Alegando pressão de 'forças ocultas, Jânio Quadros renunciou à presidência, dando lugar à João Goulart
Depois que a poeira do tempo baixou, verdades antes sufocadas pelas articulações e repressão passaram a desenhar imagens sob o líquido revelador da Democracia, desmascarando relatos que estavam “de bom tamanho” para a história nacional.
Perduram ainda os mitos sobre o período que levou o Regime Militar a suceder à democracia brasileira. O primeiro erro foi aquele que propagou que a esquerda brasileira preparava um golpe e os de direita, sabendo disso, prepararam uma contra-ofensiva.
As descobertas que foram se sucedendo revelam que nunca houve uma esquerda conspirando pela tomada do poder no ano de 1964. Conspiravam sim, os simpatizantes de ideais comunistas na defesa de suas convicções. Basta saber que, quando os militares chegaram com seus tanques, não houve resistência. Onde estava essa esquerda que preparava o golpe? Mentira que atravessou o tempo!
Verdadeiramente, e a história foi revelando isso gradativamente. Grupos da direita não queriam as reformas sociais que o Brasil sempre precisou e ainda precisa implantar. Assim, em seus respectivos gabinetes, todos contra todos.
Uma elite se perpetua e isso já vem desde que os abastados fazendeiros perceram a intenção de D. Pedro II em promover a reforma agrária, doando terras para pobres e negros. Tirá-lo do poder foi a alternativa.
Um país de 'conspirações'
O termo conspiração vem do latim “Conspirare” que significa “respirar junto”, isto é, trabalhar em conjunto visando interesses particulares.
Com a chegada em Cuba do regime comunista, os Estados Unidos passou a monitorar as atividades políticas em toda a América Latina através da espionagem.
Aconteceu em 1961 aquilo que representou um vergonhosa e mal sucedida tentativa americana de invadir a ilha de Cuba, para tentar derrubar o regime de Fidel.
Desembarcaram na Baía dos Porcos, quase sete mil soldados, entre os quais, 1.200 ex-refugiados cubanos mas tiveram que desistir. Foi a partir daí que a União Soviética se aproximou de Cuba e passou a financiar a sua defesa com a instalação de mísseis
A tensão mundial decorrente dos anos 60, quando as duas maiores nações do mundo passaram a dividir o planeta em dois blocos econômicos, fez com no Brasil, todos conspirassem, civis e militares, povo e igreja, empresários e camponeses, radicais e moderados...Não há como fugir dessa ocorrência histórica.
Jânio e Fidel
Eleito pelo Partido Democrata Cristão (PDC) e apoiado pela UDN (União Democrática Nacional) para substituir Juscelino Kubitschek de Oliveira, Jânio da Silva Quadros assumia a presidência da República no dia 31 de janeiro de 1961.
Naquele tempo, a eleição para presidente e vice-presidente era realizada separadamente e Jânio não conseguiu eleger seu vice, Milton Campos. O vice-presidente saiu do PTB (Partido trabalhista Brasileiro), o gaúcho João Goulart, visto como simpatizante do comunismo.
Jânio era polêmico, e apesar de ter sido eleito por um partido que representava as elites, passou a criticar essa mesma elite, enquanto fazia do seu populismo uma ferramenta de aproximação com as classes mais baixas. A UDN que o apoiou era a legenda da burguesia (tornar-se-ia depois, sucessivamente Arena, PDS, PFL e DEM).
O que eram as “forças terríveis?”
Entre as medidas mais impopulares que Jânio adotou fora a proibição das rinhas de galo, inclusive checou a proibir o biquini nas praias. Além disso, irritou os americanos quando apoiou Fidel Castro durante o episódio do “fiasco americano” na Baía dos Porcos, o que causou desconforto junto ao gigante capitalista da América do Norte.
No dia 18 de agosto de 1961, Jânio recebeu o ministro da Indústria de Cuba, Ernesto “Che” Guevara que foi condecorado pelo presidente brasileiro com a maior comenda nacional: a Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.
O motivo dessa condecoração, foi uma forma de agradecimento por “Che” ter atendido um apelo: evitar o fuzilamento de mais de 20 sacerdotes que estavam condenados pelo regime de Fidel. Mas essa condecoração custaria muito cara.
