A crítica da presidente eleita, Dilma Rousseff, à decisão do governo brasileiro de se abster na votação da Organização das Nações Unidas que questionou o Irã por violação de direitos humanos agradou a parlamentares aliados e da oposição. Ao jornal "Washington Post" , Dilma disse discordar da decisão do governo iraniano de condenar à morte por apedrejamento Sakineh Mohammadi Ashtiani, de 43 anos, acusada de adultério. Foi a primeira vez, desde a eleição, que Dilma discordou frontalmente de uma posição do governo Lula.

Para os parlamentares, o Brasil deve usar o protagonismo no cenário mundial para se posicionar frente a questões como esta. Presidente em exercício da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado Domingos Dutra (PT-MA) considera correta a atitude de Dilma e disse que o Brasil não pode se omitir.

- Se o Brasil fez tanto pelo Irã, é hora de o Irã ouvir a opinião da presidente eleita do Brasil. Com todo o respeito feito à mediação do presidente Lula, considero a declaração de Dilma extremamente coerente: na medida em que defende aumentar a presença de mulheres em seu ministério, não tem como compactuar com uma atitude de condenar por apedrejamento. É um exemplo de que Lula não continuará governando, e sim Dilma, com suas opiniões.

Líder do PSDB na Câmara, o deputado João Almeida (BA) criticou o presidente Lula:

- Nesse assunto, a presidente Dilma está mais em sintonia com o povo brasileiro. O Lula é quem destoou.

Ativistas de direitos humanos e de entidades não governamentais também elogiaram as declarações da presidente eleita. Jair Krischke, historiador e coordenador do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, considerou a declaração de Dilma coerente com sua história.

- As violações de direitos humanos no Irã são mais que evidentes. É estapafúrdio o papel da diplomacia brasileira em se abster. Uma barbaridade. A Dilma adotou uma posição coerente com sua história.

- Direitos humanos não têm fronteira. São universais, interdependentes e indivisíveis. Como signatário de acordos internacionais, o Brasil tem que primar pela não violação desses direitos em todos os cantos do mundo. A postura da Dilma foi corretíssima - disse Augustino Veit, advogado e militante de direitos humanos, assessor da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e ex-presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos do governo federal.

Dilma tem o desafio de quebrar gelo com os EUA

A afirmação de Dilma deu o tom da política externa brasileira a partir de 1º de janeiro de 2011. A interpretação dentro e fora do governo é que, se depender dela, a diplomacia brasileira será mais dura com os iranianos e votará contra eles quando o assunto voltar à tona.

Outra certeza é que Dilma manterá a política de cooperação Sul-Sul desenvolvida pelo presidente Lula. Ela tem pela frente o desafio de quebrar o gelo com os americanos. As relações Brasil-EUA esfriaram em meados de 2009 por causa do Irã. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, atropelou a proposta de acordo nuclear do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad - e que contou com a assessoria dos governos brasileiro e turco - e anunciou sanções àquele país.

A opção de Dilma pelo secretário-geral do Itamaraty, Antônio Patriota, para substituir o atual ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, é uma pista. Patriota foi embaixador em Washington, tem bom trânsito com autoridades americanas e revelou-se importante negociador na ação ganha pelo Brasil na Organização Mundial do Comércio que deu direito ao país de retaliar o ingresso de bens e serviços dos EUA.

Para o professor Virgílio Arraes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, a posição de Dilma em relação ao Irã reflete uma questão ligada à vida pessoal dela:

- Ela sofreu com a ditadura e agora tem o desafio de conjugar o posicionamento pessoal com o do Estado. Será que vai conseguir? Só o tempo dirá.

Fonte: O Globo


A maior autoridade da Aeronáutica teria dito que a melhor opção do Brasil para a compra de 36 aviões de combate é o F-18 Super Hornet, produzido pela empresa norte-americana Boeing.

Segundo o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Clifford Sobel, o brigadeiro Juniti Saito, comandante da FAB (Força Aérea Brasileira), afirmou que o caça americano tem o “melhor custo-benefício” para o Brasil.

A preferência é citada em um telegrama secreto enviado de Brasília em 31 de julho do ano passado pelo então embaixador. A carta é uma das mais de 250 mil correspondências emitidas de representações americanas em todo mundo para o governo americano, reveladas na última semana pela ONG WikiLeaks.

http://www.atribunamt.com.br/wp-content/images/imagens_do_dia/09-08-07/Juniti%20saito%20-%2008-08-07.jpg

Desde que foi relançado, em maio de 2008, o F-X2, projeto de renovação da FAB vem se arrastando sem uma definição final, apesar da preferência explícita do ministro da Defesa, Nelson Jobim, pelo caça Rafale, da montadora francesa Dassault.

Além do F-18 Super Hornet e do Rafale, concorre também o caça Gripen NG, da sueca Saab, que, no início do ano, havia sido classificado pela FAB como a melhor opção, por ter custos de manutenção mais baratos.

