A MARCHA CHINESA
É iminente o anúncio oficial do fechamento das operações do Google na China, por interferências do governo de Pequim no funcionamento da empresa. Desde 2006, quando as autoridades impuseram censura aos conteúdos divulgados pela google.cn, o site chinês da empresa, as informações consideradas “sensíveis” para Pequim deixaram de ser acessadas pelos 340 milhões de internautas então existentes.
Entre os temas vetados, estão, por exemplo, a independência de Taiwan, o Dalai Lama, a controvérsia sobre o Tibete e a seita Falun Gong. O fato não pode ser visto apenas do ponto de vista dos chineses que perdem seu acesso ao maior portal de buscas hoje existente.
A questão precisa ser vista no contexto da importância econômica, política e diplomática que a China conquistou no mundo e do nefasto exemplo que a censura representa. O boicote chinês ao Google é político e nada tem a ver com a contestação que se faz à ação dessa empresa por se apropriar indevidamente de conteúdos produzidos por jornais, rádios e televisões em todo o mundo.
O confronto entre o portal e o governo chinês já teve vários episódios, além da censura imposta sobre o conteúdo difundido no google.cn. O site foi assaltado por hackers chineses, havendo suspeitas de que tais invasões tivessem ocorrido com o objetivo de espionagem industrial e quebra da propriedade intelectual, fato que também atingiu outras empresas estrangeiras que operam em território da China. Desde 2008, sites como YouTube, Twitter e Facebook são inacessíveis no país. Nesse período, também aumentou a repressão aos dissidentes, que culminou com a condenação a 11 anos de prisão do ativista de direitos humanos Liu Xiaobo, em dezembro.
O impasse entre essas empresas de tecnologias de comunicação e o governo de Pequim é emblemático: de um lado está o novo mundo, da liberdade plena, do acesso democrático à informação e da valorização do indivíduo; de outro está o Estado autoritário e censor, querendo tutelar os direitos das pessoas em nome de uma suposta moral coletiva. Com base numa tradição milenar de controle do poder público sobre as manifestações da sociedade, está sendo fácil para as autoridades chinesas impor restrições aos sites estrangeiros que operam no país. Num mundo amplamente globalizado e especialmente num país que já é a segunda potência econômica do planeta, a censura sobre o Google ganha relevância que ultrapassa as fronteiras da China. Estamos diante de um gesto autoritário, incompatível com o espírito de liberdade de informação e de pesquisa que a internet criou.
Não basta que um país possua uma economia dinâmica, que cresce a médias recordes neste começo de milênio. Também não basta que a sociedade chinesa mostre uma capacidade ascendente de resolver os impasses de um país ainda amplamente desigual. Há progressos humanos e sociais que ainda não chegaram à China, entre eles o respeito à liberdade de informação. A marcha chinesa para se transformar efetivamente em exemplo mundial em outras áreas não pode dispensar esse avanço. O fechamento do Google, se ocorrer, se juntará às prisões de dissidentes, à censura e às precárias condições de trabalho, como mais um mau exemplo e um retrocesso.
O provável fechamento do Google mostra que importantes progressos humanos e sociais ainda não chegaram à China, entre eles o respeito à liberdade de informação.
Fonte: Zero Hora
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