Entenda como os problemas na Europa podem afetar a economia brasileira
Além da Grécia, economias da Itália e Espanha também têm dificuldades.
Setores como comércio exterior e mercado financeiro podem ser afetados.

Paula Leite Do G1, em São Paulo

Os problemas fiscais da Grécia e de outros países europeus podem afetar o Brasil, atingindo as empresas exportadoras e também o mercado financeiro, afirmam economistas ouvidos pelo G1.

A Grécia e também países com economias maiores, como Itália e Espanha, correm o risco de não conseguirem pagar suas dívidas interna e externa, segundo Alexandre Chaia, professor da escola de negócios Insper (ex-Ibmec de São Paulo). Isso prejudicaria o fluxo de crédito a esses países, que teriam crescimento menor e desemprego maior até haver um ajuste das contas públicas.

"Com a expectativa de consumo menor, caem os preços das commodities. Isso afeta o mercado financeiro brasileiro, que tem muitas empresas desse segmento, e também afeta as empresas exportadoras de produtos para esses países", diz Chaia.

Editoria de arte G1/G1
Editoria de Arte/G1

Segundo Samy Dana, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os governos dos países europeus gastaram muito em ajuda fiscal no auge da crise, com incentivos à economia, e agora enfrentam uma dívida pública muito alta.

O problema maior, para o especialista, é que os problemas fiscais dos países europeus vêm em um momento em que essas economias já não estão indo muito bem. "Se os países estivessem crescendo, não seria um problema tão grande, porque o setor privado compensaria", afirma o professor do Insper.

Chaia afirma, porém, que mesmo no caso das empresas exportadoras serem afetadas, a economia brasileira em geral não deve sofrer grandes efeitos negativos, já que o consumo interno vem sustentando o crescimento do país.

Foto: AFP

Gregos foram às ruas em protesto que paralisou serviços públicos (Foto: AFP)

Risco

Outro problema para o Brasil é a percepção dos investidores sobre o risco de investir aqui. "Se um país como a Espanha der um calote, os investidores podem 'fugir' para títulos dos Estados Unidos, que é um país que nunca deu calote", explica o professor do Insper.

"O Brasil é um país em que o investidor enxerga um risco muito grande. A primeira atitude do investidor [em tempos de incerteza] é tirar o dinheiro daqui", diz Dana, da FGV. "O mercado agora tem a expectativa de que a crise não foi totalmente superada."

Além disso, afirma o especialista, como o sistema financeiro mundial é integrado, os grandes investidores que põem dinheiro no Brasil são os mesmos que atuam em outras regiões. "O cobertor é curto, então se eles perdem dinheiro na Grécia, podem tirar dinheiro do Brasil para cobrir as perdas", diz ele.

Segundo Dana, esses movimentos podem reduzir o fluxo de investimentos para o Brasil, tanto no mercado financeiro quando em capital produtivo. Com isso, o crédito para grandes empresas pode ficar mais caro.

George Vidor fala sobre a crise na Grécia



O comentarista George Vidor afirmou que a crise na Grécia foi causada pelo agravamento de seus problemas financeiros, que existiam há muito tempo. Já a Espanha teve problemas na indústria de carros.



Risco de calote da Grécia derruba mercados no mundo todo



Este ano, a dívida total deve chegar a 125% do Pib grego, quando o limite para a UE é de 60%. Para não afetar a estabilidade da zona do euro, o mercado espera que os ricos estanquem a tragédia grega.