É hora de ter medo. Muito medo. Na Cúpula de Lisboa, na 6ª-feira e no sábado (19-20/11/2010), uma aliança militar gargantuesca, tão altissonante quanto inócua, que se autodescreve como “aliança militar de estados democráticos europeus e EUA”, e que, de fato, é relíquia da Guerra Fria, assentada em seu trono adornado de ogivas atômicas, especula sobre o que se passa no mundo.
Nesse cenário que se pode dizer “freudiano”, o convidado de honra é o presidente dos EUA Barack Obama, que imperialmente preside a reunião dos demais 27 aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), os quais todos repetem reverentes os compromissos e votos a propósito de tudo, do escudo europeu de defesa antimísseis (inserido no escudo global dos EUA), à manutenção de centenas de bombas atômicas norte-americanas armazenadas na Europa e ao armamento turbinado para guerra cibernética (submetido ao Cyber Comando do Pentágono) e do aparato para guerra-relâmpago com navios-patrulha distribuídos em todos os mares do globo, à disseminação de bases militares para cobrir nós estratégicos em todo o Oleodutostão [da Ásia Central].
Em resumo: o cardápio em Lisboa é filé de Pentágono ao molho bernês. Indigestão garantida – e sem dinheiro (por causa dos euros sobrevalorizados) de volta.
“Quanto menos, melhor” não é conosco
Em Lisboa, a OTAN trabalha sobre um novo “Conceito Estratégico” – espécie de carta de intenções que é revista a cada dez anos. É a primeira revisão desde 1999 – e consequentemente é o mapa da mina para esse início de século 21. O secretário-geral da OTAN Anders Fogh Rasmussen tem falado do novo “Conceito Estratégico” como “mais efetivo (porque trata do escudo antimísseis e da ciberdefesa); “mais engajado” (por causa de um enxame de “parceiros” globais); e “mais eficiente (porque se preveem 4.000 demissões na estrutura de comando).
Em http://www.OTAN.int/cps/en/OTANlive/what_is_OTAN.htm – com coro de vozes estridentes made in China – pode-se ver como a OTAN adora por-se em atmosfera de “A Noviça (“hills are alive with the sound of music”) Rebelde”. E em http://www.OTAN.int/cps/en/OTANlive/topics_56626.htm pode-se ver o que “Conceito Estratégico” finge que significa*.
Acrescentem-se os gorjeios de Rasmussen, e chega-se ao que se perdeu na tradução: a OTAN de fato está sendo rebatizada; agora é o Transformer Robocop último tipo. A ONU, coitada, poderá brincar no tanque de areia.
A OTAN, há muito tempo, já saiu da Europa Ocidental; lugar pequeno, provinciano. Já está metida na Ásia Central e do Sul, tanto quanto no Nordeste da África, interligada com o Comando da África (AFRICOM) do Pentágono (só cinco países – Eritreia, Líbia, República Árabe Democrática do Sahrawi, Sudão e Zimbabue – não mantêm laços com o Pentágono). Muito além dos campos de morticínio do Afeganistão, a OTAN vai-se rapidamente convertendo em “base de operações avançadas tamanho monstro” para policiar o Oriente Médio, a África, a Ásia e até o Atlântico Sul, onde o Pentágono já reativou a IV Frota. Dado que o golpe militar de 2009 em Honduras deu certo e o de 2010 no Equador não deu, os brasileiros estão bem espertos, atentos ao que o Pentágono e a OTAN planejam para as Américas do Sul e Central; e não há dúvidas de que não se entregarão sem luta.
Nota-estraga-suspense: Os norte-americanos ainda não suficientemente anestesiados pelo absurdo teatro de porno-scanner e bolinação federal a que se assiste nos aeroportos, e os europeus feridos e empobrecidos pela crise, não deixarão de observar que essa tal de “OTAN mais efetiva, mais engajada e mais eficiente” está sendo espetacularmente derrotada na Ásia Central, nesse preciso momento em que cá conversamos.