Forçado a se desligar da UDN devido seus discursos contra as elites que o elegera, Jânio teve ainda cinco dias como presidente. No dia 19 de agosto de 1961, o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, apoiado por militares, soltava uma notícia de que Jânio preparava um golpe de Estado.
No dia 25 de agosto de 1961, falando de pressões de “forças terríveis”, Jânio da Silva Quadros renunciava ao governo, após sete meses da posse. Estava aberta a vaga para seu vice-presidente.
João Goulart assume com parlamentarismo
João Goular, o “Jango”, havia sido Ministro do Trabalho no período Getúlio Vargas, vice-presidente da República na gestão de Juscelino e também eleito pelo PTB vice de Jânio Quadros.
As alas mais conservadoras ficaram de “antena” ligada e assim, sua posse foi barrada pelos ministros militares Odílio Denys, (Guerra), Gabriel Grün Moss (Aeronáutica) e Sílvio Heck (Marinha). Jango estava na China para uma missão diplomática quando estourava no Brasil a renúncia de Jânio Quadros e, dessa forma, quem assumiu o cargo foi o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli.
Tiveram início então manifestações por todo o país através de segmentos conservadores O Jornal “O Estado de São Paulo” publicava na sua edição de 29 de agosto de 1961 texto sugerindo a desistência espontânea de João Goulart, ou então, uma alteração na Constituição, retirando o direito do vice-presidente na sucessão do presidente.
Em defesa de João Goulart, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola, que era cunhado de Jango (Brizola era casado com Neusa Goulat), formou no Sul a “Rede da Legalidade”, defendendo a posse com o cumprimento da Constituição.
Assim, como conciliação, articulou-se a aprovação no dia 2 de setembro, de uma emenda à Constituição, instalando o regime Parlamentarista. Ou seja, Jango assumiria, mas quem deveria governar era o Primeiro Ministro. Os erros na emenda constitucional, no entanto, não retiraram o poder do presidente.
A reforma agrária
A posse ocorreu em 7 de setembro de 1961, e desde então, João Goulart ficou na mira de todos, principalmente os membros da ala de direita. Gaúcho de São Borja, João Belchior Marques Goulart era mal visto por ser populista e de esquerda.
O Regime Parlamentarista durou até 6 de janeiro de 1963, quando após ser conclamado pelo presidente João Goulart, aconteceu o plebiscito que deu vitória esmagadora para a volta do Regime Presidencialista. Seu governo foi cheio de percalços políticos, período em que o Brasil mergulhou em uma crise econômica.
Outras de suas iniciativas polêmicas, foi a volta das relações diplomáticas com a União Soviética. Quando o presidente John Kennedy dos Estados Unidos pediu apoio para uma invasão à Cuba, João Goulart se recusou. Isso deu margens para que setores diversos da sociedade passassem a enxergá-lo como comprometido com a expansão comunista na América.
A elite e as reformas
Com a aprovação de leis que beneficiavam trabalhadores, João Goulart incomodou setores empresariais. João Goulart desenvolveu um governo com liberdade em suas relações diplomáticas e teria caído não pode seus defeitos, mas por suas virtudes, disse um dia Darcy Ribeiro, que fora seu ministro da Casa Civil: “Caiu por ser forte, se fosse fraco não cairia. Jamais abriu mão de seus ideais que eram a distribuição de renda, o fortalecimento da educação, entre outras reformas”
Denise Goulart, filha de Jango, carrega uma mágoa: seu pai foi esquecido de forma criminosa e proposital; não há uma rua com seu nome. Justo ele que dobrou o salário mínimo e colocou na pauta do governo a reforma agrária.
Em São Paulo, Ademar de Barros; em Minas Gerais, Magalhães Pinto e na Guanabara, Carlos Lacerda, articulavam contra os militares do grupo de João Goulart.
A classe média orquestrou no dia 19 de março de 1964, em São Paulo, a passeata denominada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade,”em resposta ao comício do dia 13 de março na Central do Brasil, Rio de Janeiro, quando João Goulart anunciou a reforma agrária. Entre os manifestantes, representantes da igreja e entidades femininas.
A presença militar
Mais tarde, a marcha organizada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade,” foi desmascarada, quando foram reveladas informações que membros da CIA estavam enfronhados em suas fileiras.
