Até agora, a maior vítima da acção concertada do que parece ser um grande grupo de hackers activistas foi a MasterCard, que teve ontem o site em baixo devido à acção dos apoiantes da WikiLeaks. A empresa reconheceu que o seu site não estava funcional, mas garantiu que o processamento de pagamentos não foi afectado.

Outro alvo da "Operação Vingança" foi o site de pagamentos online PayPal, que ficou com o blogue inactivado mas com o site a funcionar. Um responsável da empresa provocou polémica ao explicar, numa conferência sobre tecnologia em Paris, porque é que a PayPal suspendeu a conta da WikiLeaks.

"O Departamento de Estado, basicamente o Governo norte-americano, escreveu uma carta dizendo que as actividades da WikiLeaks eram consideradas ilegais", afirmou o vice-presidente para as plataformas e tecnologias emergentes, Osama Bieder. "Em resultado disso, o nosso grupo teve de tomar a decisão de suspender a conta", justificou, invocando ainda a necessidade de "protecção da marca".


O gesto é controverso, porque a WikiLeaks não foi acusada de qualquer crime - só Julian Assange, o seu fundador, está detido por acusações de ofensas sexuais (coerção sexual) a duas mulheres na Suécia. Assange está actualmente detido em Londres.

Entre os alvos dos hackers activistas estavam, aliás, o site do Ministério Público sueco e o site do advogado das duas mulheres. Também sites de críticos de Assange, como o senador norte-americano Joe Lieberman ou Sarah Palin, foram atacados.

A solidariedade cibernética passou assim da proliferação de sites-espelho que permitem a continuação da divulgação dos cerca de 250 mil telegramas diplomáticos confidenciais dos EUA no chamado Cablegate - há actualmente mais de 335 sites-espelho - para ataques às empresas que cortaram serviços à WikiLeaks.

O site "está ainda em linha" e não vai ser derrotado nem por uma acção judicial, nem pela censura das empresas", assegurou um porta-voz da WikiLeaks, o jornalista islandês Kristinn Hrafnsson, num comunicado.

Um grupo de 1500 hackers

O grupo de activistas chamado Anonymous - que não tem líder e funciona com sugestões de quem quer que esteja online no momento, explica a revista Economist - argumenta que as acções contra o site são um precedente perigoso para a liberdade de expressão na Web e ameaçam todos os que tomarem acções contra a WikiLeaks na chamada "Operação Vingança".

O analista de software da empresa finlandesa F-Secure, Mikko Hyponnen, disse à Reuters que o ataque ao site da Mastercard terá sido obra "no mínimo de centenas de pessoas, pode chegar a milhares". O activista Gregg Housh, que pertence ao grupo Anonynous, disse ao New York Times que havia 1500 activistas envolvidos nos ataques.

Entre as empresas que cortaram o serviço à WikiLeaks e que poderão agora estar na mira deste grupo estão a Amazon, Visa, SwissPost Finance. Até o Twitter foi ameaçado - o site de microblogging é acusado de "censurar" a visibilidade das discussões sobre a WikiLeaks, impedindo a palavra de aparecer nas palavras-chave mais discutidas. A empresa nega.

Já no Facebook, a popularidade da WikiLeaks é enorme - a página oficial está em quarto lugar no top da rede social com quase um milhão de fãs e há várias páginas não oficiais. Segundo o diário norte-americano Christian Science Monitor, há apenas uma página anti-WikiLeaks no Facebook com 851 fãs.

Do lado dos defensores da WikiLeaks houve ainda outro protesto: a sociedade islandesa DataCell, uma empresa de serviços informáticos que funciona há cerca de dois meses como "canal" de pagamentos à WikiLeaks, anunciou que vai processar a Visa por bloquear as doações à organização de Assange. "A DataCell, que facilita pagamentos à WikiLeaks, decidiu tomar medidas legais imediatas para voltar a tornar possíveis as doações."

O advogado principal de Julian Assange em Londres, Mark Stephens, veio afirmar que o fundador da WikiLeaks não ordenou quaisquer ataques informáticos. Foi entretanto anunciado que a defesa de Assange vai ficar a cargo de um importante advogado britânico do campo da defesa dos zzireitos Humanos. Geoffrey Robertson esteve envolvido em alguns dos processos mais mediáticos envolvendo liberdade de expressão na Grã-Bretanha, nota a agência AFP.

O seu gabinete, diz o diário australiano The Age, é dos poucos especializados em procedimentos de extradição com países escandinavos. Especula-se que a extradição para a Suécia possa levar a uma posterior extradição para os EUA se Assange for acusado num processo norte-americano por divulgar documentos confidenciais.

Robertson tem no currículo processos para a Amnistia Internacional na África do Sul, Vietname e antiga Checoslováquia, e nos anos 1980 esteve ainda na equipa de defesa no julgamento do ataque do IRA que teve como alvo a então primeira-ministra Margaret Thatcher. O advogado é ainda uma cara conhecida do público já que é apresentador e comentador em programas televisivos sobre direitos humanos - e é ainda autor de vários livros sobre estes temas.

Fonte: Publico. PT