Na carta, divulgada neste domingo (5), Sobel relata que Saito havia jantado com o comandante do Comando Sul do EUA, general Doug Fraser. No encontro, ele teria afirmado que “não havia dúvida, do ponto de vista técnico, que o F-18 era uma aeronave superior”.

“Nós temos voado em equipamento dos Estados Unidos por décadas. [...]Sabemos que é confiável e que sua manutenção é simples e oferece bom custo-benefício por meio do sistema de vendas militares externas”. A fala é uma transcrição do que Saito teria dito no encontro.

Sobre a preferência política do governo brasileiro pelos Rafale, Saito teria afirmado ainda que os franceses “não poderiam reclamar, já que eles acabaram de assinar um acordo de US$ 14 bilhões [R$ 23,7 bilhões] com o Brasil”, para a compra de helicópteros e submarinos.

Transferência de tecnologia

O embaixador ressalta, porém, que a maior objeção para a escolha do F-18 era a desconfiança que autoridades brasileiras tinham quanto à transferência de tecnologia.

O temor era que os EUA, que não queriam uma “corrida armamentista” na América do Sul, vetasse a abertura de códigos eletrônicos de armas ou sistemas de navegação. Com a compra, o Brasil tem interesse em desenvolver a indústria bélica e aeronáutica.

Para dissipar as dúvidas, Saito teria dito que precisava de uma carta oficial em que os EUA se comprometeriam a abrir a tecnologia do avião. O prazo para isso era o dia 6 de agosto do ano passado, já que o processo de escolha estaria em fase final.

Um mês depois, ressalta o embaixador, Lula receberia o presidente da França, Nicolas Sarkozy, diretamente envolvido nas negociações, nas comemorações da Independência em Brasília, no dia 7 de setembro do ano passado. Na ocasião, Lula acabou se antecipando e disse que o Rafale já havia sido escolhido.

O episódio chegou a gerar constrangimento entre as concorrentes, que faziam intenso lobby e barganhas para vender os caças. O anúncio informal, antes da conclusão do processo de concorrência, foi interpretado como falta de seriedade. O governo voltou atrás e a escolha acabou sendo adiada.

Neste ano, com as eleições, o processo ficou temporariamente suspenso e Lula decidiu que só bateria o martelo com participação de Dilma Rousseff. A presidente eleita deve se encontrar com Jobim ainda nesta semana para discutir o assunto.

Estima-se que a compra do lote de aviões possa chegar a US$ 10 bilhões [R$ 17 bilhões], custo mais alto que o do trem-bala que ligará Rio a São Paulo, previsto para 2014.

Segundo as últimas negociações, ocorridas em fevereiro, a sueca Saab oferecia o pacote completo, incluindo manutenção por 30 anos, pelo preço de US$ 6 bilhões [R$ 10,1 bilhões]. A proposta da Boeing ficou em US$ 7,7 bilhões [R$ 13 bilhões]. O preço mais salgado era o da Dassault: US$ 10,2 bilhões [R$ 17,2 bilhões].

Ainda neste domingo (5), o R7 entrou em contato com a assessoria de imprensa da FAB para confirmar o teor das declarações citadas. Por telefone, a reportagem foi informada que ainda não havia uma posição oficial da Aeronáutica sobre o assunto. Foi ainda enviado e-mail pedindo confirmação, mas não houve retorno até o fechamento desta reportagem.

Fonte: R7


A compra de novos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) e a indicação de um novo ministro para o Supremo Tribunal Federal (STF) serão decisões que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, deixará para sua sucessora, a presidenta eleita, Dilma Rousseff.

Em entrevista gravada ontem à tarde na TV Brasil, Lula disse que a decisão sobre a compra dos caças franceses Rafale ainda depende de parecer do Conselho Nacional de Defesa. “É uma dívida muito grande, é uma dívida de longo prazo para o Brasil. Eu poderia assinar e fazer um acordo com a França, mas não vou fazer”, afirmou Lula.



Ontem, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, passou quase três horas reunido com Dilma, na Granja do Torto, em Brasília. Há informações de que o encontro foi para formalizar a Jobim o convite para que ele permaneça no cargo e inicie o reaparelhamento das Forças Armadas, começando pela aquisição de novos caças da FAB.

Na entrevista à TV Brasil, Lula disse também que fará o que puder para facilitar o primeiro ano do governo Dilma, mas que está ouvindo a presidenta eleita sobre assuntos que dizem respeito aos dois mandatos. Segundo Lula, a indicação de um novo ministro que ocupe a vaga deixada por Eros Grau à frente do STF deve ficar para Dilma.

O presidente disse que preferiu esperar o fim das eleições para conversar com Dilma sobre a indicação. Para Lula, “não há muita pressa” em decidir o nome, porque o tribunal entrará em recesso nos próximos dias e só voltará aos trabalhos em fevereiro de 2011.

Fonte: O Dia