Star Wars à moda Gucci
Seja como for, é possível que a Europa, em breve, possa comemorar ferozmente seu escudo antimísseis do tamanho do continente, que protegerá o pessoal, de Ibiza a Innsbruck e de Munique a Monte Carlo, contra ataques daqueles horríveis (além de inexistentes) mísseis iranianos, tanto quando dos ataques dos existentes (ridículos, capengas) e efetivos mísseis Taepodong-2 de Piongueangue. Uma espécie de escudo Star Wars à moda Gucci.
O escudo Gucci será devidamente acompanhado de ogivas Dior – como as 200-350 bombas atômicas dos EUA armazenadas nas bases da OTAN na Bélgica, Holanda, Alemanha, Itália e Turquia (além das 300 bombas atômicas que pertencem à França e das 225 britânicas). De fato, esses são os cinco países que acolhem “bombas residentes” e que lançarão as meninas em qualquer eventualidade, o que converte em piada o Tratado de Não-proliferação Nuclear, o qual, aliás, o Irã assinou. Na última linha, lê-se: a OTAN pode exibir portfólio com 900 armas nucleares na Europa. É como comparar o Real Madrid ou o Bayern de Munich com um time da terceira divisão da Coreia do Norte.
Mês passado, a secretária de Estado Hillary Clinton não quis saber de amassos na sua echarpe Hermes e levantou a bola: “A OTAN deve permanecer como aliança nuclear enquanto houver armas nucleares.” E Rasmussen encheu o pé, direto para o fundo do gol: “o sistema de defesa antimísseis é complemento da contenção nuclear, não seu substituto.”
Alguém tem algo a reclamar de toda essa paranóia nuclear? Não, de fato. Rasmussen acerta ao liberar os boatos sobre “parceiros” da OTAN; é praticamente todo mundo na vizinhança (75 nações, quase 40% da ONU), dos ‘stões’ da Ásia Central, na Parceria pela Paz para os Orientais, na Istanbul Cooperation Initiative; dos “países de contato” no Leste da Ásia/Pacífico Sul à Troop Contributing Nations for International Security Assistance Force no Afeganistão (o que inclui a Mongólia e Tonga). Para não falar do absolutamente importante Conselho OTAN-Rússia (o presidente russo Dmitry Medvedev é o primeiro líder russo a participar de reunião de cúpula da OTAN, em toda a história da instituição). Nem é preciso dizer que todos esses “parceiros” também estão em Lisboa.
A vez da Turquia. Quem chuta?
A OTAN foi criada ante a urgência de defender a Europa Ocidental contra a União Soviética. Mas é perda de tempo esperar que a Cúpula de Lisboa explique o que, diabos, a OTAN faz hoje na Ásia Central e no Afeganistão. Mais seguro insistir em que não passa de enredo de Tom & Jerry a evidência de que a OTAN está hoje ainda muito mais aterrorizada, morta de medo do exército de farrapos dos Talibã, do que antes, quando morria de medo do Exército Vermelho.
Seja como for, o que interessa é que tudo é infinito. Nem só Robert Gates, secretário de Defesa dos EUA, e o general David Petraeus, comandante da coalizão militar no Afeganistão, fazem lobby a favor da Guerra Infinita. O chefe da Defesa britânica, general Sir David Richards acaba de dizer ao Daily Mail que “a OTAN agora tem de planejar-se para a função de, nos próximos 30-40 anos, auxiliar as forças armadas afegãs contra os guerrilheiros.” É a Operação “Liberdade Duradoura” [ing. Enduring Freedom = Guerra do Afeganistão].
Mas o Afeganistão, o atoleiro infinito, é só aperitivo. A OTAN está sendo subrepticiamente vendida à opinião pública mundial como se tivesse pleno direito de implantar o inferno onde bem entenda – e deixará na poeira o Conselho de Segurança da ONU, expandido ou não expandido.
Há precedentes – como no ilegal, máfia-narcotraficante estado do Kosovo, não por acaso incluído hoje no OTANstão.
Pode-se argumentar convincentemente que onde o Pentágono/OTAN “intervieram” – dos Bálcãs ao Afeganistão e ao Iraque – a desgraça alcançou proporções de “Crepúsculo dos Deuses” wagneriano. E daí? Por que se preocupar? O Pentágono já plantou Camp Bondsteel – a maior base militar dos EUA na Europa – exatamente no Kosovo; e também já enterrou preciosas mega-nozes na região do Império das Bases, no Afeganistão e no Iraque.
