Rússia libera documentos sobre Katyn


Documentos secretos detalhando a decisão da liderança soviética de assassinar 22.000 oficiais poloneses em Katyn foram liberados por ordem do Presidente Medvedev.

Num ato sem precedentes, os Arquivos Estatais da Rússia publicaram documentos que mostram como o ditador soviético Josef Stalin aprovou o massacre proposto por seu chefe de polícia Lavrenti Beria, durante a Segunda Guerra Mundial. Outros membros proeminentes do Politburo Soviético também aprovaram a matança.

Um documento de quatro páginas enviado por Stalin para Beria, chefe do NKVD (predecessora da KGB), detalha sua proposta de “rapidamente examinar o uso dos meios mais altos – morte por fuzilamento”. A assinatura de Stalin e o carimbo vermelho “confidencial” são visíveis na primeira página.

A liberação do primeiro arquivo pareceu mais uma tentativa da Rússia de resolver amargas divisões com a Polônia sobre Katyn. Houve uma melhora repentina nas relações após a queda em Smolensk do avião que levava o Presidente Lech Kaczysnki e 95 outros líderes poloneses para celebrar o 70º aniversário da tragédia.

Mais de 100 volumes de documentação relacionada à investigação criminal do massacre de Katyn permanecem secretos, apesar dos pedidos poloneses por sua liberação. A maioria das informações do arquivo recentemente liberado já era de conhecimento público.

Mas a Rússia tomou ações no sentido de confrontar o passado desde a queda fatal da aeronave, como televisionar o filme de Andrzej Wajda sobre Katyn pela primeira vez no país. Medvedev também compareceu ao funeral de Kaczynski na Polônia, onde o Cardeal Stanislaw Dziwisz apelou diretamente para ele para tentar resolver a história difícil dos entre o dois países.

O chefe dos Arquivos, Andrei Artizov, disse que o documento liberado exclui definitivamente a alegação de que os prisioneiros poloneses foram mortos pelos nazistas. O Kremlin manteve por 50 anos essa versão, até que Mikhail Gorbachev assumiu a responsabilidade de Moscou em 1990.

O lado russo está demonstrando total abertura já que está contando a história do que realmente aconteceu com os poloneses em Katyn... Acesso foi dado a documentos-chave sobre a tragédia”, disse Artizov.

Ele disse que o documento foi guardado nos Arquivos Estatais e entregue a Boris Yeltsin por uma comissão especial em 1992. “Contém uma carta, escrita por Beria em março de 1940, recomendando que os prisioneiros fossem executados e seus restos escondidos. A carta contém o parecer de Stalin e de outros membros do Politburo. Entre eles estão Kliment Voroshilov, Vyacheslav Molotov e Anastas Mikoyan. Está contida também a Resolução de 5 de março de 1940, que dá aprovação a Beria para executar os oficiais poloneses”.

Outros documentos incluem uma nota de 1959 de Alexander Shepelin, então chefe da KGB, dizendo que os arquivos relacionados ao assassinato dos oficiais poloneses haviam sido queimados como parte do esforço de encobrir o crime. Artizov disse que todos os líderes soviéticos depois de Stalin leram os documentos e sabiam do ocorrido. Cópias foram entregues ao Presidente polonês Lech Walesa na década de 1990 e, apesar de terem sido liberados por Yeltsin, o acesso aos documentos continua restrito – pesquisadores têm que obter permissão especial para vê-los.

Artizov diz que Katyn também contém mais 10.000 corpos de “cidadãos soviéticos comuns”, mortos nos expurgos stalinistas dos anos 1930. “Usando os mesmos métodos, este crime foi levado à perfeição com os prisioneiros poloneses”.

Fonte: The Times, 28 de abril de 2010 - Via Sala de Guerra