Seis anos atrás, a Renault SA partiu para a conquista dos mercados emergentes com um carro barato e enxuto.
Agora, a montadora francesa enfrenta problemas com a venda do modelo em alguns países em desenvolvimento, como a Índia. Mas os carros estão sendo arrebatados por clientes de países ricos em busca de uma economia, derrubando as vendas dos modelos da Renault que geram mais lucro.
Em 2010, mais de um quarto das vendas da Renault foram de modelos baratos sem extras que custam menos de dois terços do preço de um carro regular equivalente.
As vendas de carros de baixo custo da Renault somaram 684.882 unidades em 2010, com cerca da metade vindo de sua marca Dacia — vendida principalmente na Europa — e a outra metade vindo dos modelos de baixo custo da própria Renault em mercados emergentes.
Não era assim que a Renault esperava que as coisas acontecessem.
A Dacia "era voltada para os mercados em desenvolvimento", disse Tim Urquhart, um analista da IHS Global Insight. "A Europa foi uma consequência, mas (acabou) vendendo bem mais do que se esperava."
Assim que começou a produção do modelo Logan, da Dacia, na Romênia, onde a Dacia é sediada, importadores independentes começaram a comprar o carro e a revendê-lo em países ricos da Europa. Um ano depois, a própria Renault vendia o carro nesses países, oferecendo um preço fixo e sem promoções para manter a margem.
Embora os preços mais baixos impliquem um lucro menor em cada carro, Gérard Détourbet, diretor do programa do primeiro carro da Renault, diz que as margens de seus produtos são boas "em porcentual".
E, graças em grande parte a esses modelos, a Renault divulgou um recorde de vendas unitárias de veículos de 2,63 milhões em 2010, depois de quedas provocadas pela crise financeira de 2008. Ela informou na segunda-feira, sem quantificar, que retornou ao lucro no ano passado, depois de ter perdido 3,1 bilhões de euros (US$ 4,2 bilhões) em 2009.
A versão mais básica do Logan de cinco portas custa 7.600 euros (cerca de R$ 17.400) na França, contra 13.900 euros da versão mais básica de cinco portas do Clio, que é praticamente do mesmo tamanho e tem o mesmo motor. No Brasil, o modelo mais barato do Logan sai por R$ 28.990.
Esse bom desempenho é uma notícia bem-vinda num momento em que a Renault enfrenta um caso de acusação de espionagem corporativa em sua divisão de veículos elétricos, que planeja lançar seus primeiros modelos este ano.
Os planos de um carro de baixo custo da Renault saíram do papel em 2004 com a produção do Logan pela Dacia. A Renault tinha comprado uma participação majoritária na montadora em 1999 e boa parte do restante cinco anos depois.
Ao contrário dos modelos regulares da Renault, o Logan tem uma chave manual de ignição, do estilo tradicional, não tem copiloto e oferece menos opções de motores e transmissões. O ar-condicionado é opcional.
A empresa tinha como meta 1 milhão de unidades vendidas do Logan e outros modelos de baixo custo até 2010, com base numa aguardada explosão na demanda de mercados emergentes.
Mas a venda de carros baratos é um delicado ato de equilíbrio para todas as montadoras. Na Índia, o Nano da Tata Motors, de US$ 2.500, virou um fiasco depois que vários carros pegaram fogo e o Nano criou uma imagem de "ordinário" que desinteressou a classe média emergente indiana.
Détourbet diz que os modelos da Renault para o mercado indiano oferecem espaço e recursos de segurança que são similares aos de carros que ela vende em mercados tradicionais, e que eles são percebidos pelos consumidores como "carros de verdade".
Mas a Renault teve seus tropeços: o Logan não conseguiu escapar de ser colocado numa categoria com tributação mais elevada na Índia do que a montadora esperava. E depois alguns problemas com a sócia indiana Mahindra & Mahindra Ltd. resultaram na dissolução de uma joint venture, de modo que agora a empresa indiana fabrica o Logan mediante licenciamento.
A Renault também teve problemas em outros países. As vendas desabaram na Rússia, quando o país afundou numa recessão em 2009, e problemas políticos prejudicaram a produção no Irã.
A empresa atribui o inesperado sucesso da Dacia na Europa a uma mudança de atitude nas pessoas mais jovens, que cada vez mais consideram inteligente gastar menos.
Numa pesquisa recente de grandes mercados europeus feita pela Cetelem, uma empresa de crédito ao consumidor, 59% das pessoas com menos de 30 disseram que estavam "interessadas" ou "muito interessadas" em comprar um carro barato. Entre os consumidores com mais de 50 anos, a fatia foi de 54%.
Depois do Logan, a Dacia lançou em 2008 o hatchback Sandero e em 2009, o Duster, uma caminhonete que é vendida a partir de 11.900 euros.
Numa manhã recente nos arredores de Paris, Nicolas Sablon estava decidindo que carro escolher numa concessionária. Ele queria trocar um Mercedes Classe A por uma caminhonete para ter mais espaço para viagens com a família. Sablon, um gerente de recursos humanos, ia comprar ou um Jeep da Chrysler Group LLC por cerca de 30.000 euros ou um Duster, que custaria 18.000 euros com o motor maior e todos os opcionais. Sablon acabou comprando o carro da Dacia.
Um dos acionistas da Renault não está totalmente satisfeito com a estratégia da montadora para os carros de baixo custo.
O governo francês, que detém uma participação de 15% na Renault, teme que isso sinalize uma migração da produção da empresa da França para outros países.
Os altos salários e descontos em folha do país fazem com que fabricar um carro lá custe 1.000 euros a mais do que na Romênia, e atualmente só 25% da produção mundial da Renault está na França.
Em janeiro de 2010, o presidente Nicolas Sarkozy convocou os dirigentes da Renault, entre eles o diretor-presidente, Carlos Ghosn, para pedir que não transferissem toda a produção do Clio para fora da França.
A empresa informou que vai atender. Ontem, ela anunciou planos de investir 5,7 bilhões de euros em suas fábricas até 2013, sendo que 40% disso será na França, o coração no plano da empresa de ser líder em veículos elétricos.
Isso apesar de a montadora prever um "declínio duradouro"no mercado europeu, com o crescimento vindo principalmente de mercados como Brasil, Rússia, Índia e China.
Fonte: Online
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Sou fã na Renault pela qualidade dos veículos, além, claro, do fato de que, no Brasil, são produzidos no Paraná.