Os desmancha-prazeres no filme blockbuster “O Bravo Novo Mundo” de Pentágono/OTAN são, sem dúvida, a Rússia, a China, o Irã, a Coreia do Norte e Myanmar. Nenhum deles deixar-se-á intimidar facilmente. A liderança russa é esperta demais para ser facilmente cooptada – apesar do incansável trabalho do Pentágono/OTAN para cercar todas as fronteiras russas com bases de defesa antimísseis.
E a OTAN festeja sua “parceria” com a Rússia. Mas um novo elemento surgiu no jogo, para forçar – ou não – a Rússia e entrar no jogo do escudo de defesa antimísseis (depois de a decisão de afastar-se já estar tomada.) Podemos chamar de “a vez da Turquia”.
O golpe do Pentágono/OTAN, de construir um sistema multi-camadas de defesa antimísseis para “proteger a Europa” contra os inexistentes mísseis nucleares iranianos até conseguiria calar a oposição, se já não tivesse atraído a atenção dos suspeitos de sempre no leste da Europa – Polônia, República Tcheca, Bulgaria e Romênia. O caso da Turquia é muito mais complicado.
Segundo a imprensa turca, Ancara só aceitará algum sistema de defesa antimísseis se o sistema for da OTAN, não dos EUA; se cobrir todos os 27 países da OTAN; e se a OTAN não puser a Turquia na posição inviável de estado-linha-de-frente, como aconteceu durante a Guerra Fria contra a União Soviética.
Mas esse terceiro item das ressalvas turcas é exatamente o que o Pentágono planejou fazer – especialmente agora que o eixo Turquia-Irã-Síria é uma realidade, para não falar da entente cordiale que se desenvolve hoje entre Ancara e Moscou. Pelo sim, pelo não, o ministro do Exterior turco Ahmet Davutoglu já disse bem claramente: “Não queremos nem psicologia nem zona de Guerra Fria à nossa volta.”
Trata-se precisamente de remix da Guerra Fria, e a Turquia corre o risco de ser reduzida a simples peão no jogo deles. Beneficiário do novo Conceito Estratégico da OTAN, o objetivo final do escudo global antimísseis dos EUA – complementado pela guerra cibernética e pela Rede Global de Rápida Intervenção – é cercar o coração da Eurásia e isolar, quem mais seria se não, Rússia, Irã e China. Quando dizem paz, dizem guerra. Bem-vindos à bolha do prazer. Bem-vindos ao OTANstão.
Nesse cenário que se pode dizer “freudiano”, o convidado de honra é o presidente dos EUA Barack Obama, que imperialmente preside a reunião dos demais 27 aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), os quais todos repetem reverentes os compromissos e votos a propósito de tudo, do escudo europeu de defesa antimísseis (inserido no escudo global dos EUA), à manutenção de centenas de bombas atômicas norte-americanas armazenadas na Europa e ao armamento turbinado para guerra cibernética (submetido ao Cyber Comando do Pentágono) e do aparato para guerra-relâmpago com navios-patrulha distribuídos em todos os mares do globo, à disseminação de bases militares para cobrir nós estratégicos em todo o Oleodutostão [da Ásia Central].
Em resumo: o cardápio em Lisboa é filé de Pentágono ao molho bernês. Indigestão garantida – e sem dinheiro (por causa dos euros sobrevalorizados) de volta.
“Quanto menos, melhor” não é conosco
Em Lisboa, a OTAN trabalha sobre um novo “Conceito Estratégico” – espécie de carta de intenções que é revista a cada dez anos. É a primeira revisão desde 1999 – e consequentemente é o mapa da mina para esse início de século 21. O secretário-geral da OTAN Anders Fogh Rasmussen tem falado do novo “Conceito Estratégico” como “mais efetivo (porque trata do escudo antimísseis e da ciberdefesa); “mais engajado” (por causa de um enxame de “parceiros” globais); e “mais eficiente (porque se preveem 4.000 demissões na estrutura de comando).
Acrescentem-se os gorjeios de Rasmussen, e chega-se ao que se perdeu na tradução: a OTAN de fato está sendo rebatizada; agora é o Transformer Robocop último tipo. A ONU, coitada, poderá brincar no tanque de areia.