Essa manifestação tinha o objetivo de desestabilizar o Governo João Goulart e jogar a opinião pública contra aquele que acusavam estar a sérviço do comunismo.
No final da década de 70, para pasmo geral, o Brasil tomou conhecimento de uma operação americana denominada “Projeto Brother Sam, através da liberação de documentos (telegramas) pertencente ao Governo Lindon Jonhson. Tratava-se de uma força-tarefa naval composta de um porta-aviões e destróiers de escolta que teriam partido do Caribe no dia 31 de março de 1964. O destino: Brasil!
O documento tinha o seguinte título: U.S. Policy Prior to the Coup of 1964 (Política dos Estados Unidos Antes do Golpe de 1964)
Uma revolução sem um tiro
O impasse maior foi o dia 25 de março, quando, apesar, de proibição do Ministro da Marinha Silvio Mota, marinheiros comemoravam na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro o 2º aniversário da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais. No encontro, reivindicavam melhorias no atendimento e alimentação e o fim da miséria e exploração nos navios e campos.
O Ministro da Marinha emitiu ordem de prisão e enviou ao local do encontro um pelotão de fuzileiros navais, apesar da não autorização de Goulart. Lá chegando, os fuzileiros que foram enviados para prender os revoltosos aderiram ao movimento.
O Ministro pediu demissão do cargo. No dia 26, após a prisão dos marinheiros, o presidente João Goulart os anistiou e isso revoltou os oficiais.
No dia 31 de março de 1964, Olimpio Mourão Filho, um general controvertido, partia com tropas de Juiz de Fora, Minas Gerais, com destino ao Rio de Janeiro e Brasília, naquilo que os militares denominaram “Revolução Redentora”.
A chamada “Revolução de 1964” na realidade não aconteceu naquilo que se esperava, isto é, um conflito armado. Não havia qualquer tentativa de golpe nem por parte do presidente da República, nem por qualquer milícia de esquerda.
Era o fim da democracia
João Goulart estava no Rio de Janeiro quando recebeu o manifesto de Mourão Filho que exigia sua renúncia. No dia 1º de abril, seguiu para Brasília na tentativa de recuperar a situação, porém, sem apoio dos militares, deixou a cidade e seguiu para Porto Alegre com sua família. Naquele mesmo dia, Ranieri Mazzilli ocuparia interinamente o cargo de presidente (mais uma vez) após Auro de Moura Andrade, presidente do Senado ter declarado vago o cargo de presidente.
Jango seguiu em exílio para o Uruguai e faleceu na Argentina em 1976, justamente no período em que negociava com Juscelino e seu ex-inimigo político, Carlos Lacerda, uma volta triunfal do trio à política brasileira com a articulação da Frente Ampla.
Curiosamente, todos eles faleceram em curto espaço de tempo, sendo Juscelino em agosto de 1977 na Via Dutra em grave e misterioso acidente e Carlos Lacerda em 20 de maio de 1977, de infarto fulminante após ser internado com uma forte gripe.
Hoje, levantamentos estão sendo feito no sentido de apurar uma suspeita: João Goulart pode ter sido vítima de envenenamento.
Fonte: Agora Vale
2 Comentários
Um desgraçado agente do serviço de inteligência uruguaio foi preso a alguns anos no Rio Grande do Sul por fazer parte atualmente de uma quadrilha de assaltantes de bancos. No prisão escreveu um livro que conta toda a história! Inclusive existe um documentário em vídeo em que ele pede desculpas para o filho de Jango!
Ele disse que receberam ordens dos seus superiores no uruguai e que havia sido uma operação Brasil-Uruguai-Argentina em que conseguiram colocar vários comprimidos de sal no mesmo frasco dos remédios para o coração que Jango tomava, então após alguns meses JANGO ao tomar um dos comprimidos de sal teve um infarto, já que o sal eleva a pressão e o coração não suportou!
Tem muita sujeira ainda para ser limpa nessa história de "golpe americano" no Brasil!
Fomos apenas fantoches e os militares em grande parte também!
Perdoem-me pelos erros gramaticais, nao moro no Brasil a alguns anos e raramente escrevo portugues.