"UMA ESTRANHA COINCIDÊNCIA"

A morte do dissidente cubano, Orlando Zapata Tamayo, um dia antes da chagada do presidente Lula a Cuba, a pequena e aprazível ilha caribenha, foi no mínimo uma estranha coincidência. Quem conhece as artimanhas da CIA e dos grupos anticastristas ficou de orelha em pé. Todos sabem e, o próprio governo cubano confirma que em Cuba não existe, o que chamamos aqui de “liberdade” de imprensa.

Em 51 ano de revolução, tampouco se constatou um único levante popular contra o regime.

Um país sitiado, que sofre uma permanente ameaça de invasão pela maior potência militar do mundo, não pode e nem deve abrir as suas portas ao inimigo, isso é elementar na política de defesa de qualquer nação. O governo cubano nunca negou as limitações existentes no país com relação às liberdades individuais. A democracia cubana é coletiva e não individualista. O governo cubano luta para oferecer ao seu povo o socialismo pleno, mas, até o momento os Estados Unidos tem conseguido impedir a concretização da utopia socialista, que é a democracia plena, democracia para todos.

Desde 1962, Cuba vive em um permanente estado de guerra, sendo ameaçado de invasão pelos os Estados Unidos e, sofrendo constantemente atentados terroristas financiados pela CIA e executados por cubanos que estão acantonados em Miami e, os dissidentes do regime que moram no país.

Falando sobre dissidentes políticos, sempre gosto de citar uma máxima de Santo Inácio de Loyola, onde ele diz: “Em uma fortaleza sitiada, toda dissidência é traição”. É o caso cubano.

É notório que Cuba, com o fim da União Soviética e dos países socialistas do leste europeu, sofreu, nos anos 90 do século passado, uma das maiores crises da sua história. Eu pessoalmente imaginei que o regime não suportaria a pressão, mas, suportou e superou aquele momento de crise aguda com muita dignidade. Só um povo com alto grau de consciência política e de sentimento nacionalista suporta as dificuldades que o povo cubano enfrentou e, ainda enfrenta. O povo cubano tem estas duas características: sentimento nacionalista e consciência política. Basta ler a história de Cuba ou ler o seu maior pensador, José Martí para constata isso. Na época dos países socialistas do leste europeu, mesmo sofrendo um cruel e imoral bloqueio econômico, o governo cubano tinha um relacionamento internacional que lhe permitia oferecer ao seu povo as conquistas da Revolução sem maiores atropelos, além do abastecimento, saúde, educação esporte e lazer, para todos. Cuba é um país que tem poucos recursos naturais, depende da importação de petróleo e isso dificulta o seu desenvolvimento. O fim da União Soviética foi um duro golpe. A URSS abastecia o país com petróleo. A percepção estratégica de Fidel, sua popularidade e o sentimento nacionalista do povo cubano, permitiram que o país supera-se a crise e inicia-se uma nova etapa da sua Revolução Socialista.

Apesar de todas as ameaças, Cuba ultrapassou a crise dos anos 90 e conseguiu alcançar, sem perder a sua dignidade e a autodeterminação do seu povo, os novos tempos que a América Latina está vivendo. Claro que em Cuba têm dissidentes, o governo cubano tem uma forte oposição, financiada pela CIA e a Máfia de Miami.

O jornalista Ignácio Ramonet, no seu excelente livro “Fidel Castro: biografia a duas vozes”, editora Boitempo – 2006, na página 19, falando sobre os relatórios da Anistia Internacional, que tratam sobre as liberdades em Cuba, diz: “os relatórios anuais da Anistia Internacional criticam a atitude das autoridades cubana em matéria de liberdades individuais (liberdade de expressão, liberdade de opinião, liberdades políticas) e recordam que, em Cuba, há dezenas de “presos políticos”. Esses relatórios críticos da Anistia não constatam, no entanto, casos de tortura física em Cuba, de “desaparecimentos”, de assassinatos políticos ou de manifestações reprimidas com violência pela força pública.

Tampouco se constatou um único levante popular contra o regime. Nem mesmo um caso em 51 anos de revolução. Ao passo que, em alguns Estados próximos considerados “democráticos”, como a Guatemala, Honduras, República Dominicana, até o México, sem falar na Colômbia, por exemplo, sindicalistas, opositores, jornalistas, sacerdotes, prefeitos, líderes da sociedade civil continuam sendo impunemente assassinados, sem que esses crimes habituais suscitem comoção na mídia internacional”. Nem comentários condenatórios.

A mídia internacional e os seus representantes aqui no Brasil, fazem um estardalhaço danado com qualquer problema que ocorra em Cuba ou em qualquer país que não siga a cartilha do consenso de Washington. Agora, eu não vi Arnaldo Jabor nem Boris Gasoy, nem A Folha de São Paulo comentar o assassinado de 70 civis afegãos mortos, recentemente, por militares norte-americano, segundo uma nota das forças militares sediadas no Afeganistão, foram mortos por engano e, pronto.

Antonio Capistrano – ex-reitor da Uern.
(Fonte: Vermelho) - Via: Blog do Crato