A OTAN, há muito tempo, já saiu da Europa Ocidental; lugar pequeno, provinciano. Já está metida na Ásia Central e do Sul, tanto quanto no Nordeste da África, interligada com o Comando da África (AFRICOM) do Pentágono (só cinco países – Eritreia, Líbia, República Árabe Democrática do Sahrawi, Sudão e Zimbabue – não mantêm laços com o Pentágono). Muito além dos campos de morticínio do Afeganistão, a OTAN vai-se rapidamente convertendo em “base de operações avançadas tamanho monstro” para policiar o Oriente Médio, a África, a Ásia e até o Atlântico Sul, onde o Pentágono já reativou a IV Frota. Dado que o golpe militar de 2009 em Honduras deu certo e o de 2010 no Equador não deu, os brasileiros estão bem espertos, atentos ao que o Pentágono e a OTAN planejam para as Américas do Sul e Central; e não há dúvidas de que não se entregarão sem luta.
Nota-estraga-suspense: Os norte-americanos ainda não suficientemente anestesiados pelo absurdo teatro de porno-scanner e bolinação federal a que se assiste nos aeroportos, e os europeus feridos e empobrecidos pela crise, não deixarão de observar que essa tal de “OTAN mais efetiva, mais engajada e mais eficiente” está sendo espetacularmente derrotada na Ásia Central, nesse preciso momento em que cá conversamos.
Star Wars à moda Gucci
Seja como for, é possível que a Europa, em breve, possa comemorar ferozmente seu escudo antimísseis do tamanho do continente, que protegerá o pessoal, de Ibiza a Innsbruck e de Munique a Monte Carlo, contra ataques daqueles horríveis (além de inexistentes) mísseis iranianos, tanto quando dos ataques dos existentes (ridículos, capengas) e efetivos mísseis Taepodong-2 de Piongueangue. Uma espécie de escudo Star Wars à moda Gucci.
O escudo Gucci será devidamente acompanhado de ogivas Dior – como as 200-350 bombas atômicas dos EUA armazenadas nas bases da OTAN na Bélgica, Holanda, Alemanha, Itália e Turquia (além das 300 bombas atômicas que pertencem à França e das 225 britânicas). De fato, esses são os cinco países que acolhem “bombas residentes” e que lançarão as meninas em qualquer eventualidade, o que converte em piada o Tratado de Não-proliferação Nuclear, o qual, aliás, o Irã assinou. Na última linha, lê-se: a OTAN pode exibir portfólio com 900 armas nucleares na Europa. É como comparar o Real Madrid ou o Bayern de Munich com um time da terceira divisão da Coreia do Norte.
Mês passado, a secretária de Estado Hillary Clinton não quis saber de amassos na sua echarpe Hermes e levantou a bola: “A OTAN deve permanecer como aliança nuclear enquanto houver armas nucleares.” E Rasmussen encheu o pé, direto para o fundo do gol: “o sistema de defesa antimísseis é complemento da contenção nuclear, não seu substituto.”
Alguém tem algo a reclamar de toda essa paranóia nuclear? Não, de fato. Rasmussen acerta ao liberar os boatos sobre “parceiros” da OTAN; é praticamente todo mundo na vizinhança (75 nações, quase 40% da ONU), dos ‘stões’ da Ásia Central, na Parceria pela Paz para os Orientais, na Istanbul Cooperation Initiative; dos “países de contato” no Leste da Ásia/Pacífico Sul à Troop Contributing Nations for International Security Assistance Force no Afeganistão (o que inclui a Mongólia e Tonga). Para não falar do absolutamente importante Conselho OTAN-Rússia (o presidente russo Dmitry Medvedev é o primeiro líder russo a participar de reunião de cúpula da OTAN, em toda a história da instituição). Nem é preciso dizer que todos esses “parceiros” também estão em Lisboa.
A vez da Turquia. Quem chuta?
A OTAN foi criada ante a urgência de defender a Europa Ocidental contra a União Soviética. Mas é perda de tempo esperar que a Cúpula de Lisboa explique o que, diabos, a OTAN faz hoje na Ásia Central e no Afeganistão. Mais seguro insistir em que não passa de enredo de Tom & Jerry a evidência de que a OTAN está hoje ainda muito mais aterrorizada, morta de medo do exército de farrapos dos Talibã, do que antes, quando morria de medo do Exército Vermelho.
