desenvolvido há mais de 20 anos, voando pela primeira vez em 1990 ainda não se pode considerar completamente operacional, por falhas na integração de sistemas.
Ainda assim, ele é geralmente considerado o mais sofisticado avião de combate do mundo, embora os seus custos proibitivos tenham condicionado o número de unidades adquiridas.
Lenta resposta russa
Logo que os americanos começaram a desenvolver o caça bombardeiro F-117, que a Rússia também se dedicou ao estudo de uma aeronave «Stealth» que tivesse capacidade para iludir os radares adversários. No entanto, o fim da URSS praticamente cancelou qualquer desenvolvimento. Os russos tentaram várias vias e apresentaram várias soluções intermédias, desenhos e projectos, mas nenhum foi visto como viável.
Já em 1999, a Rússia terá tido acesso a partes do único caça F-117 que foi abatido sobre a Sérvia. Este acesso poderá ter dado aos russos alguma informação sobre o tipo de material utilizado, mas aparentemente os norte-americanos desenvolveram outro tipo de cobertura para os seus caças, que é muito mais eficaz. Tão eficaz, que os novos aviões «Stealth» norte-americanos não têm as linhas estranhas e angulosas que caracterizavam o F-117.
Isto, juntamente com a redução da enorme rede de espiões soviéticos nos Estados Unidos, aparenta ter deixado a Rússia sem acesso directo à sua principal fonte de desenvolvimento tecnológico (a industria norte-americana de defesa).
Mas se é certo que a Rússia não demonstrou capacidade para desenvolver um caça equivalente em tempo útil, foram mantidos alguns núcleos de excelência, nas áreas onde a industria russa mantém uma reconhecida capacidade.
Por esta razão, é no campo dos motores que a Rússia joga para conseguir competir no mercado futuro de aeronaves de quinta geração. Se um futuro caça «Stealth» russo não deverá ser mais que uma cópia piorada de um derivado do F-22, espera-se que os seus motores pelo menos, sejam superiores aos seus congéneres norte-americanos e que a sua estética seja agressiva.
Os constantes atrasos porém, parecem indicar que o desenvolvimento na Rússia se tem debatido com dificuldades de todos os tipos.
De entre as dificuldades, destaca-se a total obsolescência da indústria aeronáutica russa. As autoridades têm feito pouco mais que manter muitas das antigas instalações de construção da era soviética como unidades independentes, para manter a capacidade de produzir peças de reposição para os aviões que ainda conseguem voar.
Os fabricantes aeronáuticos russos enfrentam vários problemas e algumas das fábricas estão inevitavelmente condenadas ao desaparecimento, como tem sido referido por alguma imprensa russa que tem sido reproduzida no ocidente.
Os problemas de qualidade são inúmeros e há imensas tecnologias que precisam de ser desenvolvidas ou então adquiridas aos países ocidentais. Ainda recentemente entidades do exército russo afirmaram que se recusavam a utilizar aeronaves não tripuladas fabricadas na Rússia, porque estas eram absolutamente inúteis. A Russia foi forçada a adquirir aeronaves do tipo em Israel.
Produzir um projecto de caça de última geração como o PAK-FA, quando a base industrial está quarenta anos atrasada é provavelmente não apenas difícil, mas eventualmente impossível sem o auxilio externo.
Futuro incerto
A imprensa russa afirmou que a aeronave se locomoveu pela primeira vez em 24 de Dezembro, tendo sido declarado de seguida que o primeiro voo seria realizado no dia 28 de Dezembro, apenas quatro dias depois. Esta última afirmação que era vista como demasiado optimista acabou – como era esperado – por não se concretizar.
Passado o prazo, nenhuma imprensa russa divulgou qualquer informação sobre o pretenso caça «invisível» e os jornais dedicaram-se a transcrever notícias sobre o assunto, originárias da imprensa ocidental.
A maior parte das fotos sobre o futuro caça russo, são até ao momento cópias ou adaptações de fotos do caça norte-americano YF-23, o projecto da Northrop-Grumman, que foi derrotado na competição com o YF-22, que ficaria conhecido como F-22 «Raptor».
A probabilidade de a Rússia vir a desenvolver um caça «Stealth» que possa ficar operacional nos próximos anos são mínimas, de acordo com muitos dos analistas internacionais, e mesmo russos.
Da Índia parece no entanto vir uma luz de esperança, pois parte dos grupos de pressão dentro da Força Aérea estão interessados no desenvolvimento do caça experimental, que esperam possa a vir substituir o Su-30MKi dentro de algumas décadas.
Para o efeito a Índia anunciou que poderá participar no desenvolvimento, que foi estimado entre 5700 e 7100 milhões de Euros [1].
Para já sabe-se apenas que a Índia está por exemplo interessada numa versão de dois lugares, enquanto que a Rússia prefere aeronaves monolugar.
Mas se o dinheiro da Índia é bem vindo, os russos são os primeiros a afirmar que a Índia praticamente não aporta nada ao projecto, que será quase exclusivamente russo.
A Índia também não faz nenhum segredo sobre as suas pretensões na obtenção de tecnologias que permitam o desenvolvimento do seu próprio avião, o que deixa os industriais russos desconfiados perante a ascensão de um potencial concorrente.
Talvez a maior confirmação das dificuldades do caça Stealth russo venha dos Estados Unidos.
As autoridades norte-americanas que analisam os custos e os gastos dos programas militares norte americanos, afirmam para lá de qualquer dúvida razoável, que o F-22 não tem rival à altura, nem terá nos próximos 20 anos.
Cada vez mais esse tipo de aeronave aparece como um demonstrador de tecnologia, mas não como uma opção economicamente viável para os conflitos que se prevê venham a ocorrer num futuro próximo. Se os Estados Unidos colocam em causa a utilidade desse tipo de avião, muito mais razões haverá para que a Rússia também pense duas vezes antes de gastar dinheiro.
Mesmo na Rússia o caça «stealth» terá sempre um custo astronómico e o número de unidades que podem ser fabricadas será limitado. Isso entra em conflito com a tradição russa de utilizar grande número de meios para esmagar os possíveis adversários.
Mas se o desenvolvimento do caça russo acabar ocorrendo, mesmo que de repente a indústria aeronáutica russa recupere por milagre da crise, e consiga desenvolver o seu caça a um ritmo muito mais rápido que o norte-americano, o futuro PAK-FA, só poderá começar a ser entregue na melhor das hipóteses em 2025, 35 anos após o primeiro voo do F-22 «Raptor» e 20 anos após aquele ser declarado operacional.
[1] – Mesmo para a realidade russa, o valor é tido como demasiado baixo. Como exemplo, a Rússia vendeu um porta-aviões à Índia, que depois de feitas todas as contas ficou de quatro a cinco vezes mais caro, consoante as fontes.
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