Seja como for, o que interessa é que tudo é infinito. Nem só Robert Gates, secretário de Defesa dos EUA, e o general David Petraeus, comandante da coalizão militar no Afeganistão, fazem lobby a favor da Guerra Infinita. O chefe da Defesa britânica, general Sir David Richards acaba de dizer ao Daily Mail que “a OTAN agora tem de planejar-se para a função de, nos próximos 30-40 anos, auxiliar as forças armadas afegãs contra os guerrilheiros.” É a Operação “Liberdade Duradoura” [ing. Enduring Freedom = Guerra do Afeganistão].
Mas o Afeganistão, o atoleiro infinito, é só aperitivo. A OTAN está sendo subrepticiamente vendida à opinião pública mundial como se tivesse pleno direito de implantar o inferno onde bem entenda – e deixará na poeira o Conselho de Segurança da ONU, expandido ou não expandido.
Há precedentes – como no ilegal, máfia-narcotraficante estado do Kosovo, não por acaso incluído hoje no OTANstão.
Pode-se argumentar convincentemente que onde o Pentágono/OTAN “intervieram” – dos Bálcãs ao Afeganistão e ao Iraque – a desgraça alcançou proporções de “Crepúsculo dos Deuses” wagneriano. E daí? Por que se preocupar? O Pentágono já plantou Camp Bondsteel – a maior base militar dos EUA na Europa – exatamente no Kosovo; e também já enterrou preciosas mega-nozes na região do Império das Bases, no Afeganistão e no Iraque.
Os desmancha-prazeres no filme blockbuster “O Bravo Novo Mundo” de Pentágono/OTAN são, sem dúvida, a Rússia, a China, o Irã, a Coreia do Norte e Myanmar. Nenhum deles deixar-se-á intimidar facilmente. A liderança russa é esperta demais para ser facilmente cooptada – apesar do incansável trabalho do Pentágono/OTAN para cercar todas as fronteiras russas com bases de defesa antimísseis.
E a OTAN festeja sua “parceria” com a Rússia. Mas um novo elemento surgiu no jogo, para forçar – ou não – a Rússia e entrar no jogo do escudo de defesa antimísseis (depois de a decisão de afastar-se já estar tomada.) Podemos chamar de “a vez da Turquia”.
O golpe do Pentágono/OTAN, de construir um sistema multi-camadas de defesa antimísseis para “proteger a Europa” contra os inexistentes mísseis nucleares iranianos até conseguiria calar a oposição, se já não tivesse atraído a atenção dos suspeitos de sempre no leste da Europa – Polônia, República Tcheca, Bulgaria e Romênia. O caso da Turquia é muito mais complicado.
Segundo a imprensa turca, Ancara só aceitará algum sistema de defesa antimísseis se o sistema for da OTAN, não dos EUA; se cobrir todos os 27 países da OTAN; e se a OTAN não puser a Turquia na posição inviável de estado-linha-de-frente, como aconteceu durante a Guerra Fria contra a União Soviética.
Mas esse terceiro item das ressalvas turcas é exatamente o que o Pentágono planejou fazer – especialmente agora que o eixo Turquia-Irã-Síria é uma realidade, para não falar da entente cordiale que se desenvolve hoje entre Ancara e Moscou. Pelo sim, pelo não, o ministro do Exterior turco Ahmet Davutoglu já disse bem claramente: “Não queremos nem psicologia nem zona de Guerra Fria à nossa volta.”
Trata-se precisamente de remix da Guerra Fria, e a Turquia corre o risco de ser reduzida a simples peão no jogo deles. Beneficiário do novo Conceito Estratégico da OTAN, o objetivo final do escudo global antimísseis dos EUA – complementado pela guerra cibernética e pela Rede Global de Rápida Intervenção – é cercar o coração da Eurásia e isolar, quem mais seria se não, Rússia, Irã e China. Quando dizem paz, dizem guerra. Bem-vindos à bolha do prazer. Bem-vindos ao OTANstão.
Fonte: Vi o mundo - Via: Porto Gente
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